quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O circo etério passou por Tocantins!!! Palmas!!!






19.11.2008
Nossa estada em Salvador teve de ser prorrogada pois o Ministério não liberou a verba da terceira parcela da Caravana, o que aconteceu foi que na quarta-feira, dia 12/11, nós sairíamos de Salvador rumo a Palmas, mas a empresa dona do ônibus deu ordem aos motoristas que a Caravana só iria seguir se fosse depositado na sua conta o valor faltante.
Ficamos parados, foi um inferno, nossas malas todas no ônibus para sair e nós na recepção do hotel sem saber o que iria acontecer. Sabemos como é burocrática a liberação de qualquer verba e que a coisa não se resolveria do dia para noite. No fim do dia renovaram nossa hospedagem no hotel, as negociações com o Ministério foram intensificadas, fato é que a Une devia ter feito isso à muito tempo, eles foram negligentes e confiaram no poder público.
Resultado, ficamos em Salvador até segunda-feira, dia 17/11, quando então a Une conseguiu por outros meios o valor da empresa de ônibus. O dinheiro do Ministério ainda não saiu!!! Durante este período tivemos que negociar várias vezes, queriam nos encaminhar para um albergue e até para um alojamento, sem frescuras, mas nessa altura do campeonato, mais de três meses fora de casa, em ritmo frenético de viagens e trabalhos, o mínimo de conforto é necessário, até mesmo porque não sabíamos o tempo que iria durar esta espera. Por fim ficou tudo certo e permanecemos no hotel que estávamos até a resolução da questão.
Assim, dia 17/11 depois do almoço, partimos para a longa viagem até Palmas, Tocantins, foram 22 horas. Na madrugada, em certo momento na BR tinha um trevo sem placa alguma, o motorista seguiu reto e logo entramos em uma estrada de terra deserta e cheia de pedras, não podia ser ali, o ônibus teve que ser manobrado para então pegarmos a direção certa no trevo, confesso que fiquei meio assustada!!!
Chegamos em Palmas dia 18/11, um calor de 36º graus, fizemos o reconhecimento do espaço e no dia seguinte pela manhã fizemos nossa primeira atividade, um grande cortejo pelos corredores, como vocês sabem estamos sem o Pimpolho, que faz uma falta danada no surdo, em Salvador a tentativa do Aldo de tocar foi desastrosa e já estávamos pensando em fazer o cortejo sem instrumentos, fato é que estamos cercados de músicos na Caravana, como não havíamos pesado nisso antes?!! Nosso querido produtor do documentário, Tiagão, com seus 2 metros de altura, deixou a timidez de lado, pendurou um pano na cabeça e conduziu o surdo com excelência acompanhando nossa desafinada mais charmosa cantoria (perdeu Pimpolho!!!).
Importante contar que antes de sair o cortejo, na frente da tenda da Une havia uma enorme área de terra e pedras (quase um campo de futebol), estava tocando uma música meio psicodélica e a Ju foi para o centro deste campo dançar, o Herculano e a Fe, foram em seguida!!! Era uma coisa meio Hair, se é que me entendem, a galera começou a parar para ver, o Aldo começou a narrar uma história do espaço de planetas, e então eu e o Chico entramos com uns panos, a história foi se desenvolvendo, começamos a tirar as roupas, jogamos os sapatos para cima, (as roupas coloridas naquele campo enorme de terra vermelha eram lindas!!) e começamos a correr, só que o chão tava cheio de pedrinhas e doía pra cacete, teatralmente tivemos que recolocar os sapatos, nos formamos em roda fomos apresentados como super verduras e depois corremos o campo todo e sumimos por trás de um prédio...foi uma viagem total, mas um momento de liberdade e prazer que fazia tempo não provávamos, estávamos soltos, sem compromisso com nada, só com nossa diversão, é tão bom fazer isso...
Na hora do almoço fomos fazer nossa clássica intervenção na lanchonete, quem nos deu a honra da companhia no cortejo tocando o surdo, foi nosso querido produtor Guilherme, que com uma cartola e uma saia de fitas, nos acompanhou com alegria, antes de sairmos da tenda fizemos uma chamada ao vivo para a Globo local, e saímos em cortejo para a lanchonete (vimos na TV que passaram as imagens da maluquice que fizemos pela manhã no campão!!!) lá chegando as pessoas pareciam que não estavam para muitos amigo, abrimos a roda e cumprimentamos a galera, aos poucos eles foram se soltando, perguntamos se queriam que contássemos uma história e disseram que sim, então o Aldo narrou a Regadeira, foi divertidíssimo, todos acompanharam e riram muito. Antes de nos despedirmos contamos ao público que era aniversário da nossa querida amiga Fernanda, e juntos cantamos parabéns.
Nossa última intervenção do dia foi no fim da tarde na lanchonete, assim que acabou o filme da Une que estava também sendo projetado na lanchonete iniciamos os trabalhos, havia bastante gente e algumas crianças que foram especialmente nos ver. Tínhamos definido fazer a apresentação dos atores o Campônio e o Inferno Nacional com a participação dos circenses.
O Aldo estava inspirado, o Chico no som também, ele só deu um mega deslise na minha apresentação, quando o Aldo narrava que eu era uma atleta que depois virei advogada e fui para o Rio, entrou a música Morena da Angola, nada haver, tentamos improvisar mas tava difícil, o Chico foi quem conseguiu se virar no som e soltou outra música que possibilitou seguir a história, foi muito engraçado. A apresentação da Ju estava sendo o máximo quando de repente a música e a luz pifaram, que merda, foi um balde de água fria, o espetáculo caminhava como nunca, estávamos muito entusiasmados!!!
Todos tentamos seguir, acreditando que o problema seria resolvido rapidamente, a questão principal não era o som, pois podíamos perfeitamente contar nossas histórias sem ele, mas a luz, esta sim fazia falta, fazer teatro no escuro não dá!! Enrolamos o quanto pudemos, e depois falamos ao público que iríamos aguardar a volta da luz para continuar (engraçado que alguns vieram falar conosco que acharam que aquilo fazia parte do espetáculo). O pessoal da produção mexeu nos fios e o que conseguiram foi ligar somente a luz, decidimos então, tendo em vista que o público estava todo ali aguardando, contarmos o Inferno Nacional sem som.
E assim, foi, pedi aplausos calorosos do público pela volta da luz e para aquecer nossos afetos e a história foi narrada, o público participou ativamente e nos ajudou a contar. Foi muito bom, tenho certeza que o longo tempo trabalho nos deixou mais afinados e capazes de vencer obstáculos como esse. Os circenses fizeram sua participação, entraram com malabares de fogo no Inferno e ao encerrarmos nossa história apresentaram seus números. O público ainda cantou um parabéns para a Fernanda que ficou muito feliz!!! (nesse dia ainda fizemos uma festinha surpresa para ela com direito a brigadeiro e balão!!!)
O público gostou muito do que viu, muitas pessoas vieram nos parabenizar, tenho certeza que se o som não falhasse faríamos uma apresentação primorosa, mas creio que a queda de energia não apagou nossa luz, e fomos capazes de fazer um lindo espetáculo e trocar muito com o público, a bolha ali se formou...
Ana Cândida

