segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Tá na Rua no Festival do Acre!!



17 e 18/09/2008
Chegamos no Acre, capital Rio Branco, ainda no ônibus vimos um outdoor que dizia acontecer na cidade um Festival de Teatro, que maravilha, chegamos no hotel, despachamos a bagagem e nos encaminhamos para o teatro.
Lá fomos muito bem recebidos, todos ficaram felizes do TNR estar na cidade, não imaginavam que apareceríamos. A Brigitte Bentolilla e a Suely Rodrigues (que trouxe o TNR para o Acre em 2002) ficaram extremamente alegres, mandaram mil beijos para o Amir. Conversamos com o Lenine coordenador do Festival – Fetac em Cena (Lenine mandou abraços para o Licko), e acertamos de nos apresentar no Festival no dia seguinte, eles nos dariam a estrutura de transporte, água e ponto de luz. Falamos também com o Écio, coordenador do curso de artes cênicas na Universidade Federal do Acre e combinamos de no dia da programação da UNE fazermos uma oficina com os alunos e mais qualquer interessado. Melhor impossível!!!
Assistimos ao espetáculo da noite que se chamava O ensaio surreal do grito sufocado, realizado por um grupo de Xapuri, terra de Chico Mendes, o espetáculo foi criado em uma delegacia desativada, e trata da vida de Chico Mendes. Adaptada para o palco creio ter perdido muito, as cenas isoladas, não davam conta do espetáculo. O mais interessante é que depois de cada espetáculo tem um debate, e o público participa efetivamente, são muitas opiniões, o povo faz suas críticas, diz que não entendeu, que podia ser melhor nisso ou naquilo, que não tinha sentido, é maravilhoso, por mais absurdas que sejam certas colocações ninguém vai para casa com a cabeça cheia, todos emitem suas opiniões de maneira democrática, por vezes tumultuada, mas certamente é um momento de crescimento fantástico para cada um e para o coletivo.
No dia seguinte, 18/09 estávamos animadíssimos e ao mesmo tempo cheio de dúvidas, sabíamos que possuíamos um repertório extenso, mas não sabíamos como costurar a narração. Ainda mais considerando a espectativa do público de ver o TNR. Primeiro pensamos em desenvolver uma narrativa que vem dando certo que é sobre o Amor, na qual costuramos falando sobre o amor, o homem e a mulher, apresentamos os números da Dra. Paixão (criada pela Fernanda juntamente com o coletivo), do Ébrio ou do Campônio, Portuguesas, Abre essas Pernas, e Carinhoso. Mas depois achamos que era melhor darmos uma aula aberta, que a costura fosse o conhecimento de cada um e de todos sobre o TNR, então seria possível entrar não só o roteiro do Amor mas também as piadas e outras narrativas que estamos trabalhando. Isso nos aliviou!!!
Fomos para a praça do Mercado Velho, lindo, à Beira do Rio Acre, escolhemos o melhor local para posicionar nosso equipamento e colocamos as bolsas no centro da roda. A montagem do som atrasou por conta da produção do Festival, algo compreensível, considerando que nosso espetáculo foi um encaixe numa programação já fechada. Quando o público chegou (muitos vieram do espetáculo anterior que aconteceu no teatro do SESC), o Pimpolho ainda estava passando o som e estava tocando umas músicas pop americana, eu a Fernanda e a Lu fizemos uns três números com essas músicas e o público local foi se chegando e logo nossa roda estava formosa para iniciar o que já havia se iniciado!!! Fomos abrindo as malas, apresentando e espalhando nosso material e instalando a bolha do teatro.
O Pimpolho ia nos apresentando e dizendo que faríamos alguns números do Tá na Rua, que não tinha nada marcado, ninguém tinha personagem e que as histórias aconteceriam ali naquele local, naquele momento. Iniciamos com o Coração Materno, depois fizemos as Portuguesas, contamos a piada do Coelho, apresentamos o Abre essas pernas, estas duas últimas deixaram algumas poucas pessoas perturbadas, quer pela questão das drogas quer pela questão do sexo, mas a maioria reagiu bem, eles não acreditavam no que estávamos fazendo, acho que ficaram impressionados com liberdade que trabalhávamos. Fizemos um pré encerramento com o hino brasileiro - O Carinhoso -, neste momento todos entraram na roda para dançar e então se iniciou a segunda parte do espetáculo, finalizamos o Carinhoso com todos juntos no centro da praça abraçados (que emoção!!).
