quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O circo etério passou por Tocantins!!! Palmas!!!






19.11.2008
Nossa estada em Salvador teve de ser prorrogada pois o Ministério não liberou a verba da terceira parcela da Caravana, o que aconteceu foi que na quarta-feira, dia 12/11, nós sairíamos de Salvador rumo a Palmas, mas a empresa dona do ônibus deu ordem aos motoristas que a Caravana só iria seguir se fosse depositado na sua conta o valor faltante.
Ficamos parados, foi um inferno, nossas malas todas no ônibus para sair e nós na recepção do hotel sem saber o que iria acontecer. Sabemos como é burocrática a liberação de qualquer verba e que a coisa não se resolveria do dia para noite. No fim do dia renovaram nossa hospedagem no hotel, as negociações com o Ministério foram intensificadas, fato é que a Une devia ter feito isso à muito tempo, eles foram negligentes e confiaram no poder público.
Resultado, ficamos em Salvador até segunda-feira, dia 17/11, quando então a Une conseguiu por outros meios o valor da empresa de ônibus. O dinheiro do Ministério ainda não saiu!!! Durante este período tivemos que negociar várias vezes, queriam nos encaminhar para um albergue e até para um alojamento, sem frescuras, mas nessa altura do campeonato, mais de três meses fora de casa, em ritmo frenético de viagens e trabalhos, o mínimo de conforto é necessário, até mesmo porque não sabíamos o tempo que iria durar esta espera. Por fim ficou tudo certo e permanecemos no hotel que estávamos até a resolução da questão.
Assim, dia 17/11 depois do almoço, partimos para a longa viagem até Palmas, Tocantins, foram 22 horas. Na madrugada, em certo momento na BR tinha um trevo sem placa alguma, o motorista seguiu reto e logo entramos em uma estrada de terra deserta e cheia de pedras, não podia ser ali, o ônibus teve que ser manobrado para então pegarmos a direção certa no trevo, confesso que fiquei meio assustada!!!
Chegamos em Palmas dia 18/11, um calor de 36º graus, fizemos o reconhecimento do espaço e no dia seguinte pela manhã fizemos nossa primeira atividade, um grande cortejo pelos corredores, como vocês sabem estamos sem o Pimpolho, que faz uma falta danada no surdo, em Salvador a tentativa do Aldo de tocar foi desastrosa e já estávamos pensando em fazer o cortejo sem instrumentos, fato é que estamos cercados de músicos na Caravana, como não havíamos pesado nisso antes?!! Nosso querido produtor do documentário, Tiagão, com seus 2 metros de altura, deixou a timidez de lado, pendurou um pano na cabeça e conduziu o surdo com excelência acompanhando nossa desafinada mais charmosa cantoria (perdeu Pimpolho!!!).
Importante contar que antes de sair o cortejo, na frente da tenda da Une havia uma enorme área de terra e pedras (quase um campo de futebol), estava tocando uma música meio psicodélica e a Ju foi para o centro deste campo dançar, o Herculano e a Fe, foram em seguida!!! Era uma coisa meio Hair, se é que me entendem, a galera começou a parar para ver, o Aldo começou a narrar uma história do espaço de planetas, e então eu e o Chico entramos com uns panos, a história foi se desenvolvendo, começamos a tirar as roupas, jogamos os sapatos para cima, (as roupas coloridas naquele campo enorme de terra vermelha eram lindas!!) e começamos a correr, só que o chão tava cheio de pedrinhas e doía pra cacete, teatralmente tivemos que recolocar os sapatos, nos formamos em roda fomos apresentados como super verduras e depois corremos o campo todo e sumimos por trás de um prédio...foi uma viagem total, mas um momento de liberdade e prazer que fazia tempo não provávamos, estávamos soltos, sem compromisso com nada, só com nossa diversão, é tão bom fazer isso...
Na hora do almoço fomos fazer nossa clássica intervenção na lanchonete, quem nos deu a honra da companhia no cortejo tocando o surdo, foi nosso querido produtor Guilherme, que com uma cartola e uma saia de fitas, nos acompanhou com alegria, antes de sairmos da tenda fizemos uma chamada ao vivo para a Globo local, e saímos em cortejo para a lanchonete (vimos na TV que passaram as imagens da maluquice que fizemos pela manhã no campão!!!) lá chegando as pessoas pareciam que não estavam para muitos amigo, abrimos a roda e cumprimentamos a galera, aos poucos eles foram se soltando, perguntamos se queriam que contássemos uma história e disseram que sim, então o Aldo narrou a Regadeira, foi divertidíssimo, todos acompanharam e riram muito. Antes de nos despedirmos contamos ao público que era aniversário da nossa querida amiga Fernanda, e juntos cantamos parabéns.
Nossa última intervenção do dia foi no fim da tarde na lanchonete, assim que acabou o filme da Une que estava também sendo projetado na lanchonete iniciamos os trabalhos, havia bastante gente e algumas crianças que foram especialmente nos ver. Tínhamos definido fazer a apresentação dos atores o Campônio e o Inferno Nacional com a participação dos circenses.
O Aldo estava inspirado, o Chico no som também, ele só deu um mega deslise na minha apresentação, quando o Aldo narrava que eu era uma atleta que depois virei advogada e fui para o Rio, entrou a música Morena da Angola, nada haver, tentamos improvisar mas tava difícil, o Chico foi quem conseguiu se virar no som e soltou outra música que possibilitou seguir a história, foi muito engraçado. A apresentação da Ju estava sendo o máximo quando de repente a música e a luz pifaram, que merda, foi um balde de água fria, o espetáculo caminhava como nunca, estávamos muito entusiasmados!!!
Todos tentamos seguir, acreditando que o problema seria resolvido rapidamente, a questão principal não era o som, pois podíamos perfeitamente contar nossas histórias sem ele, mas a luz, esta sim fazia falta, fazer teatro no escuro não dá!! Enrolamos o quanto pudemos, e depois falamos ao público que iríamos aguardar a volta da luz para continuar (engraçado que alguns vieram falar conosco que acharam que aquilo fazia parte do espetáculo). O pessoal da produção mexeu nos fios e o que conseguiram foi ligar somente a luz, decidimos então, tendo em vista que o público estava todo ali aguardando, contarmos o Inferno Nacional sem som.
E assim, foi, pedi aplausos calorosos do público pela volta da luz e para aquecer nossos afetos e a história foi narrada, o público participou ativamente e nos ajudou a contar. Foi muito bom, tenho certeza que o longo tempo trabalho nos deixou mais afinados e capazes de vencer obstáculos como esse. Os circenses fizeram sua participação, entraram com malabares de fogo no Inferno e ao encerrarmos nossa história apresentaram seus números. O público ainda cantou um parabéns para a Fernanda que ficou muito feliz!!! (nesse dia ainda fizemos uma festinha surpresa para ela com direito a brigadeiro e balão!!!)
O público gostou muito do que viu, muitas pessoas vieram nos parabenizar, tenho certeza que se o som não falhasse faríamos uma apresentação primorosa, mas creio que a queda de energia não apagou nossa luz, e fomos capazes de fazer um lindo espetáculo e trocar muito com o público, a bolha ali se formou...
Ana Cândida

O surdo fez falta mas os amigos ajudaram!!!!