O surdo fez falta mas os amigos ajudaram!!!!




11/11/2008
Depois da nossa intensa atividade na Federal de Salvador, faríamos na UCSAL (Universidade Católica do Salvador), um fato importante, o Pimpolho foi embora no domingo (9/11) e só retornará em Brasília para a teia, perdemos uma pessoa muito importante, como ator, narrador e principalmente como nosso ogam, resumindo, a música foi embora (o Pimpolho quem toca o surdo e opera as carrapetas!!!).
No dia 10 pela manhã verificamos que nossa caixa de guerra tinha desaparecido do hotel (havia ficado em uma salinha com outras bagagens), mais um sintoma de que o som queria ir embora...Para aliviar a nossa “dor” encontramos no ônibus fantasias que tínhamos dado como perdidas, vão se as notas mas chega o colorido, ainda bem!!!
Fomos para a Universidade dia 11 fazer nosso primeira atividade do dia, um cortejo pelos corredores, para fortalecer o coletivo contamos com as participações especiais de Fernanda Machado e Patrícia, o Aldo tentou tocar o surdo mas foi desastroso, cantamos o melhor que pudemos, mas ficou longe de ser bom. Aí como sinto falta de termos aula de canto e percussão!!! Quando faltam as duas coisas fica difícil, o fato de não cantarmos bem no Tá na Rua é encoberto pelo som mecânico ou pelo som do surdo e caixa que Alessandro, Pimpolho e Luciana tocam bem, quando não estão e não temos o recurso do som mecânico percebemos a grande defasagem da nossa voz.
Não que tenhamos que cantar todos afinados como um coral, mas um mínimo realmente faz falta!!! Pois bem, fomos literalmente na raça conduzindo a cantoria do cortejo, abrimos uma roda falamos a programação (até que juntou muita gente) e finalizamos.
O dia parecia que seria complicado, mas ao meio dia, na frente da tenda da Une a Fernanda Machado e o Herculano começaram a dançar e isso contagiou a todos e quando vimos nossa roda estava formada, o Aldo e o Guilherme (nosso produtor na Caravana) conduzirão o som da forma que puderam (não havíamos separado nenhum material para oficina ou apresentação para a intervenção do meio dia).
Roda formada, muitos alunos tinham acabado de sair do auditório onde rolou o filme do Michel Moore, SOS Saúde, então aproveitei o ensejo para contar a nossa história do plano de saúdo, dois alunos fizeram os pacientes, foi muito bom, em seguida a Fernanda Machado narrou uma história que envolvia mulher, marido e amante, e por fim o Aldo narrou As aparências enganam. Finalizamos à tarde felizes!!!
À noite o Chico foi conosco para operar o som, combinamos de fazer o Campônio, as duas Portuguesas e o Aldo e a Fernanda fazerem Gabriela. Ocorre que a Fe não conseguiu ir, então trocamos o número da Gabriela pelo Abre essas pernas (que eu fiz com o Aldo ele de mulher e eu de homem! Foi hilário – os estudantes adoram ver homem vestido de mulher!!!). Trocamos todos os personagens que normalmente estávamos fazendo e o resultado foi muito positivo, além de nos divertimos, cada um contribuiu com coisas novas o que engrandeceram e renovaram as narrativas.
Uma grande roda se formou para nos assistir e os números foram muito aplaudidos, ficamos todos bem, tão bem que saímos da Universidade direto para comer um acarajé da Regina e beber uma cerveja (eu, claro, bebi minha caipvodka!!), fazia tempo que não saíamos todos juntos depois de uma atividade (estamos sempre cansados e vamos direto para o hotel!!).
Foi ótimo Salvador, até logo, espero que o Tá na Rua esteja aqui na Bienal da Une no ano que vem!!!
Ana Cândida