Em seguida soltamos o Samba enredo do Amir e TNR, e a praça virou um grande salão de baile a céu aberto, com direito a uma lua maravilhosa, e os acrianos mostraram que entendem da coisa, eles pediram Ciranda para o Pimpolho mas antes, soltamos um Funk (um pedaço da música - Cada um no seu quadrado), a praça inteira dançando, era uma energia só, em seguida entrou o Cirandeiro e foi montada a grande ciranda, a praça pulsava no centro da cidade e para encerrar só mesmo o Rei com Emoções.
Muitos vieram falar conosco que gostaram muito, um disse que nunca tinham pensado em dançar na praça que era maravilhoso, outro queria saber como fazíamos para amarrar nossos espetáculos, outro disse que éramos atores com muita presença, acho que confundimos a cabeça deles com nossas maneira livre, sem grades regras e técnicas de nos apresentarmos. E se isso os atraiu, só saberemos amanhã, pela frequência na oficina, tendo em vista que não houve tempo para o debate considerando que o outro espetáculo iniciaria em seguida.
Depois do jantar eu e o Aldo fomos para o SESC, lá, algumas pessoas vieram nos parabenizar. Não deu tempo de ver o espetáculo mas pegamos o debate. Que mais uma vez foi maravilhoso, a peça que foi apresentada chamava A Barca, baseada no Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, e o grupo era um grupo evangélico da igreja batista. A discussão foi fervorosa, o púbico questionava porque eles mandavam o personagem do palhaço para o inferno (tinha muitos artistas palhaços na platéia que ficaram putos), o grupo justificava dizendo que por trás do palhaço havia um homem mal que batia na mulher, mas o público dizia que isso não aparecia, que por ele estar vestido de palhaço era o artista que ia para o inferno, outro sugeriu que no local do palhaço mandassem o papai noel para o inferno!!! Criticaram o fato de ter troncos de árvore no cenário que isso estimulava o desmatamento!! Questionaram que no final a única mulher que era salva estava impecavelmente vestida ostentando riqueza e vaidade, se isso era coisa da igreja?!!! Tiveram alguns que disseram que um grupo de igreja não deveria participar de um Festival como este!! Várias questões e discussões calorosas marcaram o debate, que mais uma vez creio ter contribuído para o crescimento de todos.
Antes de finalizar os escritos de hoje, gostaria de dizer que em conversa com alguns moradores de Rio Branco, nos foi informado que o herói Chico Mendes, na verdade não era tão herói assim, algumas pessoas têm aversão, dizem que muitas das nossas riquezas foram entregues por ele aos estrangeiros. Eu tinha comprado uma camiseta dele, e por via das dúvidas acabei trocando por uma do Acre.
Por fim, outro episódio que ficamos sabendo foi que algumas pessoas aqui não gostam do Tá na Rua. Disseram que quando o Grupo veio em 2002, o governador tinha sido caçado e o movimento teatral e parte da população estava contente, pois o governador possuía má índole e o ideal era que ele de fato saísse. Pois bem, nos disseram que o TNR fez uma intervenção à favor do governador, e sendo um grupo de fora, do RJ, tinha muita visibilidade. Outrossim, tenho certeza de que quem nos viu pode mudar esse posicionamento, principalmente aqueles que conversaram conosco. Mais um evento que nos faz pensar qual é a postura que devemos tomar diante de determinadas questões (políticas, religiosas,...), é verdade que nunca se pode agradar a todos (e nem é essa a pretensão), e em certas situações realmente não podemos ser omissos, assim creio que devemos estar sempre bem informados, atentos e ter cuidado com estas questões. Creio que este cuidado tem norteado nossa participação na Caravana.
Aguardamos muito felizes o dia de amanhã, para quem sabe fechar com chave de ouro nossa estada nessa maravilhosa cidade de Rio Branco, estado do Acre!!!
Ana Cândida

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