11/11/2008
Depois da nossa intensa atividade na Federal de Salvador, faríamos na UCSAL (Universidade Católica do Salvador), um fato importante, o Pimpolho foi embora no domingo (9/11) e só retornará em Brasília para a teia, perdemos uma pessoa muito importante, como ator, narrador e principalmente como nosso ogam, resumindo, a música foi embora (o Pimpolho quem toca o surdo e opera as carrapetas!!!).
No dia 10 pela manhã verificamos que nossa caixa de guerra tinha desaparecido do hotel (havia ficado em uma salinha com outras bagagens), mais um sintoma de que o som queria ir embora...Para aliviar a nossa “dor” encontramos no ônibus fantasias que tínhamos dado como perdidas, vão se as notas mas chega o colorido, ainda bem!!!
Fomos para a Universidade dia 11 fazer nosso primeira atividade do dia, um cortejo pelos corredores, para fortalecer o coletivo contamos com as participações especiais de Fernanda Machado e Patrícia, o Aldo tentou tocar o surdo mas foi desastroso, cantamos o melhor que pudemos, mas ficou longe de ser bom. Aí como sinto falta de termos aula de canto e percussão!!! Quando faltam as duas coisas fica difícil, o fato de não cantarmos bem no Tá na Rua é encoberto pelo som mecânico ou pelo som do surdo e caixa que Alessandro, Pimpolho e Luciana tocam bem, quando não estão e não temos o recurso do som mecânico percebemos a grande defasagem da nossa voz.
Não que tenhamos que cantar todos afinados como um coral, mas um mínimo realmente faz falta!!! Pois bem, fomos literalmente na raça conduzindo a cantoria do cortejo, abrimos uma roda falamos a programação (até que juntou muita gente) e finalizamos.
O dia parecia que seria complicado, mas ao meio dia, na frente da tenda da Une a Fernanda Machado e o Herculano começaram a dançar e isso contagiou a todos e quando vimos nossa roda estava formada, o Aldo e o Guilherme (nosso produtor na Caravana) conduzirão o som da forma que puderam (não havíamos separado nenhum material para oficina ou apresentação para a intervenção do meio dia).
Roda formada, muitos alunos tinham acabado de sair do auditório onde rolou o filme do Michel Moore, SOS Saúde, então aproveitei o ensejo para contar a nossa história do plano de saúdo, dois alunos fizeram os pacientes, foi muito bom, em seguida a Fernanda Machado narrou uma história que envolvia mulher, marido e amante, e por fim o Aldo narrou As aparências enganam. Finalizamos à tarde felizes!!!
À noite o Chico foi conosco para operar o som, combinamos de fazer o Campônio, as duas Portuguesas e o Aldo e a Fernanda fazerem Gabriela. Ocorre que a Fe não conseguiu ir, então trocamos o número da Gabriela pelo Abre essas pernas (que eu fiz com o Aldo ele de mulher e eu de homem! Foi hilário – os estudantes adoram ver homem vestido de mulher!!!). Trocamos todos os personagens que normalmente estávamos fazendo e o resultado foi muito positivo, além de nos divertimos, cada um contribuiu com coisas novas o que engrandeceram e renovaram as narrativas.
Uma grande roda se formou para nos assistir e os números foram muito aplaudidos, ficamos todos bem, tão bem que saímos da Universidade direto para comer um acarajé da Regina e beber uma cerveja (eu, claro, bebi minha caipvodka!!), fazia tempo que não saíamos todos juntos depois de uma atividade (estamos sempre cansados e vamos direto para o hotel!!).
Foi ótimo Salvador, até logo, espero que o Tá na Rua esteja aqui na Bienal da Une no ano que vem!!!
Ana Cândida

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salve Salvador!!!






