quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá feia...


3/09/2008
Chegamos pela manhã na UFSC para fazer um cortejo como de praxe, não imaginávamos o que nos aguardava...
Fomos inicialmente para o prédio de saúde, entramos bonitos, coloridos, batendo o tambor para anunciar a programação do dia, logo na entrada do prédio um senhor/professor, tentou barrar nossa entrada mas o produtor ficou conversando com ele enquanto ingressamos no edifício.
Abrimos uma roda e os alunos do alto de três andares saíram de suas salas para ver o que estava acontecendo (o local era como um coliseu uma grade área térrea quadrada, circundada por salas de aula, o edifício possuía três andares, sendo que todas as salas davam para um corredor gradeado do qual se observava a área térrea, as salas eram como se fossem grandes camarotes), então, um membro da Une explicou sobre a Caravana e depois o Aldo foi ao centro da roda e disse que éramos do Tá na Rua, e saímos aplaudidos.
Ficamos com uma sensação de mal estar por não termos falado mais do Tá na Rua, pareceu que abrimos uma roda para a Une falar, isso gerou muita conversa depois sobre a nossa função. No entanto seguíamos a nossa programação da manhã, que agora era cortejar no prédio de Engenharia – CTC.
Até então na maioria das atividades da manhã realizávamos cortejos para anunciar a chegada da Caravana e do Tá na Rua, e dizer que nos apresentaríamos mais tarde. Quase sempre durante o cortejo abríamos uma roda e fazíamos alguma narrativa, dizendo que era uma pequena parte do que iríamos apresentar mais tarde.
Ocorre que quando entramos batendo o tambor e cantando no prédio do CTC, que era igual ao de Saúde, aconteceu algo que eu imaginava que aconteceria a qualquer momento nesta Caravana, mas não da forma e como foi, professores de engenharia, 4 especificamente, incitavam seus alunos a nos xingarem e a atirar objetos, a arena/o circo estava montado, todos os alunos saíram da sala, um dos professores, Sérgio Kohler, vociferava do segundo andar chamando-nos de vagabundos, comunistas, palhaços, ele tinha tanta raiva e tanto ódio, era uma cena horrível, chocante, o tempo que permanecemos no local ele não cessou um minuto de nos agredir, dizendo os maiores absurdos. Outro professor do alto do 2º andar nos atirava giz, outro na parte térrea chegou a agredir fisicamente o Herculano, e o quarto nos tomou a bandeira do Brasil e me disse que nós não podíamos usá-la para realizar uma zona, consegui recuperá-la com um aluno.
O mais absurdo de tudo isso, foi que eles não nos deixaram falar, explicar o motivo da nossa entrada no edifício nem por um minuto, não saia da onde saía tanto ódio. Não foi possível diálogo em momento algum. Os alunos, a maioria, comandados pelo professor Sérgio Kohler, nos agrediram verbal e fisicamente sem saber do que se tratava. No edifício anterior fizemos a intervenção em 5 minutos, certamente seríamos breves, certo ainda que se fossemos tratados com respeito rapidamente deixaríamos o prédio.
No momento que o Herculano foi atingido eu e o Santini chegamos a deitar no chão numa atitude de protesto, mas fomos erguidos pois a situação estava brava e o melhor naquele momento era sair de lá. O Aldo ficou descontrolado e tive que segurá-lo para não acontecer nada mais grave. Imaginem na Idade Média quando na arena soltavam as feras para devorar os homens e o público a toda volta gritado, era essa a sensação. Me senti muito mal vendo tudo aquilo, uma sensação de impotência em relação a uma agressão fascista, unilateral e sem possibilidade de diálogo.
Alguns alunos no decorrer e depois da confusão vieram nos pedir desculpas pela atitude excessiva dos seus professores e companheiros, dizendo sempre que acontece algo que foge da normalidade eles reagem assim. O reitor da Universidade também nos pediu desculpas, disse que teria conversado antes com os professores, que nós nos adiantamos. Certamente houve falha de comunicação e produção, mas isso não diminui o excesso e o horror que foi a reação do CTC.
O episódio foi muito triste, mas nos revelou muita coisa, nos perguntamos teatralmente como poderíamos ter agido, muitas coisas foram ditas, mas o fato é que na hora ficamos todos acoados com algumas atitudes isoladas, ninguém esperava aquilo principalmente dos professores da Universidade. Acho que foi muito importante revelar para os alunos que tipo de mestres eles têm, como um ser humano num país democrático reage desta maneira a uma manifestação artística. Creio que como muitos alunos nos falaram talvez a abordagem pudesse ter sido outra, mas a reação dos professores e alunos é injustificável, agressão verbal e física, sem ouvir uma palavra do que tínhamos a dizer.
Eu não sou de nenhum partido político e nem pertenço a qualquer entidade estudantil, sou artista, eu e o Tá na Rua acompanhamos a Une nesta Caravana por acreditarmos neste projeto, de levar temas da saúde (lei seca, aborto, drogas, SUS), educação (reforma universitária) e cultura (CUCA – circuito universitário de cultura) para serem discutidos pelos estudantes, sejam as posições favoráveis ou contra, sou muito feliz de viver num país democrático, poder expor a minha opinião e ouvir a dos outros, acho que somente debatendo questões importantes para o nosso país e principalmente que dizem respeito ao coletivo é que podemos encontrar caminhos para construir um mundo melhor.
Perdemos a capacidade de debater as coisas, a ditadura acabou com as possibilidades de organizações coletivas e desde então as aspirações da minha geração são: ter o meu dinheiro, alcançar o meu sucesso, ter a minha estabilidade, ter o meu emprego, ter a minha salvação individual... e isso meus queridos na minha opinião não leva a nada se, no meu entorno a situação de vida dos meus companheiros estiver uma merda. Ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém!
