segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A melhor recepção!!!!





26/09/2008
Roraima, única capital brasileira acima do equador, estado com 400 mil habitantes sendo que 250 mil estão concentrados na capital Boa Vista, cidade na qual chegou a Caravana no dia 24/08 num fim de tarde chuvoso.
A recepção não podia ser melhor, à noite os representantes dos estudantes e mais algumas pessoas da cidade nos levaram para fazer um passeio, ficamos sabendo que a cidade foi planejada com inspiração no traçado de Paris, ela tem o formato de um sol, no centro fica o palácio do governo, o fórum, as secretarias, e os raios do sol são as ruas com suas casas, não tê como se perder.
Passamos em frente ao clube da cidade, pela praça das águas, e paramos em um grande complexo no qual acontecia o concurso anual de fanfarras escolares do estado, era muito interessante, assistimos duas escolas, a primeira era bem tradicional, a segunda entrou tocando um tambor fortíssimo e animado. O governador estava presente no evento e fez questão de nos receber.
Depois fomos para a Orla de Taumanan, que tem vários barzinhos às margens do Rio Branco, tomei uma deliciosa caipvodka e fui dormir feliz.
Dia 25/09, dia de pré-produção, fomos cedo para a Universidade ver o espaço, andamos pelos corredores e observamos que o melhor local era em frente a livraria e o auditório, onde tinha uma área ampla que seria montada a barraca da Une. Nesta tarde finalmente ocorreu uma confraternização esportiva entre os meninos, rolou um futebol, o time do Aldo e Pimpolho venceu e o Aldo foi o artilheiro da partida!! À noite, convidados pelos pontos de cultura da região, fomos para o ponto Thianguá, e lá assistimos coisas maravilhosas, que foram dedicadas a cada um de nós.
Era inacreditável, eles nos convidaram para mostrarem suas artes, a casa do ponto era linda, a parede cheia de figurinos cuidadosamente trabalhados, divididos em ciranda e cangaço, além de terem montado uma mesa com frutas e comidas típicas. A apresentação começou com um ponto de música erudita, em seguida entrou a quadrilha com as crianças, depois foi a vez dos jovens da ciranda (esperávamos aquela ciranda de mãos dadas e o que vimos foi muita dança e rebolado!!!), e por fim entrou a dança do cangaço. Tudo maravilhoso!!! Formamos uma roda de conversa, e podemos trocar um pouco de experiência, saber das dificuldades e das lutas destes pontos para manterem seus trabalhos. Acabamos à noite na Orla comendo um delicioso peixe oferecido pelo município escutando uma música ao vivo, sendo que levantamos a galera que dançou conosco um reggae.
Dia 26/09, dia de atividade na universidade, logo que chegamos já haviam muitos adolescentes que foram levados para acompanharem a programação da Une, íamos fazer um cortejo no interior do bloco de humanas e nos apresentar por lá, mas diante das circunstâncias e daquele público, mudamos os rumos, abrimos a roda ali mesmo (na frente da livraria) e após a abertura da trouxa, encenamos as marchinhas de carnaval: Pierrot e Colombina e a Jardineira. O Pimpolho não foi nesta intervenção da manhã, tínhamos combinado de narrar o Inferno Nacional, que normalmente era ele que narrava. O Santini perguntou se eu narraria, eu disse que não, e ele disse vai narrar porque eu vou fazer, ou seja, me jogou na fogueira legal, mas foi ótimo, porque apesar de um pouco nervosa, acho que dei conta do recado, narrei pela primeira vez o Inferno Nacional, e certamente rompi com várias barreira, estou certa de que foi um momento de muito crescimento.
Depois da nossa apresentação houve um ato solene de abertura da programação da Caravana com a presença do governador, secretário de educação, cultura e desportes, deputada federal, representantes do movimento estudantil entre outros. Depois do ato estava marcado um debate mas todos os alunos foram embora e o debate não aconteceu, certo que o horário era de almoço, mas o desinteresse dos alunos também deve ser considerado. Como fazer com que se interessem em debater questões de interesse coletivo, talvez o debate não seja a melhor maneira, mas qual é então?!, não estou falando aqui sobre o teatro, tenho certeza que ele é um instrumento eficaz para colocar as pessoas e pensamentos em movimento, mas será que não existe outras formas?!!!
À tarde fomos assistir uma apresentação teatral do ponto de cultura A Bruxa tá solta, a história se passava em uma sala de espera de um posto de saúde, onde 4 personagens falavam sobre a situação da saúde, a questão da gravidez na adolescência, os idosos e as doenças. Foi divertido.
À noite estava marcado de fazermos um grande cortejo com os pontos e feito, os pontos de ciranda, festa junina, capoeira, teatro, se juntaram ao Tá na Rua e fizemos um cortejo pelos corredores de Humanas da UFRR, caminhamos até à frente do auditório e lá abrimos uma roda onde cada ponto fez uma pequena intervenção, certamente a melhor foi a da festa junina, onde o “puxador” convidou todos para participar, foi uma gostosa dança coletiva!!!
Nossa intervenção foi mínima, apenas abrimos a trouxa, o Santini falou um pouco sobre o TNR e a Caravana e conduzimos as pessoas para o interior do auditório para assistirem nova apresentação do grupo A Bruxa está solta.
O meu sentimento não havia fechado, senti que as pessoas queriam nos ver, podíamos ter ido mais além, mas a burocracia do evento não permitiu, na verdade não sei se é bem isso, me parecia que os grupos locais tinham uma grande necessidade de se mostrarem para cidade, aquela (a Caravana) era uma oportunidade de terem seus trabalhos vistos, neste sentido talvez a nossa função fosse simplesmente abrir a roda para eles, de qualquer forma achei estranho pois parecia que os artistas queriam nos ver, trocar conosco, mas os comandantes entenderam por bem que era mais importante afirmarem seu valor e espaço que certamente são merecidíssimos.
Após entrarem no auditório, o Pimpolho soltou a música vai passar, a Luciana começou a dançar com o Aldo, e eu não pude resistir, quando vi, eu e Luciana estávamos dançando por todo o pátio, com as bandeiras (Brasil e TNR), foi um momento maravilhoso, coloquei tudo para fora e ao final estava me sentindo muito bem!!!
No dia seguinte, antes de sairmos do hotel rumo ao aeroporto, fomos agraciados com presentes (um livro maravilhoso de fotos de Roraima e postais da cidade). Sem dúvida foi a melhor recepção da Caravana até agora.
Ana Cândida

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

TNR na Praça do Teatro Amazonas...