7/11/2008
Salvador, chagamos à Bahia no dia 6/11 depois de uma viagem noturna vindo de Aracajú, semana puxada, 3 estados em uma semana, UFA!!!
No mesmo dia, pela manhã, fomos (praticamente sem dormir) para a UFBA (Universidade Federal da Bahia) fazer a pré-produção, achávamos fundamental fechar uma oficina com o pessoal de artes cênicas. O diretor da escola de teatro é o Daniel Vaz, carioca que conhece bem o trabalho do Amir, isso facilitou nossa entrada, ele nos recebeu muito bem, disse que os cursos estão em fase final (apresentação de espetáculos e seminário de conclusão) que seria difícil conseguir a despensa dos alunos mas que iríamos tentar. No período da manhã existem 3 turmas de 20 alunos de Interpretação (conseguimos falar com uma turma) e à tarde têm 3 turmas de Licenciatura de 25 alunos, por este motivo retornamos a Universidade a tarde para falar com os alunos e negociar com os professores. Fizemos o convite, em uma das salas quando entramos estavam passando um slide que entre outros grupos falava do Tá na Rua, muita coincidência!!!, mas ficamos sem saber se seriam dispensados pois os professores do dia seguinte não estavam lá. Vamos fazer de qualquer jeito alguém há de aparecer!!
Outra negociação foi o espaço, o Daniel nos ofereceu uma sala, mas que achamos pequena e escura, o ideal seria o jardim, mas ele disse que os alunos teriam aula de teoria e o barulho poderia atrapalhar. Para entrar num acordo sugerimos o estacionamento que ficava mais afastado das salas de aula, não era tão belo como o jardim mas era um bom espaço.
Neste dia reencontramos nossos queridos Disnael e Fernanda Machado que trouxeram uma energia nova e maravilhosa para todos!!!
Dia 7, dia de atividade, acordamos cedo (7:30h) e fomos para a universidade no Campus do PAC (não é o programa do governo!!) onde estava montada a tenda da Une e teria parte da programação da Caravana. Lá faríamos uma apresentação às 9:00 horas. Ocorre que o local estava vazio, e seria um desgaste desnecessário realizar a atividade ali. A Universidade estava mobilizada em um dos prédios onde ocorria a apuração das eleições do DCE, três chapas concorreram, a que estava ganhando era à favor da Une mas da oposição à gestão atual. Como alternativa tínhamos fazer um cortejo pelos corredores e prédios onde havia uma grande concentração de gente em virtude do horário de intervalo e a apuração.
E o Cortejo feito foi ótimo, passamos por dois prédios abrimos duas grandes rodas, falamos a programação. A recepção dos alunos foi a melhor possível, eles dançaram e cantaram conosco. Estávamos meio ressabiados de ir até o local da apuração por estarmos na Caravana da Une, mas foi super tranquilo, afinal somos o teatro e não a Une ou qualquer ente político, os alunos entendem isso, em todas as universidades que houveram manifestações contra a Une nosso trabalho foi respeitado, eles até falavam mal às vezes antes de ver (por que a Une estava levando palhaço para Universidade?), mas depois que nos apresentávamos ficava tudo artisticamente explicado e eles compreendiam ou tinham que engolir.
A Fernanda Machado fez conosco, foi muito bom ter a alegria dela. E mais, a Liana, que havia encontrado o Disna no aeroporto e sabendo que faríamos atividades na Universidade não resistiu e deu uma escapada do evento que estava para brincar conosco.
Cumprida a primeira etapa fomos almoçar e em seguida nos dirigimos para o Campus de artes cênicas. Lá não teve jeito, invadimos o jardim e montamos o equipamento, ali seria o local da oficina. Quando o Daniel chegou nosso circo já estava armado e ele não se opôs, sabia que seria importante para os alunos entrarem em contato com o teatro de rua.
Os alunos foram chegando, uma turma foi dispensada, abrimos a roda falando o mínimo possível: Tem música, roupas e pessoas, dancem, brinquem e se divirtam!! E assim foi, é sempre difícil desmontar os grupinhos e tirar algumas pessoas do “espaço psicótico”, encarnam um personagem e ficam presas sem entrar em contato com o mundo ao seu redor. Aos poucos fomos abrindo os espaços, as rodas apareceram, os trenzinhos, os coletivos, os cortejos, em alguns momentos fizemos algumas revoadas pelos jardins e estacionamento
Os funcionários pareciam não acreditar no que estava acontecendo, estavam maravilhados, um deles disse que nunca tinha visto aquilo na Universidade, muitos transeuntes entraram na Universidade para ver o que estava acontecendo, alunos (uns 20) de um colégio que ficava do outro lado da rua entraram, ficaram observando, a mulherada foi pra cima deles que ficaram meio acoados mas logo estraram na roda e dançaram conosco.
Um dos momentos mais lindos da oficina foi quando após o Herculano retirar a máscara e soltar o cabelo de uma das alunas, ela foi suspensa por dois garotos e atrás formou-se um enorme cortejo, ela gritava liberdade, revolução!!! Depois na avaliação fomos saber o quanto isso era significante para aquele coletivo.
Fizemos 1 hora e meia de oficina e ao encerrar formamos nossa roda de avaliação, os alunos olhavam desconfiados querendo racionalizar e entender para o que servia a oficina, quando começava o teatro, qual era a técnica a metodologia, alguns falaram que dava para se soltar, entrar em contato com o outro, fazer cenas, alguns atores foram fazer a oficina de personagem (vestidos e maquiados) isso os prendeu e na avaliação comentaram sobre isso.
Falamos que aquele era nosso treinamento que com o passar do tempo as regras iam surgindo naturalmente, o jogo ia ficando mais afinado, a troca aumentava, que nem sempre nossa idéia prevalece, que temos que abrir mão do que estamos fazendo para entrar em contato com o outro. Na rua estamos sujeitos a todo tipo de interferência daí estarmos preparados para reagir ao estímulo externo, abandonar o nosso para fazer o do outro. Falamos sobre a dramaturgia aberta na qual a intervenção é bem vinda.
Eles queriam saber o que era teatro de rua, a isso recebemos a generosa resposta da Tainá, do grupo Filhos da Rua aqui de Salvador, ela ficou sabendo que o Tá na Rua estaria na Universidade e foi até lá, disse que tinha anos que não pisava na academia e que o Tá na Rua a conduziu novamente àquele espaço, disse aos alunos que era um privilégio para eles ter uma oficina com o Tá na Rua, falou sobre o Amir e outros grupos referências do teatro de rua, sobre o que é entrar em contato com o público na rua, contou histórias de interferências de populares, problemas com a polícia, mas sobre tudo da paixão que é fazer este teatro.
Os alunos falaram que não tinham aulas sobre o teatro de rua, e que nunca tinham tido uma oficina como essa, uma aluna disse que não tinha liberdade dentro da universidade que era tudo muito careta, que estava perdendo a alegria de fazer teatro e que pensava em trancar a faculdade, outras duas se manifestaram no mesmo sentido. Foi muito importante promover o encontro da academia com um grupo como o Filhos da Rua, deixamos uma orientação/alternativa para os universitários que disseram que iam procurar a Taina. Deixamos o livro e o DVD do Tá na Rua com o Daniel à disposição dos alunos.
A Taina falou sobre a importância que era tocar uma pessoa que fosse da universidade para o teatro de rua, que achava que iria encontrar menos pessoas fazendo oficina. Tenho certeza que mexemos com a cabeça de algumas pessoas e certamente com as nossas também, foi um aprendizado escutar a Taina e os alunos falando, tudo reafirma a importância deste contato próximo que a oficina proporciona.
Entendemos que este é um dos papéis do Tá na Rua nesta Caravana da Une, fazer desaparecer ainda que momentaneamente os muros da Universidade que separam a academia do popular. Separam o brasileiro do brasileiro!!!
Foi tão forte para mim a passagem pelo Pelourinho, até então apreciamos diversas obras da natureza (rios, florestas, mares, animais, solos), só que agora em Salvador vemos além da natureza a obra do homem, a arquitetura e o povo traduzem grande parte da história do nosso país, que são também nossas raízes, fiquei emocionada, de repente meu corpo se encheu de uma força e me deu orgulho de ser brasileiro!!!
Ana Cândida

domingo, 23 de novembro de 2008

O MISTÉRIO DO AMOR É MUITO MAIOR QUE O MISTÉRIO DA MORTE

Goiânia - GO
21 de novembro de 2008

Depois de tanto tempo, tantas barreiras, chegamos em Goiânia.

Ainda não o ÚLTIMO estado, mas o PENÚLTIMO.

Por causa das tais barreiras, Pimpolho das kandongas se encontrava no Rio de Janeiro, Ana Cândida por compromissos de força maior partiu para o Rio de Janeiro, Alexandre Santinni só irá nos encontrar no gran finale em Brasília, vindo do Rio de Janeiro e Francisco Couto estava sendo atendido pelo SUS em Goiânia, ou seja, impossibilitado de sair de qualquer fila durante toda a tarde…

Na atividade de Goiânia trabalhamos: Aldo Perrota, Fernanda Paixão, Herculano Dias e Juliana Alves de Souza.

Nossa companheira Ana Cândida nos acompanhou até a hora do reconhecimento do espaço, depois partiu deixando apenas UM LINDO CELULAR, esquecido no banheiro de seu amante Aldo Perrota (o galã mais procurado do Brasil, segundo ele mesmo).

No reconhecimento, os produtores da Caravana descobriram que iria ter vestibular na segunda- feira, dia de nossa atividade (por conta de atraso da Caravana chegamos em Goiânia no dia errado, ou certo? Vai saber…). Nossos produtores deixaram de lado o programado e resolveram fazer a atividade na sexta-feira mesmo.