Para o Tá na Rua a possibilidade de percorrer o Brasil fazendo teatro, não um teatro de mensagem, mas sim, aquele que levante questões, que coloca as coisas em movimento, é muito interessante, acreditamos que a transformação do homem, a aquisição de conhecimentos se dá pela prática e pelo afeto e não pela cabeça, e por isso através da linguagem teatral e de contatos horizontais com as pessoas acreditamos que podemos colocar as coisas em movimento nos corações das pessoas e nos nossos também.
Tudo o que aconteceu nesse dia foi na prática, tocou o meu afeto, e tenho certeza que o de todos que estavam presente, creio que aqueles professores em suas aulas apresentam todas as suas teorias, mas ali, naquele “circo”que eles mesmos criaram, colocaram para fora numa situação real todos os seus pensamentos, do qual discordo em absoluto mas não tiro o direito deles de manifestarem suas opiniões “Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las” - Voltaire.
Considero a cultura fundamental para o crescimento de um povo, inclusive acho que se aprende muito mais sobre a vida fazendo arte do que tomando aulas através no nosso sistema educacional, que no caso universitário em grande parte educa para o mercado, para a competitividade, para o lema: “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Você passa anos estudando coisas para a sua formação pessoal e individual, poucas são as disciplinas e professores que nos fazem querer pensar, que querem que sejamos seres humanos críticos, coletivos, que tenhamos opinião sobre as questões da humanidade.
Não que não seja importante apreendermos o que nos ensinam na universidade, mas seria muito melhor que o foco de ensinamento e a pedagogia fossem mais amplos oque favoreceria sermos cidadão mais compromissados com o mundo.
A cena que sucedeu no CTC, deixou-me muito sentida, ver educadores com aquele comportamento nos dias de hoje, mostra que ainda estamos muito longe de termos um país melhor e mais democrático, as forças reacionárias estão soltas, e no que depender delas, a cultura popular, a discussão, os coletivos, devem sumir, o que deve prosperar são os valores da família, da tradição e da propriedade.
Mas como diz João Bosco e Aldir Blanc na canção “O bêbado e a equilibrista”: A Esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”
E continuamos, para colocar para fora toda a rejeição que sentimos e humilhação que passamos, nós artistas, na hora do almoço saímos pelos Campus da Universidade em um cortejo fúnebre, marcado pelo surdo, o Pimpolho e o Aldo vestidos de Policial e todos os demais amordaçados.
Primeiro ingressamos no prédio de Filosofia e Letras e abrimos uma roda, aos poucos o policial foi levando todos os amordaçados ao centro, eu estava com a Bandeira do Brasil, me coloquei na escadaria (como se fosse um palanque) e o Santini, vestido de policial se colocou ao meu lado e começou a chamar os amordaçados de vagabundos, comunistas, artistas desordeiros, que essa raça tinha invadido a universidade e perturbado a ordem e que deviam ser expulsos dali, neste momento um professor saiu da sala e pediu silêncio, o Santini subiu até o andar que ele estava e disse que o apoiava que precisavam acabar com o barulho, com a bagunça, que ali era um local de respeito, de estudiosos, ali se formava a sociedade do futuro, os grandes mestres, e que vagabundo não podia atrapalhar, aquele local era da elite, não admitia pobre comunista, que foi chamado pelo professor Sérgio Kohler para restabelecer a ordem na Universidade.
Estar dentro daquele prédio com arquitetura igual ao do CTC, ouvir o Santini dizendo aquelas palavras, estar com a boca amordaçada e segurando a bandeira do Brasil, tudo isso mexeu comigo, fiquei muito emocionada de estar ali naquele momento, eu era a artista vagabunda que ele e o Professor Kohler se referiam, passava mil coisas na minha cabeça, eu deixei minha profissão de advogada para ser artista vagabunda, por quê?! E ao mesmo tempo eu olhava ao redor, lembrava de tudo que havia sucedido e em como artisticamente e coletivamente eu podia dar uma resposta a tudo que eu estava sentindo, e assim contribuir para o meu crescimento e o pensamento dos outros e então concluía: Graças a Deus que estou artista no mundo e não advogada burocrática dentro das salas de ar condicionado!
O discurso do Santini seguiu, os alunos observavam e entenderam o que queríamos dizer, seguimos o cortejo e passamos pela fila do bandejão amarrados com o Santini proferindo o discurso do policial, entramos em 2 bandejões informando que naquele dia a universidade tinha sido invadida por artistas vagabundos mas que poderiam ficar tranquilos que já estava tudo sob controle, haviam alunos de engenharia em um dos bandejões, mas o discurso do Santini impediu que nos vaiassem, não sei se as pessoas entenderam, mas o mais importante é que as cabeças entraram em movimento: O que estava acontecendo ali? Alguns sabiam do que havia acontecido no CTC pela manhã, outros não...
Certamente o que sucedeu foi muito importante para refletirmos sobre vários aspectos, quer sejam teatrais, pedagógicos, de forma e de conteúdo, quer sejam educacionais, quer sejam humanos. As coisas entraram em movimento, no fim do dia já havia no youtube um filme do momento em que fomos expulsos do prédio (para acessar www.youtube.com.br pesquisar CTC expulsa UNE), e na comunidade do orkut da UFSC, já haviam mais de 60 comentários sobre o ocorrido.
Cancelamos nossa programação da noite, o dia havia sido muito turbulento, não sabíamos o que mais poderia ser feito na universidade, tal foi a repercussão dos acontecimentos, outra reação adversa seria muito violenta para o nosso frágil coletivo, que certamente apesar de tudo saiu de lá mais fortalecido.
Ana Cândida