23/09/08
Chegamos a Manaus no sábado, dia 20/09, logo fomos para o Largo São Sebastião, praça que tem o teatro Amazonas, faríamos uma apresentação lá na terça-feira, no lançamento do pontão de cultura do Cuca. A praça é linda, e o teatro também (estava fechado). No domingo fizemos um lindo passeio no encontro das águas (Rio Negro e Solimões), eu já conhecia, mas mesmo assim foi uma emoção, nosso Brasil é muito grande!!! Paramos em um bar flutuante e a cena era muito triste, pois ao redor, nas águas, tinha muitas garrafas, latas, ou seja, os próprios habitantes do local sujando o Rio Negro, fiquei pensando que deveria haver um programa de conscientização, tá na hora do povo, e claro de todos os empresários que poluem infinitamente mais que o povo com suas indústrias, começarem a cuidar melhor do planeta. Nesta subida para o norte pude ver como a nossa biodiversidade é rica, e mais, como temos terra. A distribuição de renda e terra são muito desiguais, nosso país com uma reforma agrária seria certamente mais justo, feliz e produtivo.
Pois bem, na segunda-feira fomos visitar o espaço da UEA (campos de saúde), logo na entrada o primeiro choque, fomos barrados pois não era permitida a entrada de bermuda. Fui conversar com o diretor para nos liberar, andando pela universidade indaguei as pessoas o porque da proibição, ninguém queria comentar, um homem disse que era um campo de saúde e que não podia entrar de bermuda nos laboratório. Ora se a questão é o laboratório, deveria ser proibida somente a entrada no laboratório. Destaco que o calor em Manaus é muito, motivo pelo qual esta medida além de preconceituosa é totalmente absurda! Na verdade senti que a proibição era realmente uma censura (homem e mulheres com perna de fora?!!), um funcionário disse que a universidade é um lugar de respeito. Conseguimos a liberação e fomos ver o espaço.
Recebemos a informação que os alunos estavam de férias, daí a questão: Vamos fazer o espetáculo para quem?!! A Une nos informou que iria levar secundaristas além da convocação da universidade. Achamos tudo meio estranho, a verdade é que infelizmente às vezes questões políticas prevalecem. Ok, faríamos de manhã naquele lugar estranho mas à noite sabíamos que iríamos para a praça, as vezes temos que negociar!!
Na manhã do dia 23, terça-feira, fomos para a UEA (Universidade Estadual Amazonas), e como imaginávamos não tinha ninguém, só os funcionários e a imprensa. Fizemos um pequena intervenção (encenamos marchinhas de Carnaval: Jardineira e Pierrot e Colombina, e fizemos a Regadeira) e encerramos visto que não apareceu nenhum secundarista!!! Já íamos para o hotel nos preparar para a atividade noturna quando veio o pedido da Une de fazermos uma intervenção na UFAM (Universidade Federal do Amazonas), ficamos putos, discutimos com a produção pela desorganização, mas acabamos indo fazer, achamos melhor fazer para depois discutir com a coordenação. Na UFAM fizemos um cortejo pelos corredores passando por dois bandejões, nos quais havia uma grande concentração de pessoas, fomos muito bem recebidos, divulgamos a programação da noite.
Às 17:30 fomos para a praça, estava linda, o teatro Amazonas aberto (estava acontecendo um espetáculo, podemos entrar para conhecer e ainda deu para assistir um pedacinho!!!), o palco montado para o lançamento do Pontão, cadeiras dispostas na praça, capoeiristas se apresentando, pessoas sentadas nos bares, pipoqueiro, barraca de tacacá , de churros. As atrações da noite começaram, primeiro aconteceu a apresentação de um ponto de cultura de danças indígenas e logo em seguida, depois do pronunciamento de um artista, foi anunciado pelo Santini a chegada do Tá na Rua, a música mecânica parou e entramos tocando e cantando o hino do TNR, a grande roda se montou, soltamos o som mecânico e abrimos a nossa trouxa da qual saíram os trapos coloridos para contarmos nossas histórias!! Fizemos o Campônio, as Duas Portuguesas e o Carinhoso, foi tudo muito lindo, a roda no decorrer do espetáculo só aumentou, parecia um sonho estar naquele local cercado de gente bonita, éramos uma coisa só, tudo fazia parte do espetáculo, encerramos ao centro abraçados juntamente com um casal de senhores!!!
A festa continuou, teve a apresentação de uma cantora local, a intervenção de um travesti (apareceu na hora e pediu ao Santini para se apresentar) e por fim o show do Jorge Mautner e Nelson Jacobina.
Entregamos um livro do TNR para a Federação de Teatro do Amazonas, representante Sérgio Lino, ele foi nos assistir na praça, disse que não sabia que o TNR estava na cidade, que era uma pena irmos embora pois haveria um Festival de Teatro na próxima semana, gostou muito de nos ver e falou que em março do ano que vem haverá outro Festival com oficinas e seria muito interessante o TNR participar. Muitas pessoas vieram falar conosco, dizer que gostaram, anotaram o blog, pediram para o TNR voltar logo. Eu e o Aldo estávamos saindo do hotel à noite e um cidadão nos chamou para dizer que havia adorado nossa apresentação. Embora tenha sido curta (por questões do evento em estávamos inserido) foi bem intensa, e certamente deu para mostrar um pouquinho do TNR, da nossa maneira de fazer teatro e de celebrar a vida!!
Ana Cândida

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ha' muito que não escrevo sobre esta jornada

Muitas coisas aconteceram e muito rápido.

Voltaremos alguns estados...

Saímos do Sudeste e o Sul passou como um furacão, fizemos a região em uma semana. Recorde mundial.

Curitiba. Na minha cabeça, ainda tem algumas imagens de lá, as imagens de um hotel quase mal assombrado e em obras. Nos refugiamos no salão de jogos. Pela primeira vez a equipe artística confraternizou.

Seguimos para Floripa. Chegamos, nos instalamos no hotel, fizemos a pré- producao (antes demos um pulo rápido na praia mole, quase uma maratona) dia seguinte, producão. Nove horas da manhã, fomos recepcionar os catarinenses. Bum, bum, bum bate o tambor. ESCÂNDALO, CRISE NO GRUPO, REFLEXÕES, APRENDIZADO, TRISTEZA. Esse assunto merece um texto só pra ele.