O Tá Na Rua se apresentou no fim da tarde. A apresentação foi mágica, o pôr do sol nos recebeu…

Combinamos de fazer poucas coisas, mas o tema era o AMOR.

Esse sentimento anda sendo nosso companheiro fiel nesta Caravana. Acho que ou entramos em contato com ele ou morremos, em um projeto desse essa é a única saída…
A galera da caravana estava com uma trilha musical arretada e o Tá Na Rua não perdeu tempo. O espetáculo começou com os Ogans divinos encorpados na produção. EVOÉ.

O Manuel produtor começou a se vestir, eu e Ju fomos ajudando e ele foi aceitando, pedindo mais e a gente foi cambonando. Quando vimos estava um lindo Palhação, com uma buzina na mão… era o CHACRINHA!

Pronto, o circo estava armado. Atores aquecidos, produtor enfeitiçado. Chiquinha Gonzaga abre alas, Rosa de ouro é quem vai ganhar. Trouxa, atores e convidado dançam em circulo iniciando uma nova fase do ritual, do circulo abrimos as alas para cortejo e bandeiras. FELLINI chega para baixar a alta tensão e abrirmos a trouxa calmamente.

Nosso narrador inicia a história de um Amor Materno, Vicente Celestino canta a mais terrível história de amor e morte.

Eu fiz a mulher do Campônio pela segunda vez. A primeira mulher que se manifestou em mim, foi uma menina faceira, nem era mulher. Foi bonito, mas o chico comentou sobre a mulher que se manifestava em LUCY MAFRA quando tocava esta música, era uma MULHER sarcástica, fatal.

Eu acredito que as duas possibilidades são interessantes, a Ana também faz mais menina, mas quando vi, neste dia, a flor branca que enfeitava o chapéu de palha estava sendo substiuída por uma vermelha, o sutiã vermelho que vestia por baixo de uma blusa branca exalava paixão de mulher.

Durante a cena estava tudo diferente, eu estava diferente. Na hora que a amada dizia a brincar que o Campônio trouxesse o coração da Mãe, avistei um lindo pano vermelho que se enrolou imediatamente no pescoço do Campônio, desesperado ele tira o pano do pescoço e me entrega e eu rio a receber aquele coração forjado, porém, não satisfeito, o homem sai correndo até a choupana atrás da maezinha.

Inicia –se a tragédia.

A mãe morta. O coração caído, o homem derrotado, mesmo assim uma voz ecoou, era a maezinha e sua acolheita incondicional. Nesta hora eu eu entrei de Santa, mas não fiquei satisfeita. Entrei tímida, o sentimento da mulher veio forte dentro de mim naquela hora, acho que a minha vontade era estar com um pano preto caída no chão diante daquele acolhimento. Uma mistura de arrependimento com o fracasso.

O MISTÉRIO DO AMOR É MUITO MAIOR DO QUE O MISTÉRIO DA MORTE.
Já dizia Salomé.

Herculano estava mais poético que nunca.

Logo depois entra Gold Jazz trazendo o amor brincalhão, nosso galã Aldo Perrota se despe! E veste um justo vestidinho , as mulheres vão a loucura…

Inicia-se um clamor masculino às mulheres: abre essas pernas pra mim baby!

Segue com o circo, depois do circo entra Carinhoso costurando e recosturando algumas coisas perdidas.

Fechamos a trouxa ao som da trilha de Amacord.

Fernanda Paixão

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

TERRA

Estamos na reta final da Caravana do Delírio, fomos raptados por um foguete.
Distante vimos e revimos as coisas e ainda precisamos ver muito mais,
sobre o Tá Na Rua, a linguagem e a vida.
Parece que de longe dá pra entender um pouco mais como as coisas acontecem
diversas vezes lembro de discursos
sobre Teatro e Vida do nosso mestre
e aprendo mais um pouco
diversas vezes lembro dos esporros que o Amir já me deu
e fico com um pouco mais de raiva
e aprendo mais um pouco

acho que o foguete nos raptou para a Lua
vivemos alguns meses como uns loucos lunáticos
cantando e dançando por ai
acredito que o foguete nos raptou para um buraco negro
que não tem fim
e isso assusta
e acredito também que nos raptou para o mundo dos sistemas
vivemos alguns meses sob a tutela do CRONOGRAMA.

estamos com saudades daí
e sabemos que vamos sentir falta daqui

é bom ouvir vcs mesmo que virtualmente e acompanhar as dicussões e os trabalhos que não param
para sentirmos
TERRA.

Terra
por mais distante o errante navegante
quem jamais te esqueceria?

Terra...

Fernanda Paixão

domingo, 16 de novembro de 2008

Tá na Rua volta a Aracajú!!!





05/11/2008
Mais uma vez este ano, Aracajú, Sergipe, as lembranças são boas, aquele dilúvio que caiu!!! Desta vez o tempo estava firme e não choveu nenhum dia, fizemos o reconhecimento do espaço no dia 4, e vimos uma tímida ocupação que os alunos estavam fazendo na reitoria reivindicando estrutura para o Campus Laranjeiras, no qual os alunos estão assistindo aula dentro de uma escola municipal por conta do prédio não ter sido entregue, também reivindicavam melhora das refeições e bolsas alimentação e transporte, acusavam uma coordenadora pelos males. A Une embora concordasse com grande parte das reivindicações optou por outra forma de negociação e por isso não apoiava a ocupação, disseram que a culpa não era de uma única pessoa mas sim de questões burocráticas que estavam sendo resolvidas.
No dia 5 fizemos pela manhã um grande cortejo pelos corredores da Universidade, foi bem bacana, à tarde nos apresentamos no refeitório com música mecânica.
O espaço era ótimo, antes de abrirmos nossa roda fizemos vários números, quem começou obviamente foi o Herculano que fez um número doido no qual começou como sultão e depois virou uma transformista, com o passar do tempo as pessoas foram parando curiosas com o que estava acontecendo, quando a roda estava quente, abrimos nossa trouxa e apresentamos o campônio e a narrativa das aparências enganam depois passamos a bola para os circenses que fizeram seus números, e para fechar a trouxa tocamos o Bêbado e a Equilibrista.
Após encerrarmos, alguns alunos da ocupação (que também assistiram nossa apresentação) foram ao centro da Roda, um falava e os demais repetiam, diziam que a Une não participava da ocupação e que estava alheia as reivindicações deles. Saímos e deixamos eles falando sozinho, inclusive o público que nos viu também saiu. Nossa opinião já tinha sido colocada artisticamente era impossível dialogar verbalmente/politicamente com eles.
À noite fomos fazer nossa última intervenção, estava acontecendo um encontro de formação do Cuca (Circuito Universitário de Cultura e Arte), e mais uma vez fizemos uma transição da reunião para nossa apresentação. Quando estavam encerrando chamaram o Tá na Rua e o Pimpolho falou da importância de fortalecimento do Cuca, que nós estávamos ali pela arte e que queríamos trocar um pouco com eles, convidamos a todos a assistir nosso espetáculo, em cortejo fomos para um espaço vizinho e logo a música tocava e as pessoas fizeram uma semi-arena (havia uma parede ao fundo). O Aldo apresentou os atores, foi divertidíssimo, A Ju e Herculano eram bailarinos, eu uma advogada (para variar!!) a Fernanda uma contadora, o Pimpolho ex-marginal (pra variar!!), todos frustrados em suas profissões romperam com tudo e foram salvos pelo teatro. A essa altura nossa roda estava cheia, então antes de iniciar a narração do Inferno Nacional, disse que o Tá na Rua esteve aqui no começo do ano num festival promovido pelo adorado grupo Imbuaça e que estávamos muito felizes de retornas nestas terras, esperamos voltar mais e mais vezes!!
O Inferno Nacional foi um sucesso as pessoas adoraram, depois apresentamos os circenses que fizeram seus números. Ao fecharmos nossa trouxa algumas pessoas vieram falar conosco que gostaram muito, uns disseram que conheciam o Tá na Rua, outro veio mostrar suas poesias (que eram lindas!!).
Até logo UFSE, esperamos que o Campus Laranjeiras rapidamente atenda as necessidades dos alunos, que as bolsas de alimentação e transporte sejam dadas a quem de direito, e que o ensino fique cada vez melhor para vocês, mas também e principalmente para todos os jovens do nosso Brasil!!!
Ana Cândida