12 comentários:

Unknown disse...

Quando você saprenderem a passar a mesnsagem de vocês de ua maneira cordial e política, vocês seram bem-vindos em nosso centro ou em qualquer outro. O publico precisa de consciência, e com certeza vocês nao estam passando isso com essa algazarra na hora de aula e de prova inclusive. Quero que eu e a maioria dos alunos queriam ouvir, mas nao daquelee jeito deseordeiro. Aprendam a falar e seram ouvidos. Aprendam à serem políticos e diplomaticos, não só um bando de artistas provocando a desordem e atrapalhando as aulas. Mesmo sendo estes artistas advogados, como a autora do artigo fez questão de dizer. A falta de respeito para com vôces foi apenas reciprocidade pela falta de respeito que vocês tiveram com o ambiente acadêmico, com seu corpo docente e alunos, não pelo fato de serem artista ou por sua mensagem. Atitudes desnecessárias de ambos os lados. Agressão verbal e física não se justifica. Vocês tem o direito de falar, e nós temos o direito de não querer ouvir, pelo menos não naquele momento.

Festa da Nuvem disse...
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João Romão disse...
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~løs~™ disse...

Senhores acho q o primeiro comentário falou tudo, como vocês chegam a um prédio no meio das aulas e começam a tocar um tambor?
Cadê o respeito dos senhores?
Acho q nunca vi a comunidade da UFSC tão unida contra oq os senhores fizeram, pessoas que nunca antes estiveram juntas concordaram sobre o acontecido.
Vocês foram fanfarrões e agora se fazem de santinhos.
Sobre o professor escrevam o nome dele corretamente: Sergio Colle

http://www.orkut.com.br/CommMsgs.aspx?cmm=8534386&tid=5241679466451491676&na=2&nst=147

Anônimo disse...

O nome do professor é Sérgio COLLE, pesquisador 1A do CNPQ e que recentemente foi agraciado com a Ordem do Mérito Científico. Esse professor, apesar de poder estar aposentado há um bom tempo (ele tem mais de 70 anos), continua ensinando Termodinâmica para a TERCEIRA fase da Engenharia Mecânica, e assegurando que os alunos terão uma base sólida nessa área, que é muito importante.