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salve Salvador!!!






7/11/2008
Salvador, chagamos à Bahia no dia 6/11 depois de uma viagem noturna vindo de Aracajú, semana puxada, 3 estados em uma semana, UFA!!!
No mesmo dia, pela manhã, fomos (praticamente sem dormir) para a UFBA (Universidade Federal da Bahia) fazer a pré-produção, achávamos fundamental fechar uma oficina com o pessoal de artes cênicas. O diretor da escola de teatro é o Daniel Vaz, carioca que conhece bem o trabalho do Amir, isso facilitou nossa entrada, ele nos recebeu muito bem, disse que os cursos estão em fase final (apresentação de espetáculos e seminário de conclusão) que seria difícil conseguir a despensa dos alunos mas que iríamos tentar. No período da manhã existem 3 turmas de 20 alunos de Interpretação (conseguimos falar com uma turma) e à tarde têm 3 turmas de Licenciatura de 25 alunos, por este motivo retornamos a Universidade a tarde para falar com os alunos e negociar com os professores. Fizemos o convite, em uma das salas quando entramos estavam passando um slide que entre outros grupos falava do Tá na Rua, muita coincidência!!!, mas ficamos sem saber se seriam dispensados pois os professores do dia seguinte não estavam lá. Vamos fazer de qualquer jeito alguém há de aparecer!!
Outra negociação foi o espaço, o Daniel nos ofereceu uma sala, mas que achamos pequena e escura, o ideal seria o jardim, mas ele disse que os alunos teriam aula de teoria e o barulho poderia atrapalhar. Para entrar num acordo sugerimos o estacionamento que ficava mais afastado das salas de aula, não era tão belo como o jardim mas era um bom espaço.
Neste dia reencontramos nossos queridos Disnael e Fernanda Machado que trouxeram uma energia nova e maravilhosa para todos!!!
Dia 7, dia de atividade, acordamos cedo (7:30h) e fomos para a universidade no Campus do PAC (não é o programa do governo!!) onde estava montada a tenda da Une e teria parte da programação da Caravana. Lá faríamos uma apresentação às 9:00 horas. Ocorre que o local estava vazio, e seria um desgaste desnecessário realizar a atividade ali. A Universidade estava mobilizada em um dos prédios onde ocorria a apuração das eleições do DCE, três chapas concorreram, a que estava ganhando era à favor da Une mas da oposição à gestão atual. Como alternativa tínhamos fazer um cortejo pelos corredores e prédios onde havia uma grande concentração de gente em virtude do horário de intervalo e a apuração.
E o Cortejo feito foi ótimo, passamos por dois prédios abrimos duas grandes rodas, falamos a programação. A recepção dos alunos foi a melhor possível, eles dançaram e cantaram conosco. Estávamos meio ressabiados de ir até o local da apuração por estarmos na Caravana da Une, mas foi super tranquilo, afinal somos o teatro e não a Une ou qualquer ente político, os alunos entendem isso, em todas as universidades que houveram manifestações contra a Une nosso trabalho foi respeitado, eles até falavam mal às vezes antes de ver (por que a Une estava levando palhaço para Universidade?), mas depois que nos apresentávamos ficava tudo artisticamente explicado e eles compreendiam ou tinham que engolir.
A Fernanda Machado fez conosco, foi muito bom ter a alegria dela. E mais, a Liana, que havia encontrado o Disna no aeroporto e sabendo que faríamos atividades na Universidade não resistiu e deu uma escapada do evento que estava para brincar conosco.
Cumprida a primeira etapa fomos almoçar e em seguida nos dirigimos para o Campus de artes cênicas. Lá não teve jeito, invadimos o jardim e montamos o equipamento, ali seria o local da oficina. Quando o Daniel chegou nosso circo já estava armado e ele não se opôs, sabia que seria importante para os alunos entrarem em contato com o teatro de rua.
Os alunos foram chegando, uma turma foi dispensada, abrimos a roda falando o mínimo possível: Tem música, roupas e pessoas, dancem, brinquem e se divirtam!! E assim foi, é sempre difícil desmontar os grupinhos e tirar algumas pessoas do “espaço psicótico”, encarnam um personagem e ficam presas sem entrar em contato com o mundo ao seu redor. Aos poucos fomos abrindo os espaços, as rodas apareceram, os trenzinhos, os coletivos, os cortejos, em alguns momentos fizemos algumas revoadas pelos jardins e estacionamento