Opa, nem vimos e chegamos no Rio Grande do Sul. Apenas dois dias de trabalho. lembro ainda de uma coisa simples que quero escrever, porque foi muito significativa para o meu entendimento sobre vida, destino e esse tal espetáculo que já está escrito .

A intervenção desta vez não foi na capital e sim em São Leopoldo, cidadezinha a uma hora de Porto Alegre. Estávamos todos nos preparando para conhecer e trabalhar na Serra Gaúcha. Coisa fina.

Eu cheguei no hotel e logo peguei um ônibus para Porto Alegre, almoçar com a minha familia e voltar rapidinho.

Eu fui saindo daquela cidadezinha do interior e chegando na capital gaúcha por uma porta , por um lado que nunca tinha visto, em toda minha vida nunca entrei em Porto Alegre pela aquela entrada: enferrujada, a linha do trem que eu avistava do onibus me situava nos pequenos distritos, a sociedade descendente de alemães estava mal protegida do frio. Eles eram faceiros, andavam para um lado e pro outro, rápido, com mil sacolas, filhos, o trem lotado, queriam chegar no mesmo lugar que eu.

São Leopoldo estava muito longe da Serra Gaucha.

A primeira vez que eu adentro pela capital que há muito me acolhe com berço familiar é com o grupo Ta Na Rua, alias, me parecia tão natural o Ta Na Rua estar na periferia enquanto a capital pulsava com o Porto Alegre em Cena, festival de excelente qualidade que conhecemos e nosso mestre ja deu palestras.

Ta Na Rua nao teve tempo nem de dar uma espiadinha na capital, foi levado para o outro lado do Guaiba.

Os dois dias se passaram logo e pronto: finalizamos o Sul.
Maratona Nacional: Saude, Educação e Cultura na Região Sul em apenas cinco dias.

O grupo chegou em Mato Grosso do Sul exausto, insatisfeito, querendo mudar, na regiao Sul trabalhamos e não tivemos tempo de avaliar, isso eu nem sabia que era tão fatal. Em Campo Grande mesmo, capital, nos fizemos uma reuniao com a equipe toda e algumas coisas se ajeitaram, os produtores foram solícitos com a gente e nós voltamos a respirar.

Mato Grosso do Sul, tem um clima interessante, meio levemente gaúcho, meio outra coisa. Talvez, Centro-Oeste, hehehe.

Fernanda Paixão

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Muito teatro, alegria e animação no Acre!!!!

19/08/2008 Dia de programação na Universidade, mas hoje é especial, temos uma oficina no caminho. Chegamos na universidade às 12:00 horas para realizar uma intervenção no RU (restaurante universitário). E lá fomos nós, o cortejo embalado pelo dia anterior caminhou até o RU e a roda se abriu, os estudantes se aproximaram desconfiados, primeiramente narramos a piada de Jesus, Judas e as drogas, foi divertido, o público reagiu bem, mas não sabíamos se estávamos agradando. Em seguida entrei narrando a piada do plano de saúde e os dois voluntários que fizeram os doentes tiveram uma ótima performance. Já íamos fechar nossa trouxa, sem saber ainda o público gostava do que via, quando anunciamos a despedida eles pediram mais uma, e assim foi feito, a Fernanda no centro da roda narrou a piada dos dois maconheiros presos, na qual o juiz concederá a liberdade se converterem pessoas a largar as drogas. Eu fiz a Juíza e me diverti horrores, o público era como um ponto, davam várias sugestões para minha narrativa. Os réus por fim explicaram o método utilizado, do desenho de dois círculos, só que o primeiro fazia a analogia com a cabeça com muito conhecimento sem as drogas e com pouco com as drogas e o segundo dizia que o desenho pequeno é o cú pequeno antes de entrar na cadeia, e o grande....!!! Foi muito engraçado, tínhamos contado esta piada uma única vez na UVV no ES, e não tinha funcionado tanto, até por isso não havíamos repetido. A verdade é que cada lugar é um lugar, e certamente o discurso do narrador vai melhorando com a prática!!! Logo em seguida seria a oficina, combinamos o horário entre 13:30 às 14:00 para começar, às 13:45, tinha chego uns 10 homens, cadê a mulherada de Rio Branco?!!! Começamos um papo e aos poucos as pessoas foram chegando, inclusive o coletivo feminino, iniciamos a oficina com uma 40 pessoas, os retardatários perguntavam: O que eu faço?! E dávamos a clássica resposta: Vista o que quiser e dance!!!! No dia anterior tínhamos buscado o melhor espaço para a oficina, e foi difícil, pois não havia um local amplo e plano, os gramados (que tinha muito mato) eram irregulares, e os espaços planos eram pequenos, escolhemos o maior local que tinha na beira do gramado, sabíamos que era pequeno, mas dependendo do número de pessoas tínhamos uma grande área de escape. As pessoas de cara foram se soltando mas o caos imperava, aos poucos fomos nos organizando e surgiram as primeiras duplas, trenzinho e o necessário e sempre bem vindo cortejo, que logo ganhou os gramados, em pouco tempo nossa roda estava aberta no gramado e uma cena linda aconteceu, um dos atores subiu em uma árvore que era o centro da roda e realizou uma dança cheia de acrobacias e vida, três garotas giravam em torno da árvore com tecidos coloridos, e nossa roda completava a celebração, foi mágico!!! Muitas foram as manifestações naquela tarde, para finalizar convidamos os atores a fazerem o Abre essas pernas junto conosco (a maioria tinha visto na praça), e foi maravilhoso, coletivo masculino e feminino fortes, botando pra quebrar!!! Abrimos então nossa roda de conversa, e logo no início uma das professoras de artes cênicas da universidade, disse que ficou muito emocionada com a oficina e com a ocupação que fizemos do espaço, que quando saímos em cortejo para o gramado, sem saber tínhamos ocupado e feito teatro no espaço em que será construído o prédio de artes cênicas que está a a três anos na planta e forças ocultas não querem o prédio. Eles estão lutando para firmar o curso de artes cênicas na Universidade. Acho que todos da roda deram sua opinião, disseram que nesse tipo de oficina se treina tudo, espaço, corpo, coletivo. Uns disseram que foram para lá achando que ia ser uma coisa chata, que iam ficar fazendo personagem e que se surpreenderam, que quando dissemos que era só dançar, a princípio não entenderam, mas que fazendo e conversando tudo ia clareando. Tinham atores de um grupo de rua que ficaram muito interessados no treinamento e no que falamos sobre a construção da nossa dramaturgia e do uso da narrativa, disseram que ainda fazem apresentações com diálogos, mas estão pesquisando a melhor forma. Outros disseram que é muito importante para Rio Branco e para a Ufac receber um grupo como o TNR, que seremos sempre bem vindo. (Tudo está sendo gravado e será material para a Memória do TNR). Como é bom fazer oficina, para os de fora e os de dentro da Caravana, é a segunda vez que fazemos e ela certamente nos renova!! A nossa programação do dia estava praticamente fechada, tínhamos o compromisso de fazer um cortejo e abrir uma roda para nossos queridos circenses se apresentarem. Era 18:30 horas e não sabíamos para onde encaminharíamos o nosso cortejo, a princípio iríamos para o RU mas ele estava vazio. Sabíamos que o auditório estava lotado (estava acontecendo debate sobre saúde, educação e cultura), certamente seria o melhor local, então nos encaminhamos para lá, quando fomos entrar no prédio as pessoas começaram a sair, acredito ter sido ótimo, pois eles saíam de um debate cabeça e se encontravam com artistas, nós cantávamos: Quem é você diga logo que eu quero saber.... Ocorre que estávamos no contra fluxo das pessoas e os corredores estreitos no impediam de abrir a roda, decidimos então seguir em cortejo para o RU. E foi inexplicavelmente perfeito, quando chegamos no RU e começamos a abrir uma roda, foram chegando muitas crianças (era um ponto de cultura de crianças que tocavam percussão, a maioria dos instrumentos eram feitos de coco), o circo estava pronta para receber os artistas. O Emerson o Xixi e a Floriana fizeram uma apresentação linda, e o Pimpolho colaborou muito bem, fizeram números de bola de contato, malabares, corrida de monociclo, tudo com muito teatro. As crianças foram ao delírio. O Pimpolho narrou o fechamento do espetáculo e abriu para as crianças se apresentarem, disse que agora nós éramos os espectadores. E aí foi demais ver umas 30 crianças tocando, cantando e até dançando, fizeram uma ciranda linda!!! Fim de um emocionante dia de trabalho e de uma estada maravilhosa e de muito crescimento em Rio Branco!!! Ana Cândida