O cara ali em cima falou certo, não importa o que vocês queriam dizer, ficou bem claro que as pessoas não queriam ouvir; e vocês, cientes disso, insistiram em ficar. Mais que isso: provocaram, tocando os tambores no ritmo dos "fora!" que os alunos gritavam. Podiam muito bem ter feito a apresentaçãozinha em lugar e horário apropriado, mas quiseram parar as aulas e insistiram em falar pra quem não queria ouvir. Mereceram ser expulsos.

Dizes que não tens ideologia política, mas tuas alusões ao "coletivo" nesse texto não enganam ninguém; vocês são exatamente aquilo que o Prof. Colle disse: comunistas, e da pior espécie. Aquela do Gramsci, que finge que não é com ela.
"Ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém!", "professor fascista", a quem tu pensas que enganas? Fizeram muito bem em tirar a bandeira do Brasil de vocês. Vão pra Coréia do Norte.

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GirarD disse...

Estava em prova de calculo 4.
e já acho o tempo de 1 hora e cinqüenta minutos pra prova pouco.

Ainda tenho que perde tempo com gente batucando em plena quarta feira, as 8 e meia da manha.

5 minutos é muito tempo numa prova de calculo!


Atitude ridícula da UNE!

Anônimo disse...

(Modifiquei um pouco o comentario)

Os professores que mais "esbravejaram" nesse dia certamente são os de posicionamento político mais forte (alguns diriam "extremista", mas o termo não representa corretamente). Vários deles dedicam inclusive, talvez sem querer, grande espaço em suas aulas na discussão de causas sociais. O Colle, em particular, é um quase um fervoroso político, e vejo muitas declarações dele na imprensa. O reitor, que também é um professor da engenharia, se destaca acho eu por ser uma pessoa muito aberta e que evita acima de tudo tomar atos ou fazer declarações precipitadas. Mas estilo político é estilo político.

Acho que as pessoas têm o direito de escolher se querem ou não assistir a um espetáculo. Se vocês fizerem as caravanas longe das salas de aula, um transeunte vai poder optar por ficar ou passar batido. Mas, fazendo do lado das salas de aula, vocês estão FORÇANDO os alunos a pararem suas aulas e obrigando-os a assisti-los. Ainda que a intenção seja de interromper apenas 5 minutos, que reação esperar de desconhecidos, que nem sabem o que vocês são ou o que vieram fazer ali, e que podem ter uma péssima primeira impressão de vocês?
Se conseguissem, de maneira civilizada, fazer sua manifestação com o consentimento de alguém responsável, e até se fossem apresentados por alguém "de casa", duvido que algo assim fosse ocorrer, e poderíamos ter tido um agradável momento. Agora, entrando do modo como entraram, dependendo do lugar em que forem, é muito provável que o episódio se repita.

O maior obstáculo para vocês, creio, é chamar a atenção dos alunos para discutirem seus temas. Mas, do lado das salas de aula é o pior lugar, tirar os alunos da concentração que se encontram... Alguns fazendo provas. Professores engajados em dar as aulas...

Na UFSC às vezes grupos de teatro fazem apresentações ali perto da conchinha acústica, no horário do almoço, e normalmente chamam bastante atenção.

Enfim, apesar dos pesares, sorte e sucesso... Assim como ainda posso pedir desculpas pelo comportamento de alguns, em nome do sucesso do grupo nem preciso sugerir mais cautela em certos aspectos, pois nem sempre pode se esperar a colaboração de ambos os lados. Vai ser melhor para todos.
Aproveitem bem a oportunidade que têem, assim como nós aproveitamos o que o governo investe em nós.

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

E olha, busquei ser bem tolerante no comentário. Certamente o barulho nas aulas não foi só o que nos enraiveceu, mas a reputação da UNE, a reação e a insistência de vocês no momento... Amigo, isso é um barril de pólvora!

CristianTM disse...

Aos leitores: Vejam o vídeo e tirem suas conclusões:
http://www.youtube.com/watch?v=LYDGWJ15yGE

Ocorreu logo agressão, tal como foi insinuado no texto???

Ou a agressão ocorreu por que depois que já estava mais do que claro que nenhum representante da UNE era bem vindo pra fazer barulho no meio da aula e provas do pessoal, depois de alguns alunos irem lá no meio conversar com o vocês, depois de muitas vaias e "caiam fora", depois de tudo isso o primeiro agredido simplesmente volta a tocar o tambor, em um gesto de provocação claro?!?

Não que justifique, acho que violência nunca é justificável. Mas não distorçam a realidade se fazendo de vítimas, como se sem fazer nada vocês saíram agredidos. Vocês provocaram e provocaram demais, e o estopim foi o indivíduo que resolveu voltar a batucar.