Os funcionários pareciam não acreditar no que estava acontecendo, estavam maravilhados, um deles disse que nunca tinha visto aquilo na Universidade, muitos transeuntes entraram na Universidade para ver o que estava acontecendo, alunos (uns 20) de um colégio que ficava do outro lado da rua entraram, ficaram observando, a mulherada foi pra cima deles que ficaram meio acoados mas logo estraram na roda e dançaram conosco.
Um dos momentos mais lindos da oficina foi quando após o Herculano retirar a máscara e soltar o cabelo de uma das alunas, ela foi suspensa por dois garotos e atrás formou-se um enorme cortejo, ela gritava liberdade, revolução!!! Depois na avaliação fomos saber o quanto isso era significante para aquele coletivo.
Fizemos 1 hora e meia de oficina e ao encerrar formamos nossa roda de avaliação, os alunos olhavam desconfiados querendo racionalizar e entender para o que servia a oficina, quando começava o teatro, qual era a técnica a metodologia, alguns falaram que dava para se soltar, entrar em contato com o outro, fazer cenas, alguns atores foram fazer a oficina de personagem (vestidos e maquiados) isso os prendeu e na avaliação comentaram sobre isso.
Falamos que aquele era nosso treinamento que com o passar do tempo as regras iam surgindo naturalmente, o jogo ia ficando mais afinado, a troca aumentava, que nem sempre nossa idéia prevalece, que temos que abrir mão do que estamos fazendo para entrar em contato com o outro. Na rua estamos sujeitos a todo tipo de interferência daí estarmos preparados para reagir ao estímulo externo, abandonar o nosso para fazer o do outro. Falamos sobre a dramaturgia aberta na qual a intervenção é bem vinda.
Eles queriam saber o que era teatro de rua, a isso recebemos a generosa resposta da Tainá, do grupo Filhos da Rua aqui de Salvador, ela ficou sabendo que o Tá na Rua estaria na Universidade e foi até lá, disse que tinha anos que não pisava na academia e que o Tá na Rua a conduziu novamente àquele espaço, disse aos alunos que era um privilégio para eles ter uma oficina com o Tá na Rua, falou sobre o Amir e outros grupos referências do teatro de rua, sobre o que é entrar em contato com o público na rua, contou histórias de interferências de populares, problemas com a polícia, mas sobre tudo da paixão que é fazer este teatro.
Os alunos falaram que não tinham aulas sobre o teatro de rua, e que nunca tinham tido uma oficina como essa, uma aluna disse que não tinha liberdade dentro da universidade que era tudo muito careta, que estava perdendo a alegria de fazer teatro e que pensava em trancar a faculdade, outras duas se manifestaram no mesmo sentido. Foi muito importante promover o encontro da academia com um grupo como o Filhos da Rua, deixamos uma orientação/alternativa para os universitários que disseram que iam procurar a Taina. Deixamos o livro e o DVD do Tá na Rua com o Daniel à disposição dos alunos.
A Taina falou sobre a importância que era tocar uma pessoa que fosse da universidade para o teatro de rua, que achava que iria encontrar menos pessoas fazendo oficina. Tenho certeza que mexemos com a cabeça de algumas pessoas e certamente com as nossas também, foi um aprendizado escutar a Taina e os alunos falando, tudo reafirma a importância deste contato próximo que a oficina proporciona.
Entendemos que este é um dos papéis do Tá na Rua nesta Caravana da Une, fazer desaparecer ainda que momentaneamente os muros da Universidade que separam a academia do popular. Separam o brasileiro do brasileiro!!!
Foi tão forte para mim a passagem pelo Pelourinho, até então apreciamos diversas obras da natureza (rios, florestas, mares, animais, solos), só que agora em Salvador vemos além da natureza a obra do homem, a arquitetura e o povo traduzem grande parte da história do nosso país, que são também nossas raízes, fiquei emocionada, de repente meu corpo se encheu de uma força e me deu orgulho de ser brasileiro!!!
Ana Cândida