Tá na Rua no Festival do Acre!!



17 e 18/09/2008
Chegamos no Acre, capital Rio Branco, ainda no ônibus vimos um outdoor que dizia acontecer na cidade um Festival de Teatro, que maravilha, chegamos no hotel, despachamos a bagagem e nos encaminhamos para o teatro.
Lá fomos muito bem recebidos, todos ficaram felizes do TNR estar na cidade, não imaginavam que apareceríamos. A Brigitte Bentolilla e a Suely Rodrigues (que trouxe o TNR para o Acre em 2002) ficaram extremamente alegres, mandaram mil beijos para o Amir. Conversamos com o Lenine coordenador do Festival – Fetac em Cena (Lenine mandou abraços para o Licko), e acertamos de nos apresentar no Festival no dia seguinte, eles nos dariam a estrutura de transporte, água e ponto de luz. Falamos também com o Écio, coordenador do curso de artes cênicas na Universidade Federal do Acre e combinamos de no dia da programação da UNE fazermos uma oficina com os alunos e mais qualquer interessado. Melhor impossível!!!
Assistimos ao espetáculo da noite que se chamava O ensaio surreal do grito sufocado, realizado por um grupo de Xapuri, terra de Chico Mendes, o espetáculo foi criado em uma delegacia desativada, e trata da vida de Chico Mendes. Adaptada para o palco creio ter perdido muito, as cenas isoladas, não davam conta do espetáculo. O mais interessante é que depois de cada espetáculo tem um debate, e o público participa efetivamente, são muitas opiniões, o povo faz suas críticas, diz que não entendeu, que podia ser melhor nisso ou naquilo, que não tinha sentido, é maravilhoso, por mais absurdas que sejam certas colocações ninguém vai para casa com a cabeça cheia, todos emitem suas opiniões de maneira democrática, por vezes tumultuada, mas certamente é um momento de crescimento fantástico para cada um e para o coletivo.
No dia seguinte, 18/09 estávamos animadíssimos e ao mesmo tempo cheio de dúvidas, sabíamos que possuíamos um repertório extenso, mas não sabíamos como costurar a narração. Ainda mais considerando a espectativa do público de ver o TNR. Primeiro pensamos em desenvolver uma narrativa que vem dando certo que é sobre o Amor, na qual costuramos falando sobre o amor, o homem e a mulher, apresentamos os números da Dra. Paixão (criada pela Fernanda juntamente com o coletivo), do Ébrio ou do Campônio, Portuguesas, Abre essas Pernas, e Carinhoso. Mas depois achamos que era melhor darmos uma aula aberta, que a costura fosse o conhecimento de cada um e de todos sobre o TNR, então seria possível entrar não só o roteiro do Amor mas também as piadas e outras narrativas que estamos trabalhando. Isso nos aliviou!!!
Fomos para a praça do Mercado Velho, lindo, à Beira do Rio Acre, escolhemos o melhor local para posicionar nosso equipamento e colocamos as bolsas no centro da roda. A montagem do som atrasou por conta da produção do Festival, algo compreensível, considerando que nosso espetáculo foi um encaixe numa programação já fechada. Quando o público chegou (muitos vieram do espetáculo anterior que aconteceu no teatro do SESC), o Pimpolho ainda estava passando o som e estava tocando umas músicas pop americana, eu a Fernanda e a Lu fizemos uns três números com essas músicas e o público local foi se chegando e logo nossa roda estava formosa para iniciar o que já havia se iniciado!!! Fomos abrindo as malas, apresentando e espalhando nosso material e instalando a bolha do teatro.
O Pimpolho ia nos apresentando e dizendo que faríamos alguns números do Tá na Rua, que não tinha nada marcado, ninguém tinha personagem e que as histórias aconteceriam ali naquele local, naquele momento. Iniciamos com o Coração Materno, depois fizemos as Portuguesas, contamos a piada do Coelho, apresentamos o Abre essas pernas, estas duas últimas deixaram algumas poucas pessoas perturbadas, quer pela questão das drogas quer pela questão do sexo, mas a maioria reagiu bem, eles não acreditavam no que estávamos fazendo, acho que ficaram impressionados com liberdade que trabalhávamos. Fizemos um pré encerramento com o hino brasileiro - O Carinhoso -, neste momento todos entraram na roda para dançar e então se iniciou a segunda parte do espetáculo, finalizamos o Carinhoso com todos juntos no centro da praça abraçados (que emoção!!).
Em seguida soltamos o Samba enredo do Amir e TNR, e a praça virou um grande salão de baile a céu aberto, com direito a uma lua maravilhosa, e os acrianos mostraram que entendem da coisa, eles pediram Ciranda para o Pimpolho mas antes, soltamos um Funk (um pedaço da música - Cada um no seu quadrado), a praça inteira dançando, era uma energia só, em seguida entrou o Cirandeiro e foi montada a grande ciranda, a praça pulsava no centro da cidade e para encerrar só mesmo o Rei com Emoções.
Muitos vieram falar conosco que gostaram muito, um disse que nunca tinham pensado em dançar na praça que era maravilhoso, outro queria saber como fazíamos para amarrar nossos espetáculos, outro disse que éramos atores com muita presença, acho que confundimos a cabeça deles com nossas maneira livre, sem grades regras e técnicas de nos apresentarmos. E se isso os atraiu, só saberemos amanhã, pela frequência na oficina, tendo em vista que não houve tempo para o debate considerando que o outro espetáculo iniciaria em seguida.
Depois do jantar eu e o Aldo fomos para o SESC, lá, algumas pessoas vieram nos parabenizar. Não deu tempo de ver o espetáculo mas pegamos o debate. Que mais uma vez foi maravilhoso, a peça que foi apresentada chamava A Barca, baseada no Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, e o grupo era um grupo evangélico da igreja batista. A discussão foi fervorosa, o púbico questionava porque eles mandavam o personagem do palhaço para o inferno (tinha muitos artistas palhaços na platéia que ficaram putos), o grupo justificava dizendo que por trás do palhaço havia um homem mal que batia na mulher, mas o público dizia que isso não aparecia, que por ele estar vestido de palhaço era o artista que ia para o inferno, outro sugeriu que no local do palhaço mandassem o papai noel para o inferno!!! Criticaram o fato de ter troncos de árvore no cenário que isso estimulava o desmatamento!! Questionaram que no final a única mulher que era salva estava impecavelmente vestida ostentando riqueza e vaidade, se isso era coisa da igreja?!!! Tiveram alguns que disseram que um grupo de igreja não deveria participar de um Festival como este!! Várias questões e discussões calorosas marcaram o debate, que mais uma vez creio ter contribuído para o crescimento de todos.
Antes de finalizar os escritos de hoje, gostaria de dizer que em conversa com alguns moradores de Rio Branco, nos foi informado que o herói Chico Mendes, na verdade não era tão herói assim, algumas pessoas têm aversão, dizem que muitas das nossas riquezas foram entregues por ele aos estrangeiros. Eu tinha comprado uma camiseta dele, e por via das dúvidas acabei trocando por uma do Acre.
Por fim, outro episódio que ficamos sabendo foi que algumas pessoas aqui não gostam do Tá na Rua. Disseram que quando o Grupo veio em 2002, o governador tinha sido caçado e o movimento teatral e parte da população estava contente, pois o governador possuía má índole e o ideal era que ele de fato saísse. Pois bem, nos disseram que o TNR fez uma intervenção à favor do governador, e sendo um grupo de fora, do RJ, tinha muita visibilidade. Outrossim, tenho certeza de que quem nos viu pode mudar esse posicionamento, principalmente aqueles que conversaram conosco. Mais um evento que nos faz pensar qual é a postura que devemos tomar diante de determinadas questões (políticas, religiosas,...), é verdade que nunca se pode agradar a todos (e nem é essa a pretensão), e em certas situações realmente não podemos ser omissos, assim creio que devemos estar sempre bem informados, atentos e ter cuidado com estas questões. Creio que este cuidado tem norteado nossa participação na Caravana.
Aguardamos muito felizes o dia de amanhã, para quem sabe fechar com chave de ouro nossa estada nessa maravilhosa cidade de Rio Branco, estado do Acre!!!
Ana Cândida