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

UFAL: Muitas questões...





3/11/2008
Maceió, Alagoas, cidade linda, praias maravilhosas, muito sol, hotel ótimo, tudo o que estamos precisando para seguir com disposição este mês final da Caravana.
A Universidade era muito longe do hotel, não fomos fazer a pré-produção, combinamos de ir mais cedo no dia da atividade. Fomos informados que todas as nossas atividades seriam realizadas na praça do RU.
No dia 3 fomos às 7:30 para a UFAL, íamos fazer um cortejo até a biblioteca, mas não havia movimento e por isso mudamos a trajetória para o prédio de letras, e lá fomos nós cortejando e cantando, paramos ao redor de uma árvore onde alunos em mesas disputavam dominó, anunciamos nossa chegada e da Caravana, seguimos e chegando no prédio de letras muitos alunos ficaram do lado de fora das salas de aula nos observando e cantando conosco. Convidamos todos a nos assistirem mais tarde e participarem da programação do dia.
Ao retornarmos à praça do RU, local onde estava montada a tenda da Une verificamos que uma das chapas concorrente ao DCE (contra a UNE) montou sua tenda, ficamos sabendo que no fim da tarde provavelmente ocorreria um debate com a outra chapa, por esse motivo ficou acertado que nos apresentaríamos à noite após o debate, por volta de 18:30 horas.
Ao meio dia fizemos nossa intervenção dentro do RU (restaurante universitário), este diferente dos outros até que tinha um bom espaço, abrimos uma roda, e após pedir licença ao público e saber se queriam nos ouvir, fizemos a narrativa da Regadeira e As aparências enganam. Normalmente as intervenções no RU se limitam a um cortejo e a divulgação da programação e da chegada da Caravana na Universidade, são raras as vezes que conseguimos fazer um número, quer seja por falta de espaço, quer seja porque as pessoas estão comendo e fica bem difícil ou até incomodo ter que atrais sua atenção.
Ocorre que a Caravana quer ser vista e certamente o RU nos gigantes Campus universitários é o lugar que reúne o maior número de pessoas, para nós certamente não é o melhor local para intervenção, mas até que ponto podemos rejeitar a atuação, porque motivo, não podemos divulgar as atividades, temos sempre que fazer números?! E, mais, como já disse em outro relato, muitos foram os cortejos e intervenções em que o número de pessoas era mínimo, mas nem por isso acho que nossa passagem deixa de ser importante, quando alguém sorri verdadeiramente para mim/nós, ou bate uma palma, balança o corpo, faz um aceno, sinto que estou cumprindo minha função.
Seria ótimo que o público fosse sempre enorme e que todos gostassem do que agente faz, mas na universidade isso é muito mais difícil de se dar do que nas praças, quer seja por termos um público homogênio (classe média/alta), quer seja pelos anseios dos jovens que não estão interessados em nada que não seja o seu próprio futuro (a sociedade nos leva a sermos individualistas) e principalmente pela arquitetura dos campus, uns isolados dos outros, os espaços de convivência estão abandonados. Fica muito difícil concentrar as pessoas para uma atividade coletiva, assim agente acaba fazendo nossas atividades voltadas para um grupo específico de uma determinada sala, curso. Em todas as atividades internas que fizemos até hoje em nenhuma conseguimos reunir toda a universidade. Creio que os alunos de outros Campus (que não acontece atividade) mal ficam sabendo que estivemos lá. Mas é uma tarefa árdua, como unir as pessoas com tantas situações adversas!!! Me arrisco a dizer que talvez a única possibilidade seja de fora (da universidade) para dentro.
No fim da tarde nos preparávamos para nossa atividade, e vimos que realmente ia rolar o debate entre as chapas do DCE, a coisa ia longe e certamente nosso horário seria prejudicado. A Une começou a desmontar a barraca com o som, pois decidiram não intervir no debate e disseram que a viagem que faríamos na madrugada para Aracaju era perigosa e por isso devíamos adiantar a saída.
Gostaria de fazer um parenteses para falar sobre a discussão que se dá nas universidades sobre o Projeto do governo Federa com a Une que se chama Reuni e consiste em ampliar o número de vagas nas universidades, aumentar a proporção de alunos para professores de 1/17 para 1/18. Os alunos que são contra o projeto afirmam que a Universidade não tem estrutura para atendê-los e que faltam professores, por isso entendem que o aumento de alunos irá piorar o ensino. Eles fazem esta discussão cheios de razões, este sempre foi o ponto mais atacado contra a Une nas universidades em que houveram este tipo de manifestação. Eles falam em nome da educação pública, como se o que desejassem fosse o melhor para todo o país. Na verdade penso que defendem a não ampliação de vagas a fim de não aumentar a concorrência no mercado.
É importante dizer que a Une e todo cidadão brasileiro defende a melhoria de condições de estudo nas Universidades brasileiras, mas com relação ao número de vagas creio que antes de eles encherem a boca para dizer o que é bom para o ensino público deveriam ouvir, entrar em contato com os milhões de jovens brasileiro que não têm acesso à Universidade. Tenho certeza que o aumento do número de vagas é necessário, e creio que estes novos companheiros que ingressarem na universidade devem ser vistos como mais uma força para a reivindicação de melhores condições de estudo.
Ainda, destaco que estes jovens contra o Reuni também são contra o Prouni, que consiste no governo dar bolsas em universidades particulares para os estudantes que não tem condição de pagá-la. Concluo o seguinte: se não pode dar bolsa na particular e nem aumentar o número de vagas na universidade pública, e considerando que quem consegue entrar na universidade pública é quem teve condição financeira de fazer um bom colégio e/ou cursinho; estas pessoas que são contra os Projetos querem que a camada pobre da população permaneça excluída e sem acesso à universidade, o que é um absurdo. Creio que devam repensar seus conceitos e canalizar suas energias para um luta mais necessária, têm que entrar em contato com o mundo fora das paredes universitárias e entenderem que não existe salvação individua!!!
Mas voltando à atividade do Tá na Rua, nos foi proposto pela produção, em virtude de que o debate das chapas seguiria até mais tarde e que possivelmente após o encerramento haveria um esvaziamento de público, de nos apresentarmos no Campus de direito e/ou no auditório onde aconteceria o debate.
Houve uma grande discussão entre nós, eu queria fazer de qualquer jeito, fosse após o debate ou no campus de direito, achei que foi uma falta de respeito a Une ter desligado o som sem falar conosco, normalmente à noite fazemos intervenção com o som, a resposta da produção foi que sabiam que fazíamos o espetáculo sem som de qualquer forma pediram desculpa, falaram que os imprevistos acontecem para eles também e que é preciso lidar com estas situações.
Outra parte do nosso coletivo disse que eles não podiam ficar nos jogando de um lado para o outro que como não poderíamos fazer na praça que havia sido combinado não deveríamos fazer.
Quanto a isso minha opinião é que não importa o local, sabemos como funciona a universidade, o fluxo nem sempre é o esperado e aí principalmente nós do Tá na Rua, que não estamos presos a nenhum tipo de arquitetura temos total mobilidade para fazer nossa atividade em outros locais. O mais importante para mim e que a Une não nos desrespeitou é nosso conteúdo, em nenhum momento solicitaram a alteração ou adequação do conteúdo de nossas narrativas, nós é que sempre observamos o que está ao nosso redor e conforme a situação usamos nossos recursos para contribuir da melhor maneira com quem estamos trocando.
Estaremos sujeitos a alteração de locais, isso deve incomodar tanto assim as pessoas?! Fico me perguntando pois a mim não incomoda, o mais importante é entrar em contato com as pessoas e mesmo quando tem poucas o fato de podermos nos treinar, narrando, dançando, fazendo coisas, jogando entre nós, me satisfaz e contribuí para o meu crescimento e para o do coletivo.
Reta final, ânimos elevados, não conseguimos nos entender e acabamos não fazendo a apresentação da noite. Faremos uma avaliação do acontecido e procuraremos chegar a um acordo.
Fui pra casa/hotel com a sensação de um buraco, faltou um giro, um canto ou um sorriso para sair em paz de Maceió...
Ana Cândida