domingo, 23 de novembro de 2008

O MISTÉRIO DO AMOR É MUITO MAIOR QUE O MISTÉRIO DA MORTE

Goiânia - GO
21 de novembro de 2008

Depois de tanto tempo, tantas barreiras, chegamos em Goiânia.

Ainda não o ÚLTIMO estado, mas o PENÚLTIMO.

Por causa das tais barreiras, Pimpolho das kandongas se encontrava no Rio de Janeiro, Ana Cândida por compromissos de força maior partiu para o Rio de Janeiro, Alexandre Santinni só irá nos encontrar no gran finale em Brasília, vindo do Rio de Janeiro e Francisco Couto estava sendo atendido pelo SUS em Goiânia, ou seja, impossibilitado de sair de qualquer fila durante toda a tarde…

Na atividade de Goiânia trabalhamos: Aldo Perrota, Fernanda Paixão, Herculano Dias e Juliana Alves de Souza.

Nossa companheira Ana Cândida nos acompanhou até a hora do reconhecimento do espaço, depois partiu deixando apenas UM LINDO CELULAR, esquecido no banheiro de seu amante Aldo Perrota (o galã mais procurado do Brasil, segundo ele mesmo).

No reconhecimento, os produtores da Caravana descobriram que iria ter vestibular na segunda- feira, dia de nossa atividade (por conta de atraso da Caravana chegamos em Goiânia no dia errado, ou certo? Vai saber…). Nossos produtores deixaram de lado o programado e resolveram fazer a atividade na sexta-feira mesmo.

O Tá Na Rua se apresentou no fim da tarde. A apresentação foi mágica, o pôr do sol nos recebeu…

Combinamos de fazer poucas coisas, mas o tema era o AMOR.

Esse sentimento anda sendo nosso companheiro fiel nesta Caravana. Acho que ou entramos em contato com ele ou morremos, em um projeto desse essa é a única saída…
A galera da caravana estava com uma trilha musical arretada e o Tá Na Rua não perdeu tempo. O espetáculo começou com os Ogans divinos encorpados na produção. EVOÉ.

O Manuel produtor começou a se vestir, eu e Ju fomos ajudando e ele foi aceitando, pedindo mais e a gente foi cambonando. Quando vimos estava um lindo Palhação, com uma buzina na mão… era o CHACRINHA!

Pronto, o circo estava armado. Atores aquecidos, produtor enfeitiçado. Chiquinha Gonzaga abre alas, Rosa de ouro é quem vai ganhar. Trouxa, atores e convidado dançam em circulo iniciando uma nova fase do ritual, do circulo abrimos as alas para cortejo e bandeiras. FELLINI chega para baixar a alta tensão e abrirmos a trouxa calmamente.

Nosso narrador inicia a história de um Amor Materno, Vicente Celestino canta a mais terrível história de amor e morte.

Eu fiz a mulher do Campônio pela segunda vez. A primeira mulher que se manifestou em mim, foi uma menina faceira, nem era mulher. Foi bonito, mas o chico comentou sobre a mulher que se manifestava em LUCY MAFRA quando tocava esta música, era uma MULHER sarcástica, fatal.

Eu acredito que as duas possibilidades são interessantes, a Ana também faz mais menina, mas quando vi, neste dia, a flor branca que enfeitava o chapéu de palha estava sendo substiuída por uma vermelha, o sutiã vermelho que vestia por baixo de uma blusa branca exalava paixão de mulher.

Durante a cena estava tudo diferente, eu estava diferente. Na hora que a amada dizia a brincar que o Campônio trouxesse o coração da Mãe, avistei um lindo pano vermelho que se enrolou imediatamente no pescoço do Campônio, desesperado ele tira o pano do pescoço e me entrega e eu rio a receber aquele coração forjado, porém, não satisfeito, o homem sai correndo até a choupana atrás da maezinha.

Inicia –se a tragédia.

A mãe morta. O coração caído, o homem derrotado, mesmo assim uma voz ecoou, era a maezinha e sua acolheita incondicional. Nesta hora eu eu entrei de Santa, mas não fiquei satisfeita. Entrei tímida, o sentimento da mulher veio forte dentro de mim naquela hora, acho que a minha vontade era estar com um pano preto caída no chão diante daquele acolhimento. Uma mistura de arrependimento com o fracasso.