Colorindo o Bairro Universitário e nossas vidas!!!






15 e 16/09/2008
Chegamos em Porto Velho – RO, sábado dia 13/09, durante o dia já ficamos sabendo que as coisas estavam complicadas, o MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário) e o DCE da Unir, não queriam ver a Une nem pintada de ouro. As negociações começaram entre as lideranças, e nós artistas sabíamos que não faríamos qualquer atividade na universidade se não fossemos recebidos, não queríamos novamente ser expulsos de um local por questões políticas da Une.
No dia 15, segunda-feira, na pré produção foram na Universidade um representante da Une e 4 produtores, nós iríamos mais tarde para fazer o reconhecimento do espaço e combinar a atividade, ocorre que a recepção ao pessoal foi dura, o DCE disse que não permitiriam a atividade da Une no dia seguinte, além do mais a universidade estava em greve. Diante disso fomos orientados a não comparecer na Unir. Dois artistas (Floriana e Xixi, chegaram a ir lá e conversaram com o pessoal do DCE, que entre outras coisas disseram não querer a implantação do projeto da Une que amplia o número de cursos e pessoas na sala de aula, pois atualmente não tem professor nem para os cursos já existentes).
Foi decidido então que as atividades seriam realizadas em outra universidade chamada Uniron, fomos então fazer o reconhecimento do espaço. Assim que chegamos com o ônibus, notamos que na frente da universidade havia uma comunidade. Entramos na universidade, vimos os espaços, certamente a atividade aconteceria na praça de alimentação, local de maior concentração de estudantes. Fato é que todos nós, principalmente as meninas (eu, Lu, Fe e Flor) estávamos loucas para entrar na comunidade e pensar uma atividade lá.
E assim foi, saímos da Universidade para conhecer a comunidade e pedir permissão para realização de uma atividade lá no dia seguinte. Estávamos indo só as mulheres, quando o Aldo veio correndo atrás de nós dizendo que iria nos acompanhar a princípio por questão de segurança (depois ele se deu conta de como foi ótimo ter nos acompanhado por questões muito mais importantes!!!).
Fomos entrando de mansinho, sabíamos que era uma invasão recente (cerca de 1 ano), perguntamos para a primeira pessoa que vimos quem era o líder, soubemos que era o Irmão, fomos conversando com as pessoas que víamos nas casas e logo chegamos ao Irmão. Conversamos com ele, dissemos quem éramos, perguntamos qual relação tinham com a Universidade e como tinha ocorrido a invasão.
Ele nos disse que a invasão, ou melhor ocupação (assim que eles definem) ocorreu pois sabiam que o terreno estava vago e que não tinha proprietário definido, então resolveram ocupar, muitas pessoas que estavam ali tinham casa mas não conseguiam pagar o aluguel e por isso foram para lá, que hoje havia umas 200 famílias. Uma senhora nos disse que não morava lá mas estava ajudando na construção do bairro pois no futuro pretendia habitar o local para que seu filho, que hoje tem 12 anos, ficasse perto da universidade e não precise gastar dinheiro com passagem. Disseram que a Universidade nunca os procurou.
O mais interessante foi quando soubemos o nome do local: Bairro Universitário. O Irmão nos disse que muitas pessoas dissera que não deviam fazer essa homenagem as universidades pois elas não estão nem ai pra eles, mas ele disse que acredita na possibilidade de diálogo com as universidades afim de garantir o estudo de seus filhos.
Falamos sobre nossas intensões, e fomos bem recebidos, e assim ficou marcada nossa intervenção artística para o dia seguinte, 16/09, às 15 horas.
Às horas que se seguiram até o momento da nossa entrada no Bairro Universitário, foi de grande expectativa. Tinha ouvido o Irmão falar que desejava fazer uma faixa dizendo os direitos do homem, logo pensei no tecido de faixa e no spray que tínhamos, a isso incorporei a compra de tinta guache para que as crianças pintasse. Conversando com o grupo pensamos que seria legal não uma faixa de direito mas uma na qual sobre as pinturas das crianças escrevêssemos o nome do Bairro.
Dia 16/09 no horário combinado entramos em cortejo pelo Bairro Universitário. Caminhamos por entre as ruas de barro até chegar no local acertado, abrimos uma roda, as pessoas foram se chegando, na maioria crianças (os adultos a maioria estava fora trabalhando). Tínhamos pensado de contar o Inferno Nacional, mas dentro daquela conjuntura infantil já não fazia mais sentido. Foi então que o Pimpolho começou a contar a história de uma nuvem que queria perturbar as crianças (nisso entramos com a faixa que seria pintada) e para ela ir embora precisávamos fazer um ritual. A nuvem foi estendida no chão, pegamos as tintas, as crianças lambuzaram as mãos, braços para o alto, rodamos em volta do tecido cantando para a nuvem e no sinal de atacar todos marcaram suas mãos na nuvem. Foi uma festa, além das mãos escrevemos os nomes das crianças. Em seguida a faixa foi estendida e o Pimpolho escreveu bem grande: Bairro Universitário, e com letras menores, dos amigos do Tá na Rua para o AMBU (Associação de Moradores do Bairro Universitário).
Os circenses se apresentaram e as crianças adoraram. Tiramos muitas fotos e os documentaristas filmaram tudo (combinei de enviar o material todo para o Irmão), pode ser útil na questão jurídica em que eles brigam pela propriedade da terra além é claro da recordação de um momento feliz. Chegou a triste hora de partir, os adultos nos agradeceram muito, saímos em cortejo, as crianças os acompanharam até deixarmos o Bairro.
Foi um grande presente ter contato com pessoas do Bairro Universitário, são pessoas maravilhosas, nos trataram muito bem. Aprendemos muito com eles sobre cidadania, trabalho coletivo, organização interna, preocupação com o meio ambiente, futuro de seus filhos e principalmente recebemos muito afeto das crianças!!!
Faltava agora enfrentar a programação noturna na universidade, estávamos exaustos mas cheios de amor para dar. Às 19 horas estávamos na praça de alimentação da Uniron, abrimos uma roda e contamos o Inferno Nacional, a praça toda ficou mobilizada com nossa apresentação, foi uma delícia, fomos muito aplaudidos. Isso nos fortaleceu tanto que decidimos seguir em cortejo para o outro campus da universidade (onde estava a tenda da Une), fomos cantando marchinhas de carnaval e os alunos foram se divertindo. Quando chegamos na tenda íamos encerrar mas tinha tanta gente envolta que abrimos uma roda!!! Contamos a piada do coelhinho e fechamos bem e felizes, depois de um intenso e engrandecedor dia de trabalho!!!
Nunca esqueceremos o Bairro Universitário, o Irmão, o Tonico, a Maria a Nely, e todas as crianças!!!
Ana Cândida

