segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Colorindo o Bairro Universitário e nossas vidas!!!






15 e 16/09/2008
Chegamos em Porto Velho – RO, sábado dia 13/09, durante o dia já ficamos sabendo que as coisas estavam complicadas, o MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário) e o DCE da Unir, não queriam ver a Une nem pintada de ouro. As negociações começaram entre as lideranças, e nós artistas sabíamos que não faríamos qualquer atividade na universidade se não fossemos recebidos, não queríamos novamente ser expulsos de um local por questões políticas da Une.
No dia 15, segunda-feira, na pré produção foram na Universidade um representante da Une e 4 produtores, nós iríamos mais tarde para fazer o reconhecimento do espaço e combinar a atividade, ocorre que a recepção ao pessoal foi dura, o DCE disse que não permitiriam a atividade da Une no dia seguinte, além do mais a universidade estava em greve. Diante disso fomos orientados a não comparecer na Unir. Dois artistas (Floriana e Xixi, chegaram a ir lá e conversaram com o pessoal do DCE, que entre outras coisas disseram não querer a implantação do projeto da Une que amplia o número de cursos e pessoas na sala de aula, pois atualmente não tem professor nem para os cursos já existentes).
Foi decidido então que as atividades seriam realizadas em outra universidade chamada Uniron, fomos então fazer o reconhecimento do espaço. Assim que chegamos com o ônibus, notamos que na frente da universidade havia uma comunidade. Entramos na universidade, vimos os espaços, certamente a atividade aconteceria na praça de alimentação, local de maior concentração de estudantes. Fato é que todos nós, principalmente as meninas (eu, Lu, Fe e Flor) estávamos loucas para entrar na comunidade e pensar uma atividade lá.
E assim foi, saímos da Universidade para conhecer a comunidade e pedir permissão para realização de uma atividade lá no dia seguinte. Estávamos indo só as mulheres, quando o Aldo veio correndo atrás de nós dizendo que iria nos acompanhar a princípio por questão de segurança (depois ele se deu conta de como foi ótimo ter nos acompanhado por questões muito mais importantes!!!).
Fomos entrando de mansinho, sabíamos que era uma invasão recente (cerca de 1 ano), perguntamos para a primeira pessoa que vimos quem era o líder, soubemos que era o Irmão, fomos conversando com as pessoas que víamos nas casas e logo chegamos ao Irmão. Conversamos com ele, dissemos quem éramos, perguntamos qual relação tinham com a Universidade e como tinha ocorrido a invasão.
Ele nos disse que a invasão, ou melhor ocupação (assim que eles definem) ocorreu pois sabiam que o terreno estava vago e que não tinha proprietário definido, então resolveram ocupar, muitas pessoas que estavam ali tinham casa mas não conseguiam pagar o aluguel e por isso foram para lá, que hoje havia umas 200 famílias. Uma senhora nos disse que não morava lá mas estava ajudando na construção do bairro pois no futuro pretendia habitar o local para que seu filho, que hoje tem 12 anos, ficasse perto da universidade e não precise gastar dinheiro com passagem. Disseram que a Universidade nunca os procurou.
O mais interessante foi quando soubemos o nome do local: Bairro Universitário. O Irmão nos disse que muitas pessoas dissera que não deviam fazer essa homenagem as universidades pois elas não estão nem ai pra eles, mas ele disse que acredita na possibilidade de diálogo com as universidades afim de garantir o estudo de seus filhos.
Falamos sobre nossas intensões, e fomos bem recebidos, e assim ficou marcada nossa intervenção artística para o dia seguinte, 16/09, às 15 horas.
Às horas que se seguiram até o momento da nossa entrada no Bairro Universitário, foi de grande expectativa. Tinha ouvido o Irmão falar que desejava fazer uma faixa dizendo os direitos do homem, logo pensei no tecido de faixa e no spray que tínhamos, a isso incorporei a compra de tinta guache para que as crianças pintasse. Conversando com o grupo pensamos que seria legal não uma faixa de direito mas uma na qual sobre as pinturas das crianças escrevêssemos o nome do Bairro.
Dia 16/09 no horário combinado entramos em cortejo pelo Bairro Universitário. Caminhamos por entre as ruas de barro até chegar no local acertado, abrimos uma roda, as pessoas foram se chegando, na maioria crianças (os adultos a maioria estava fora trabalhando). Tínhamos pensado de contar o Inferno Nacional, mas dentro daquela conjuntura infantil já não fazia mais sentido. Foi então que o Pimpolho começou a contar a história de uma nuvem que queria perturbar as crianças (nisso entramos com a faixa que seria pintada) e para ela ir embora precisávamos fazer um ritual. A nuvem foi estendida no chão, pegamos as tintas, as crianças lambuzaram as mãos, braços para o alto, rodamos em volta do tecido cantando para a nuvem e no sinal de atacar todos marcaram suas mãos na nuvem. Foi uma festa, além das mãos escrevemos os nomes das crianças. Em seguida a faixa foi estendida e o Pimpolho escreveu bem grande: Bairro Universitário, e com letras menores, dos amigos do Tá na Rua para o AMBU (Associação de Moradores do Bairro Universitário).
Os circenses se apresentaram e as crianças adoraram. Tiramos muitas fotos e os documentaristas filmaram tudo (combinei de enviar o material todo para o Irmão), pode ser útil na questão jurídica em que eles brigam pela propriedade da terra além é claro da recordação de um momento feliz. Chegou a triste hora de partir, os adultos nos agradeceram muito, saímos em cortejo, as crianças os acompanharam até deixarmos o Bairro.
Foi um grande presente ter contato com pessoas do Bairro Universitário, são pessoas maravilhosas, nos trataram muito bem. Aprendemos muito com eles sobre cidadania, trabalho coletivo, organização interna, preocupação com o meio ambiente, futuro de seus filhos e principalmente recebemos muito afeto das crianças!!!
Faltava agora enfrentar a programação noturna na universidade, estávamos exaustos mas cheios de amor para dar. Às 19 horas estávamos na praça de alimentação da Uniron, abrimos uma roda e contamos o Inferno Nacional, a praça toda ficou mobilizada com nossa apresentação, foi uma delícia, fomos muito aplaudidos. Isso nos fortaleceu tanto que decidimos seguir em cortejo para o outro campus da universidade (onde estava a tenda da Une), fomos cantando marchinhas de carnaval e os alunos foram se divertindo. Quando chegamos na tenda íamos encerrar mas tinha tanta gente envolta que abrimos uma roda!!! Contamos a piada do coelhinho e fechamos bem e felizes, depois de um intenso e engrandecedor dia de trabalho!!!
Nunca esqueceremos o Bairro Universitário, o Irmão, o Tonico, a Maria a Nely, e todas as crianças!!!
Ana Cândida

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