O MISTÉRIO DO AMOR É MUITO MAIOR DO QUE O MISTÉRIO DA MORTE.
Já dizia Salomé.

Herculano estava mais poético que nunca.

Logo depois entra Gold Jazz trazendo o amor brincalhão, nosso galã Aldo Perrota se despe! E veste um justo vestidinho , as mulheres vão a loucura…

Inicia-se um clamor masculino às mulheres: abre essas pernas pra mim baby!

Segue com o circo, depois do circo entra Carinhoso costurando e recosturando algumas coisas perdidas.

Fechamos a trouxa ao som da trilha de Amacord.

Fernanda Paixão

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

TERRA

Estamos na reta final da Caravana do Delírio, fomos raptados por um foguete.
Distante vimos e revimos as coisas e ainda precisamos ver muito mais,
sobre o Tá Na Rua, a linguagem e a vida.
Parece que de longe dá pra entender um pouco mais como as coisas acontecem
diversas vezes lembro de discursos
sobre Teatro e Vida do nosso mestre
e aprendo mais um pouco
diversas vezes lembro dos esporros que o Amir já me deu
e fico com um pouco mais de raiva
e aprendo mais um pouco

acho que o foguete nos raptou para a Lua
vivemos alguns meses como uns loucos lunáticos
cantando e dançando por ai
acredito que o foguete nos raptou para um buraco negro
que não tem fim
e isso assusta
e acredito também que nos raptou para o mundo dos sistemas
vivemos alguns meses sob a tutela do CRONOGRAMA.

estamos com saudades daí
e sabemos que vamos sentir falta daqui

é bom ouvir vcs mesmo que virtualmente e acompanhar as dicussões e os trabalhos que não param
para sentirmos
TERRA.

Terra
por mais distante o errante navegante
quem jamais te esqueceria?

Terra...

Fernanda Paixão

domingo, 16 de novembro de 2008

Tá na Rua volta a Aracajú!!!





05/11/2008
Mais uma vez este ano, Aracajú, Sergipe, as lembranças são boas, aquele dilúvio que caiu!!! Desta vez o tempo estava firme e não choveu nenhum dia, fizemos o reconhecimento do espaço no dia 4, e vimos uma tímida ocupação que os alunos estavam fazendo na reitoria reivindicando estrutura para o Campus Laranjeiras, no qual os alunos estão assistindo aula dentro de uma escola municipal por conta do prédio não ter sido entregue, também reivindicavam melhora das refeições e bolsas alimentação e transporte, acusavam uma coordenadora pelos males. A Une embora concordasse com grande parte das reivindicações optou por outra forma de negociação e por isso não apoiava a ocupação, disseram que a culpa não era de uma única pessoa mas sim de questões burocráticas que estavam sendo resolvidas.
No dia 5 fizemos pela manhã um grande cortejo pelos corredores da Universidade, foi bem bacana, à tarde nos apresentamos no refeitório com música mecânica.
O espaço era ótimo, antes de abrirmos nossa roda fizemos vários números, quem começou obviamente foi o Herculano que fez um número doido no qual começou como sultão e depois virou uma transformista, com o passar do tempo as pessoas foram parando curiosas com o que estava acontecendo, quando a roda estava quente, abrimos nossa trouxa e apresentamos o campônio e a narrativa das aparências enganam depois passamos a bola para os circenses que fizeram seus números, e para fechar a trouxa tocamos o Bêbado e a Equilibrista.
Após encerrarmos, alguns alunos da ocupação (que também assistiram nossa apresentação) foram ao centro da Roda, um falava e os demais repetiam, diziam que a Une não participava da ocupação e que estava alheia as reivindicações deles. Saímos e deixamos eles falando sozinho, inclusive o público que nos viu também saiu. Nossa opinião já tinha sido colocada artisticamente era impossível dialogar verbalmente/politicamente com eles.
À noite fomos fazer nossa última intervenção, estava acontecendo um encontro de formação do Cuca (Circuito Universitário de Cultura e Arte), e mais uma vez fizemos uma transição da reunião para nossa apresentação. Quando estavam encerrando chamaram o Tá na Rua e o Pimpolho falou da importância de fortalecimento do Cuca, que nós estávamos ali pela arte e que queríamos trocar um pouco com eles, convidamos a todos a assistir nosso espetáculo, em cortejo fomos para um espaço vizinho e logo a música tocava e as pessoas fizeram uma semi-arena (havia uma parede ao fundo). O Aldo apresentou os atores, foi divertidíssimo, A Ju e Herculano eram bailarinos, eu uma advogada (para variar!!) a Fernanda uma contadora, o Pimpolho ex-marginal (pra variar!!), todos frustrados em suas profissões romperam com tudo e foram salvos pelo teatro. A essa altura nossa roda estava cheia, então antes de iniciar a narração do Inferno Nacional, disse que o Tá na Rua esteve aqui no começo do ano num festival promovido pelo adorado grupo Imbuaça e que estávamos muito felizes de retornas nestas terras, esperamos voltar mais e mais vezes!!
O Inferno Nacional foi um sucesso as pessoas adoraram, depois apresentamos os circenses que fizeram seus números. Ao fecharmos nossa trouxa algumas pessoas vieram falar conosco que gostaram muito, uns disseram que conheciam o Tá na Rua, outro veio mostrar suas poesias (que eram lindas!!).
Até logo UFSE, esperamos que o Campus Laranjeiras rapidamente atenda as necessidades dos alunos, que as bolsas de alimentação e transporte sejam dadas a quem de direito, e que o ensino fique cada vez melhor para vocês, mas também e principalmente para todos os jovens do nosso Brasil!!!
Ana Cândida