domingo, 14 de setembro de 2008

Maratona Mato Grosso

10 e 11/09/2008

Depois de uma viagem de 10 horas, chegamos em Cuiabá, MT, e à noite já tínhamos uma intervenção marcada na UNIC (Universidade Cuiabá). Fomos para lá sem nada preparado, estava um calor insuportável, a três dias atrás a temperatura no Sul era de 4º C e agora o termômetro marcava 42º C.
O Campus era muito amplo, e pelo horário, 18:30 o fluxo de entrada de alunos era grande, acertamos que faríamos um cortejo da entrada para o auditório no qual haveria exibição do filme da UNE do Silvio Tendler, e no melhor local faríamos uma intervenção. Combinamos com o Luiz e o Emerson (os circenses) de participarem conosco, da narrativa do Inferno Nacional.
Partimos para a porta da Universidade e logo estávamos em cortejo, quando chegamos nas catracas da entrada da Universidade, resolvemos ultrapassá-la e ganhar a rua. E ali do lado de fora da Universidade abrimos nossa roda. Cantamos e invocamos os mambembes, artistas, o circo e o Emerson entrou fazendo um número com a bola de contato. E então aconteceu o que a tempos não acontecia, entra na roda nosso Exu, uma senhora linda que cambonada com um tecido azul dançou no centro da nossa roda. Agradecida a sua participação e dada a permissão para iniciarmos os trabalhos, o Pimpolho começou a narrativa do Inferno Nacional, fomos contando a história junto com o Circo, na hora e que o falecido entra no inferno os circenses fizeram um número cm malabares de fogo, e no final quando ele chega no departamento do Brasil, dissemos que havia um clima festivo e um circense entrou no monociclo jogando claves, e nós brincávamos ao redor. O Emerson ainda fez o rapaz da fila que falava com o falecido. Foi muito bom, a roda no decorrer da narrativa se formou. Apresentamos os atores, falamos sobre a Caravana e convidamos a população a entrar na universidade para participarem da programação. Saímos em cortejo na direção do auditório.
Um garotinho de uns 10 anos, quando nos viu chegar na rua, ficou maravilhado e me disse que nunca tinha visto um circo, ele nos acompanhou no cortejo até entrarmos no auditório. Haviam bastante alunos para o debate, o Pimpolho nos apresentou e lhes disse que a nossa forma de agir na sociedade e fazer política era através da arte, que nosso papel ali era ser uma ponte entre a universidade e a população, que essa troca precisa existir, que naquela noite aquele garoto havia entrado ali conosco, será que isso aconteceria outras vezes?!!Pode?! Deve acontecer?! Como não nos fecharmos dentro de um prédio?! Como estabelecer contato com o mundo lá fora?!! Fomos muito aplaudidos, deixamos o auditório cantando e felizes, com a convicção da importância de sairmos dos portões da universidade para nos fortalecermos.
No dia seguinte ainda tínhamos duas intervenções para fazer, estávamos esgotados, mas a Caravana continua, e precisamos achar uma forma de lidar com esses dias mais intensos.
Por conta da apresentação não foi realizada a pré produção na UFMT, o que inevitavelmente prejudicou a programação.
Às 12 horas do dia 11, estávamos no refeitório universitário da UFMT, no cortejo de chegada o Pimpolho estava vestido com uma sainha curta e uma mini blusa, os alunos ficaram agitadíssimos!!! Abrimos a roda e nos apresentamos, falamos sobre a Caravana e seus temas, e dissemos que ali apresentaríamos algumas narrativas que tratavam desses temas da nossa maneira. Os alunos abriram uma roda consistente mas olhavam desconfiados. A primeira narrativa foi a das freirinhas, logo que as garotas abandonaram o hábito e surgiram de roupas íntimas, o público se entregou e daí pra frente participaram ativamente das narrativas. Narrei a piada do plano de saúde e dois alunos fizeram os pacientes, a Lu fez a enfermeira gostosa e o público foi ao delírio. Reparei que algumas meninas que estavam vestidas de branco (não sei o curso, mas provavelmente enfermagem, ou fisioterapia, ou medicina) não gostaram muito da figura da enfermeira, em outra universidade as meninas de enfermagem já havia nos falado que não gostam que coloquem a enfermeira como a gostosa (deve ser porque perde dignidade, será?!!), de qualquer forma com o desenrolar da piada, elas se divertiram também. Por fim foi narrado o coelho. Fechamos nossa trouxa e partimos...
À noite fizemos somente um cortejo passando por três blocos da universidade, fato é que o local que foi instalado o som (que utilizávamos normalmente para as apresentações noturnas), era totalmente ermo, o que nos forçou a sair com o tambor. Foi muito difícil pois a cada bloco tínhamos que cortar o fluxo pois as distâncias eram muito grandes. Antes de sairmos e durante o cortejo também houve desentendimento entre nós e a produção, o que complicou ainda mais os afetos para realização de um bom e feliz cortejo. Ainda assim, a maioria das pessoas que cruzamos nos recebeu com sorrisos que a mim permitiram chegar ao fim do dia.
Esta semana foi muito cheia e intensa, necessitamos de um tempo para reflexão. Amanhã partimos para Porto Velho – RO, uma viagem de 22 horas, pretendemos no sábado sentarmos para avaliar os acontecimentos e buscar coletivamente novos caminhos, sabemos o que significou a realização da oficina e a a presentação fora da universidade, e certamente vamos trabalhar para que ocorram mais vezes.
Ana Cândida

Oficina maravilhosa!!!





9/09/2008