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O conteúdo não muda o mundo sem prática.





30/10/2008
Em Recife, além de nos apresentarmos na Universidade Católica, fomos também na Federal.
Saímos do hotel atrasados o que prejudicou a atividade programada para a manhã, quando chegamos na Universidade o horário de intervalo no qual nos apresentaríamos já havia passado, ou seja não tinha público. Negociamos com a produção de fazer uma atividade maior no horário do almoço.
Por volta de 10:00 iniciou-se um debate sobre reforma universitária, e compareceram diversos alunos contrários a Une, usando nariz de palhaço, segurando cartazes que diziam ser contra o Prouni, dizendo que a Une não os representava e que a Une não participava das ocupações das reitorias. O debate foi quente, democraticamente todos falaram. Ouvimos coisas como a Une está trazendo circo para quê?! Aumentar as vagas sem estrutura não deve ser permitido. Que a Caravana é propaganda do Governo Federal, que a campanha de vacinação é do governo. A estas colocações o pessoal da Une respondeu consequentemente sobre a importância da ampliação do acesso à Universidade, a importância do teste de HIV, e que a Une deve cumprir também um papel social. Pediram desculpas ao circo, falando sobre a importância da arte.
Assistir tudo aquilo fez com que mudássemos o que tínhamos planejado fazer, engraçado é que pela manhã tinha falado com o Amir no telefone e ele tinha dito que o discurso narrativo em Vitória se deu em virtude do que encontraram na praça (diversos evangélicos pregando), não tem como ignorar o que está ao nosso redor. A dramaturgia do Tá na Rua, por não estar fechada, permite esse tipo de diálogo.
O Pimpolho estava com o discurso afinado e pediu para ser o último a falar no debate, falou sobre a importância da arte, como podemos agir através dela, e a necessidade dos alunos olharem para fora do muro das universidades, eles que estão ali podem estudar mas e quem não pode, (ele falou muito mais coisa, foi um discurso muito bonito e com muito conteúdo político e de vida) em seguida soltamos a música narrativa do João do Vale, Minha História que acaba com os homens do sertão que por não poderem estudar e não saberem fazer baião (arte), ficam abandonados à própria sorte, ao finalizar ficou a questão no ar: e os jovens que estão fora da universidade?!
O teatro contando a vida.
Encerramos falando da esperança de um mundo melhor, de uma universidade mais democrática e inclusiva, que dialogue mais com o mundo e então fizemos o Bêbado e a Equilibrista. Foi ótimo, nosso teatro foi afinado com os acontecimentos. Mostramos aos alunos nossas concepções e angústias agindo com o teatro.
O conteúdo não muda o mundo sem prática. (frase lida em um outdoor - fantástica!!!)
No fim da tarde voltamos a nos apresentar, pela primeira vez fizemos o Transporta o Céu para o Chão, o Aldo narrou e o Pimpolho fez o mendigo-rei. Tudo correu bem considerando ser a estréia do número, mas quando há a possibilidade de algo dar errado, dá errado, e na verdade deu meio errado!! Tínhamos combinado que após o texto entraria a narrativa musical da Deusa da Minha Rua, e entrou só que instrumental, ou seja, para quem não conhecia não dizia nada, eu entrei fazendo a Deusa e o Pimpolho, o mendigo, dançava comigo.
Olhei ao meu redor e vi que ninguém sabia cantar a música, só eu mesma, então tomei a louca coragem de pegar o microfone (já no meio da música) e cantar (que falta do Miguel e da Luciana!!!), eu fiquei tão nervosa de estar cantando que me atrapalhei toda com a letra, as encarei firme, acreditei (mais ou menos) no que eu estava fazendo. A narrativa prosseguiu e fechamos lindamente.
Revelei ao público o que acontecera, que a música devia ter a letra, que eu não sabia cantar, que minha voz era péssima, e que tive que improvisar, agradeci por terem me escutado até o final.
Para fechar o dia narrei o Inferno Nacional (nosso clássico), que está cada vez melhor, a sonoplastia melhorando a cada apresentação, o triálogo narrador – ator- ogam eletrônico, está se afinando, a rotatividade dos papéis é constante e assim podemos aperfeiçoar e descobrir sempre novas possibilidades.
Terminamos o dia felizes, eu em especial, por ter vencido mais uma barreira, a de cantar, tenho a consciência que foi desastroso, mas foi um ato de coragem no qual derrubei algumas barreiras, que venham outros muitos desafios!!!
Ana Cândida