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

UFAL: Muitas questões...





3/11/2008
Maceió, Alagoas, cidade linda, praias maravilhosas, muito sol, hotel ótimo, tudo o que estamos precisando para seguir com disposição este mês final da Caravana.
A Universidade era muito longe do hotel, não fomos fazer a pré-produção, combinamos de ir mais cedo no dia da atividade. Fomos informados que todas as nossas atividades seriam realizadas na praça do RU.
No dia 3 fomos às 7:30 para a UFAL, íamos fazer um cortejo até a biblioteca, mas não havia movimento e por isso mudamos a trajetória para o prédio de letras, e lá fomos nós cortejando e cantando, paramos ao redor de uma árvore onde alunos em mesas disputavam dominó, anunciamos nossa chegada e da Caravana, seguimos e chegando no prédio de letras muitos alunos ficaram do lado de fora das salas de aula nos observando e cantando conosco. Convidamos todos a nos assistirem mais tarde e participarem da programação do dia.
Ao retornarmos à praça do RU, local onde estava montada a tenda da Une verificamos que uma das chapas concorrente ao DCE (contra a UNE) montou sua tenda, ficamos sabendo que no fim da tarde provavelmente ocorreria um debate com a outra chapa, por esse motivo ficou acertado que nos apresentaríamos à noite após o debate, por volta de 18:30 horas.
Ao meio dia fizemos nossa intervenção dentro do RU (restaurante universitário), este diferente dos outros até que tinha um bom espaço, abrimos uma roda, e após pedir licença ao público e saber se queriam nos ouvir, fizemos a narrativa da Regadeira e As aparências enganam. Normalmente as intervenções no RU se limitam a um cortejo e a divulgação da programação e da chegada da Caravana na Universidade, são raras as vezes que conseguimos fazer um número, quer seja por falta de espaço, quer seja porque as pessoas estão comendo e fica bem difícil ou até incomodo ter que atrais sua atenção.
Ocorre que a Caravana quer ser vista e certamente o RU nos gigantes Campus universitários é o lugar que reúne o maior número de pessoas, para nós certamente não é o melhor local para intervenção, mas até que ponto podemos rejeitar a atuação, porque motivo, não podemos divulgar as atividades, temos sempre que fazer números?! E, mais, como já disse em outro relato, muitos foram os cortejos e intervenções em que o número de pessoas era mínimo, mas nem por isso acho que nossa passagem deixa de ser importante, quando alguém sorri verdadeiramente para mim/nós, ou bate uma palma, balança o corpo, faz um aceno, sinto que estou cumprindo minha função.
Seria ótimo que o público fosse sempre enorme e que todos gostassem do que agente faz, mas na universidade isso é muito mais difícil de se dar do que nas praças, quer seja por termos um público homogênio (classe média/alta), quer seja pelos anseios dos jovens que não estão interessados em nada que não seja o seu próprio futuro (a sociedade nos leva a sermos individualistas) e principalmente pela arquitetura dos campus, uns isolados dos outros, os espaços de convivência estão abandonados. Fica muito difícil concentrar as pessoas para uma atividade coletiva, assim agente acaba fazendo nossas atividades voltadas para um grupo específico de uma determinada sala, curso. Em todas as atividades internas que fizemos até hoje em nenhuma conseguimos reunir toda a universidade. Creio que os alunos de outros Campus (que não acontece atividade) mal ficam sabendo que estivemos lá. Mas é uma tarefa árdua, como unir as pessoas com tantas situações adversas!!! Me arrisco a dizer que talvez a única possibilidade seja de fora (da universidade) para dentro.
No fim da tarde nos preparávamos para nossa atividade, e vimos que realmente ia rolar o debate entre as chapas do DCE, a coisa ia longe e certamente nosso horário seria prejudicado. A Une começou a desmontar a barraca com o som, pois decidiram não intervir no debate e disseram que a viagem que faríamos na madrugada para Aracaju era perigosa e por isso devíamos adiantar a saída.