No dia 7/9 houve uma reunião geral da Caravana, na qual foi discutido principalmente a participação da cultura, ou seja, o Tá na Rua, o circo e a Floriana, falamos muito sobre o que estávamos sentindo (dificuldade em continuar fazendo uma programação regrada de cortejos e apresentações dentro da universidade) e propomos novas coisas, tais como a realização de oficinas com turmas principalmente de humanas e realização de espetáculos fora da universidade (na porta, ou em praça próxima), sentimos a necessidade de nos religar com o povo no sentido mais amplo. As idéias foram bem recebidas, no entanto nos foi exigida uma participação maior o dia de pré produção para podermos propor as coisas e fechar a agenda juntos.
Assim foi feito, no dia 8/9 partimos pela anhã para a UFMS, e no reconhecimento do espaço, como que por encanto encontramos a Aline (ela fez oficina – Só o teatro salva - com o Amir, na turma do Nando e da Geovana), ela nos disse que estava fazendo mestrado na universidade e que possuía uma turma de teatro que dava aula que tinha uns 10 alunos e que seria maravilhoso poderem fazer oficina com o Tá na Rua, acrescentou ainda que à noite havia uma outra turma, com uns 30 alunos, que ensaiavam naquele dia, para irmos conversar com a professora para juntarmos as turmas e fazer a oficina no dia seguinte.
No mesmo dia eu e o Pimpolho fomos na UFMS convidar a turma da noite para a oficina, chegando lá eles estavam reunidos em roda na sala do DCE se apresentando para o Guilherme, entramos e sentamos na roda, nos apresentamos também. Por último quem se apresentou foi a professora Dominique, que nos disse que tinha trabalhado a dez anos atrás com o Amir fazendo o Auto de Natal em Natal, que foi maravilhosa a experiência, disse que o Amir dirigiu umas 1000 pessoas, que era lindo e que a participação neste espetáculo foi muito importante para que seguisse com o teatro, falou sobre a cultura nordestina e a importância dos cortejos, disse que estava muito feliz de reencontrar o Tá na Rua, e que era muito importante seus alunos terem contato com a linguagem do Amir.
Eu e o Pimpolho falamos um pouco sobre o Tá na Rua, o porque de fazermos teatro de rua, a relação com o espaço e o público e o treinamento coletivo dos atores, propomos a realização da oficina no dia seguinte às 17 horas, sendo que logo em seguida fariam um cortejo conosco antes da nossa apresentação que seria às 19 horas. Todos adoraram e assim ficou combinado.
Na manhã do dia 9/08 fomos fazer nossa apresentação matinal, e muitos dos alunos já estavam lá, curiosos para saber um pouco o que era Tá na Rua. Fizemos um cortejo e eles nos acompanharam, depois abrimos uma roda e apresentamos a Regadeira, as Freirinhas e a piada do Plano de Saúde, foi muito bacana.
Às 17 horas conforme o combinado estavam todos lá, uns 40 alunos, mais a Aline e a Dominique. Estávamos com dúvida em relação ao espaço que faríamos a oficina, mas a chuva, nos forço a escolher um espaço coberto, que era o local onde estava acontecendo a reunião do CUCA. Assim que acabou a reunião, tiramos as cadeiras e espalhamos as roupas coloridas, os alunos ajudaram, o Pimpolho soltou o som e começamos a dançar, soltamos as pernas, fizemos ciranda, e mais ou menos na quarta música, momento em que caía uma tempestade, entrou a música Chover (ou Invocação para um dia Líquido) do Cordel do Fogo Encantado, foi tudo, começamos a dançar com os panos e a chuva chamando lá fora foi irresistível, saímos todos para a chuva e abrimos uma grande roda no estacionamento da UFMS, logo a chuva parou e seguimos com a oficina no espaço aberto, fizemos cortejos e dançamos músicas afro, com muitos tambores, New York, Grease (Nos tempos da brilhantina) na qual apareceu o coletivo masculino e feminino, até o Cada um no seu Quadrado (que foi todo mundo em um Quadrado!!!!), dentre outras. Neste momento conversando com o Pimpolho desistimos de fazer cortejo e apresentação e seguirmos com a Oficina e tentarmos introduzir a narrativa para fazermos todos juntos. E assim foi, entramos com o Abre essas Pernas, os homens liderados pelo Aldo e as mulheres pela Luciana, fizemos um grande encenação, eram umas 30 mulheres e uns 20 homens, foi maravilhoso. Depois ainda fizemos as portuguesas e depois encerramos com o Samba Enredo do Tá na Rua. As energias ainda não haviam acabado e então juntos fizemos um grande cortejo pelo estacionamento e corredores da Universidade, todos haviam aprendido o música do TNR (Ó nóis aqui traveiz), foi lindo ouvir todo mundo cantando.
Foi uma troca teatral de afeto, energia e saberes, incalculável, nós precisávamos muito disso. Eles amaram, depois vieram falar conosco, muito felizes, dizendo que precisavam disso para ter mais força para continuarem seus trabalhos, mexeu muito com eles, tiramos muitas fotos juntos, trocamos contatos, a Dominique disse que fariam de tudo para o Amir poder estar com eles um dia.
Infelizmente, por questões de produção e demais eventos que tinham para acontecer, a avaliação coletiva do trabalho pós oficina, o que não deixou meu pensamento incompleto foi fato de que agora partimos mas podemos deixar um pedaço de nós que foi materializado no livro e no DVD do TNR, creio que possa auxiliá-los na continuidade do conhecimento sobre o que é o TNR.
O afeto não se esgotava e alguns deles chegaram a ir até a porta do hotel à meia noite se despedir da gente.
Espero realmente poder voltar a Mato Grosso do Sul e rever todos os que participaram deste dia mágico!!! Muita merda, teatro e amor para vocês!!!!
Ana Cândida