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ME LEMBRO DO SUSPIRO PARA SEGUIR A RETA FINAL

MINHA ALMA CANTA

Vejo o Rio de janeiro. Teresina – Brasília – Rio de Janeiro. Embarco às 16hs, sábado, da capital do Piauí fervendo de calor , a notícia que tenho é que no Rio faz frio. O Vôo foi especialmente bonito, nunca uma conexão foi tão bem vinda, gostei de ter passado por Brasília.
Nunca vou me acostumar a sobrevoar a Capital Federal, ver suas luzes encandescentes delineando o Projeto do arquiteto, o avião que voava se via em um retrato luminoso sob a terra.
Logo depois, estava sobrevoando a ex Capital Federal que continua linda mesmo sem o grande título que a abrilhantava na época da Guanabara. Como uma importante metrópole, seus ares estavam engarrafados, o tráfico aéreo nos obrigou a ficar um pouco mais no ar, porém nao era qualquer ar, a cidade maravilhosa com seus mares e favelas nos apresentava de forma privilegiada, em um giro muito bem estudado pelo piloto. As pontes, avenidas, morros e favelas não eram reconhecíveis, a cidade que me abriga desde feto era irreconhecível, meu coração rasgado de saudade procurava alguma pista.
Vi inúmeras pontes Rio – Niterói e algumas Baías de Guanabara. Em um determinado momento acho que acertei, já estava chegando mais perto.
Depois de tanto tempo embarcada em uma caravana era preciso essa passagem pela cidade de origem.
Volto para a caravana e sinto que não estamos tão embarcados ou me resolvo melhor com a dualidade espacial que é estar viajando em um ônibus, dentro de um projeto pelo Brasil: antenados ou alienados?
Nunca estive tão longe das notícias dos jornais e nunca estive tão perto de mim mesmo, do Brasil mesmo.
Como a comida, vejo os hábitos e os pratico, mas nao sei dos assaltos, das campanhas e da inflação: a economia está com inflação?
Para os porteiros eu já não morava mais lá, para outros estou imensamente gorda. Para minha mãe eu estou bem.
Parecia um ano fora da cidade.
Agora, que cá estou : parece mais um ano de caravana.
Até 27 de novembro.

Fernanda Paixão

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um pavão na Universidade Católica de Recife...





28/10/2008
Recife – PE nos recebeu com muito sol, o hotel de nome Aconchego nos confortou muito, à medida que passa as relações e tesões dentro da Caravana se estreitam, qualquer coisa é motivo de desentendimento entre as pessoas, é muito tempo convivendo juntos o que certamente desgasta as relações e nos obriga a repactuar uma série de coisas para que possamos caminhar coletivamente da melhor maneira possível. Falo isso não só em relação ao Tá na Rua, nós na medida do possível estamos nos afinando,mas em relação à todos da Caravana.
A logística da Caravana foi muito bem pensada o Nordeste por último!! Certamente a alegria deste povo e as belezas naturais desta terra nos renovam e harmonizam.
Toda a nossa atividade realizada na UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco) aconteceu em uma rua que corta a Universidade por dentro, nela não transita carros, ela é cheia de barraquinhas de comidas onde os alunos normalmente fazem suas refeições. O fluxo de pessoas é muito intenso durante todo o dia. A Barraca da Une foi montada nesta rua.
Pela manhã fizemos um cortejo ao longo da rua e abrimos uma roda no portão de acesso à Universidade contamos a regadeira e seguimos em cortejo pelo jardim até a escada de acesso ao auditório no qual aconteceu um debate sobre Legalização do Aborto. Saliento que o Jardim era lindo, muito bem tratado, e curiosamente tinha um pavão e uma pavoa que vivem soltos dentro da Universidade, uns disseram que eram o simbolo da virtuose da ostentação, mas a verdade é que fiquei maravilhada com a beleza estonteante do animal e da maneira como ele caminhava por entre o jardim da universidade, dava uma vida e um colorido todo especial ao lugar. Não sei se ecologicamente é bom para o bicho mas que é bonito é!!
Entre uma apresentação e outra recebemos a notícia que o reitor não estava querendo liberar o teste rápido de HIV na Universidade, o moralismo da igreja católica é difícil de aceitar, não dá pra fingir que os jovens não enfrentam problemas (gravidez na adolescência, uso de drogas, doenças sexuais, prostituição...). Mudamos nosso roteiro e ao meio dia apresentamos o Campônio, as Portuguesas e o Abre essas Pernas, a narrativa costurou as cenas dizendo que não tem certo nem errado, quem disse que a monogamia é a melhor coisa, que a mulher ou o homem tem que viver feliz para sempre com seu cônjuge, falamos também da compra do amor, como nos submetemos ao dinheiro, a novela das oito nos mostra que isso tem suas vantagem, as prostitutas vivem tão bem e felizes que se tem a impressão de o melhor negócio para uma mulher é casar com um homem rico. Não dissemos que isso ou aquilo é o certo, as pessoas é que devem fazer seus juízos de valores.
A roda estava muito cheia de gente foi ótimo, encerramos com o Carinhoso.
À noite rolou uma apresentação de um grupo de forró e as pessoas dançavam na rua era muito gostoso, quando acabou o show o Tá na Rua entrou, apresentamos o Inferno Nacional, o Pimpolho teve que ficar no som e então eu narrei, desta vez foi bem melhor que em Campina Grande, estava mais calma, as músicas entraram bem. O Aldo fez um diabo muito legal. E um popular entrou junto com o Herculano no final e fez o personagem da fila. A roda ficou enorme, muita gente assistindo, as pessoas acompanharam a narrativa do início ao fim.
Fiquei muito satisfeita e quando encerramos uma mulher agradeceu a cada um de nós, falou que no Brasil tem muito homem igual ao cidadão da nossa história. Que fizemos tudo com muito humor, que devia ter mais. O Herculano comprou uma cerveja pela metade do preço pois o cara que vendia viu o espetáculo e por isso fez o desconto.
Cometemos como sempre muitos erros de entrada e perdemos a oportunidade de ajudar a cena, mas sempre falamos tanto de defeito, acaba um espetáculo e começamos sempre a falar do que deu errado. Me lembro sempre do Black que dizia: mas o que de bom aconteceu, não é possível que não tenha um momento que não tenha sido bom para você?!! Pois é para mim tiveram vários momentos bons e desse dia quero ficar com eles sem ter que ficar discutindo muito o que deu errado, deixa isso para uma próxima...
Valeu UNICAP!!!
Ana Cândida

domingo, 2 de novembro de 2008

De volta a Campina Grande!!!