Gostaria de fazer um parenteses para falar sobre a discussão que se dá nas universidades sobre o Projeto do governo Federa com a Une que se chama Reuni e consiste em ampliar o número de vagas nas universidades, aumentar a proporção de alunos para professores de 1/17 para 1/18. Os alunos que são contra o projeto afirmam que a Universidade não tem estrutura para atendê-los e que faltam professores, por isso entendem que o aumento de alunos irá piorar o ensino. Eles fazem esta discussão cheios de razões, este sempre foi o ponto mais atacado contra a Une nas universidades em que houveram este tipo de manifestação. Eles falam em nome da educação pública, como se o que desejassem fosse o melhor para todo o país. Na verdade penso que defendem a não ampliação de vagas a fim de não aumentar a concorrência no mercado.
É importante dizer que a Une e todo cidadão brasileiro defende a melhoria de condições de estudo nas Universidades brasileiras, mas com relação ao número de vagas creio que antes de eles encherem a boca para dizer o que é bom para o ensino público deveriam ouvir, entrar em contato com os milhões de jovens brasileiro que não têm acesso à Universidade. Tenho certeza que o aumento do número de vagas é necessário, e creio que estes novos companheiros que ingressarem na universidade devem ser vistos como mais uma força para a reivindicação de melhores condições de estudo.
Ainda, destaco que estes jovens contra o Reuni também são contra o Prouni, que consiste no governo dar bolsas em universidades particulares para os estudantes que não tem condição de pagá-la. Concluo o seguinte: se não pode dar bolsa na particular e nem aumentar o número de vagas na universidade pública, e considerando que quem consegue entrar na universidade pública é quem teve condição financeira de fazer um bom colégio e/ou cursinho; estas pessoas que são contra os Projetos querem que a camada pobre da população permaneça excluída e sem acesso à universidade, o que é um absurdo. Creio que devam repensar seus conceitos e canalizar suas energias para um luta mais necessária, têm que entrar em contato com o mundo fora das paredes universitárias e entenderem que não existe salvação individua!!!
Mas voltando à atividade do Tá na Rua, nos foi proposto pela produção, em virtude de que o debate das chapas seguiria até mais tarde e que possivelmente após o encerramento haveria um esvaziamento de público, de nos apresentarmos no Campus de direito e/ou no auditório onde aconteceria o debate.
Houve uma grande discussão entre nós, eu queria fazer de qualquer jeito, fosse após o debate ou no campus de direito, achei que foi uma falta de respeito a Une ter desligado o som sem falar conosco, normalmente à noite fazemos intervenção com o som, a resposta da produção foi que sabiam que fazíamos o espetáculo sem som de qualquer forma pediram desculpa, falaram que os imprevistos acontecem para eles também e que é preciso lidar com estas situações.
Outra parte do nosso coletivo disse que eles não podiam ficar nos jogando de um lado para o outro que como não poderíamos fazer na praça que havia sido combinado não deveríamos fazer.
Quanto a isso minha opinião é que não importa o local, sabemos como funciona a universidade, o fluxo nem sempre é o esperado e aí principalmente nós do Tá na Rua, que não estamos presos a nenhum tipo de arquitetura temos total mobilidade para fazer nossa atividade em outros locais. O mais importante para mim e que a Une não nos desrespeitou é nosso conteúdo, em nenhum momento solicitaram a alteração ou adequação do conteúdo de nossas narrativas, nós é que sempre observamos o que está ao nosso redor e conforme a situação usamos nossos recursos para contribuir da melhor maneira com quem estamos trocando.
Estaremos sujeitos a alteração de locais, isso deve incomodar tanto assim as pessoas?! Fico me perguntando pois a mim não incomoda, o mais importante é entrar em contato com as pessoas e mesmo quando tem poucas o fato de podermos nos treinar, narrando, dançando, fazendo coisas, jogando entre nós, me satisfaz e contribuí para o meu crescimento e para o do coletivo.
Reta final, ânimos elevados, não conseguimos nos entender e acabamos não fazendo a apresentação da noite. Faremos uma avaliação do acontecido e procuraremos chegar a um acordo.
Fui pra casa/hotel com a sensação de um buraco, faltou um giro, um canto ou um sorriso para sair em paz de Maceió...
Ana Cândida