23 e 24/10/2008
Na Paraíba, além da capital fomos a outra cidade, a querida Campina Grande, que recebeu o Tá na Rua tão maravilhosamente no ano de 2005, quando então apresentamos o espetáculo Dar Não Dói o que Dói é Resistir no Festival de Inverno, foi uma das melhores apresentações que o Tá na Rua desta última geração realizou.
A cidade está em clima de guerra política, Veneziano (PMDB) contra o Gordinho (PSDB), disputam o segundo turno das eleições, as casas, os carros, a cidade toda está tomada pelas cores vermelha e amarela, os candidatos estão tecnicamente empatados e disputam cada voto. Para piorar a situação a cidade é a única do Estado em que acontece 2º turno, assim, todos os cabos eleitorais do Estado estão aqui para ajudar na campanha. Foi solicitada a presença do exército nacional para conter a violência e a compra de votos. Hoje acontece um debate decisivo, que havia sido proibido pelo Ministério Público (acreditam que pode incitar mais ainda o povo), mas a decisão foi revogada. Na cidade se fala até em toque de recolher e presença de helicóptero no fim de semana para rastrear a compra de votos, me parece que as pessoas que querem vender seus votos devem pendurar algo na porta para receber o dinheiro.
Chegamos meio a esta loucura, ficou acertado que toda as atividades da Une seriam no dia 24/10 (sexta-feira) na Praça da Bandeira (local que apresentamos em 2005) pois a Universidade estaria fechada por conta das eleições, de qualquer forma necessitávamos fazer algum tipo de intervenção no interior da Universidade, por isso, no dia 23, fomos fazer um cortejo para divulgar a atividade do dia 24. Cortejamos primeiro para a Universidade Federal e depois fomos para a Estadual, nesta estava acontecendo um encontro do grupo de extensão em enfermagem aí foi irresistível, abrimos uma roda e contamos com a ajuda dos alunos a narrativa do Plano de Saúde, foi muito divertido!!! Saímos de lá melhores, tenho que contar que estávamos quase todos passando mal por conta da comida do dia anterior...Missão cumprida!! À noite fomos na praça fazer o reconhecimento do espaço, que já estava bem limitado por conta de um palco que iriam montar para a realização dos shows noturnos, a praça foi dividida ao meio, ficamos então com um dos lados.
Acordamos cedo e fomos para a praça, combinamos de cortejar a praça toda e depois abrir a roda, só que ao chegarmos já começamos a dançar e ai já não tinha mais como sair, a grande roda formou-se e o espetáculo já havia começado. O Pimpolho entrou narrando e falou que nós estávamos ali hoje para falar de amor que de política era só eles ligarem a televisão, a cidade estava transpirando isso então para refrescar íamos falar deste nobre e importante sentimento do povo que é o amor. Apresentamos o Campônio e o Ébrio, foi muito bonito, apesar de algumas falhas de entrada (em especial no Ébrio); depois anunciamos o circo e o Emerson e o Otávio fizeram um lindo número de bola de contato.
Ao meio dia estávamos novamente na praça para nossa segunda apresentação, enquanto preparávamos o material o Herculano começou a dançar e o Aldo a narrar, ele fez uma drag, depois dançou Greese e eu entrei fazendo o homem. Depois fez um número do Michael Jackson que era preto e depois ficou branco, então veio o número da Madonna feito pela Ju. Quer dizer, a essa altura o espetáculo novamente já havia começado e a roda se formado. A trouxa entrou, o material foi apresentado. Ao som do Carinhoso um senhor entrou para dançar com a Fernanda e ao final pediu para falar no microfone e disse: Eu queria agradecer estas meninas bonitas de dançarem na praça, que eu amo esta praça da Bandeira que tem sempre festa, Festa de São João, Festival de Inverno, Carnaval, sempre tem coisa boa acontecendo, vocês devem sempre voltar!!! Foi o máximo!!
Falamos sobre o momento que a cidade está vivendo com as eleições, a importância do voto consciente e que qualquer um que seja eleito a prioridade deve ser o povo e então entrou a música Bandeira Branca, o Herculano estava com a bandeira branca e a Fernanda com a do Brasil, eu e a Ju entramos com a vermelha (PMDB) e amarela (PSDB) e dançamos todos juntos o público aplaudiu muito.
Agradeci estar novamente naquela cidade e ser tão bem recebida, disse que nossa passagem por aqui foi muito importante que temos ótimas recordações da cidade e praça. Então, contei-lhes a história do Inferno Nacional, comecei muito calma, mas aos poucos fui ficando nervosa e não soube contornar os imprevistos, logo nas primeiras entradas dos personagens, diabo e departamento dos EUA, o som entrou tarde e baixo, a música dos EUA entrou errada, o microfone estava falhando e tudo ficou meio atravessado, deveria ter parado e repetido ou brincado (na avaliação falamos sobre isso), mas creio que a minha inexperiência pesou. Da metade para o fim as coisas engrenaram e a narrativa fechou muito bem.
O Pimpolho falou que queríamos contar a história de um repentista descrita por João do Vale na música Minha Históra, foi maravilhoso, o público se emocionou muito, esta música fala que os amigos do repentista que estudaram viraram doutores, que ele que não pode estudar mais tinha talento para o repente era admirado por seus amigos e pode seguir uma vida digna, mas os que não puderam estudar e não tinham seu talento que fim levaram...ao fim da música entramos com os instrumentos tocando e cantando Asa Branca, o público cantou conosco e acompanhou com palmas, a bolha estava totalmente formada. Muitas pessoas ainda hoje morrem no sertão: “Por falta d'água perdi meu gado morreu de sede meu alasão...”
Muitas pessoas ainda sofrem com a exclusão e a pobreza, mas nós artistas acreditamos na possibilidade de um outro mundo, nos quais nossas utopias são possíveis, e em nossos encontros de celebração com o povo nosso ofício é tentar organizar este mundo desajustado, no teatro tudo é possível e então entra a Esperança para fechar com chave de ouro. Fomos muito aplaudidos e muitas pessoas vieram falar conosco depois da apresentação. Queriam saber se íamos fazer mais, quando voltaríamos...
A rua é sempre a rua, as experiências no interior da universidade são sempre muito válidas, principalmente quando conseguimos realizar as oficinas, mas quando saímos para as ruas, tudo se renova, o público heterogêneo nos coloca em movimento e contribui das maneiras mais inesperadas, além do afeto que emitem e nos afaga.
Depois da nossa apresentação, um senhor conhecido na cidade, Baixinho do Pandeiro, com um belo chapéu, tocou seu pandeiro e cantou lindamente, levamos o microfone até ele e uma roda se formou para escutá-lo, ele cantou umas 4 músicas, uma delas do Jackson do Pandeiro. A cultura popular se manifesta nas ruas aonde o espaço ainda é público!!!
Campina Grande e a Praça da Bandeira são maravilhosos, é só bater um tambor que a roda já se forma, o público é muito generoso, desejo voltar a esta praça por muitas outras vezes...até breve!!!
Ana Cândida