domingo, 7 de setembro de 2008

Contamos com o calor humano!!

4 e 5/08/2008
Acertamos com a UNE que no dia de pré produção faríamos um cortejo para divulgar a Caravana e a chegada do Tá na Rua na Unisinos. Fomos para Universidade no fim da tarde e logo na entrada fomos barrado pelo segurança que disse que não estava autorizada a entrada da van no local, considerando o último evento em Floripa já ficamos meio apreensivos.
Tudo certo, foi liberada a entrada, houve apenas falta de informação, fomos bem recebidos pelo representante do DCE, logo perguntamos se teríamos que ir no prédio de engenharia, se estava tudo acertado para nossas intervenções, depois do ocorrido na UFSC tomamos consciência que não é possível sair entrando de qualquer jeito nos espaços, e que precisamos nos certificar de que há um mínimo de pré produção e autorização para que as intervenções ocorram, além de um cuidado artístico nosso para aproximação e entrada nos espaços.
Estava um frio terrível, percorremos os espaços da enorme universidade, que possui cerca de 25.000 alunos, já fazendo o reconhecimento para o dia seguinte.
Decidimos fazer um cortejo no corredor que leva a entrada dos alunos que chagam de ônibus. Foi muito difícil colocarmos as fantasias e pegarmos os instrumentos para cantar naquele frio, mas fomos lá. Começamos a descer o imenso corredor cantando, rodando e agitando as bandeira, muitos alunos subiam em nossa direção e o sorriso que nos davam foi descongelando nossos corações. Quando chegamos na rua abrimos uma roda e outras pessoas se juntaram para cantar. Haviam muitas pessoas fazendo propaganda política (entregando santinho) e não queríamos ser confundidos como grupo animador de nenhum dos partidos que ali estava, além do mais o horário já estava avançado e os alunos ingressavam com pressa para as aulas. Retornamos em cortejo para o interior da universidade, abrimos uma roda anunciamos nossa chegada e a programação do dia seguinte.
O atraso do ônibus para sair do hotel no dia seguinte impediu que realizássemos a programação, tendo em vista que quando chegamos na universidade as aulas já haviam começado. Participamos do debate sobre os 20 anos do SUS, estava bem cheio e os alunos se colocaram de uma maneira muito bacana, uma das alunas falou que a participação nas coisas que dizem respeito aos coletivos e não aos indivíduos é uma questão de escolha e que ela tem muita vontade de trabalhar com o SUS e melhorá-lo. Outra disse que era difícil para os alunos se expressarem, mas que sabia da importância das questões que estavam sendo levantadas ali. Os palestrantes falaram da importância do SUS e de como ele precisa ser fortalecido pelo povo, e para isso é necessária a conscientização política das pessoas para que reivindiquem seus direitos, pois os planos de saúde fazem de tudo para que o sistema público não dê certo.
Estava muito frio e chovia muito, estávamos preocupados com as intervenções seguintes. Na hora do almoço fizemos um cortejo até o restaurante universitário, a idéia era abrimos uma roda do lado de fora, mas não havia ninguém fora do restaurante. O produtor conversou com o gerente e ele nos autorizou entrar, entramos de mansinho tocando e cantando. Abrimos a roda entre as cadeiras e as pessoas, nos apresentamos e antes de começarmos a contar uma história perguntamos se desejavam nos escutar, todos disseram que sim e então apresentamos a narrativa do Inferno Nacional, foi muito bacana, um professor levantou e dançou com a Juliana. Pedimos licença e partimos, novamente as pessoas nos aqueceram.
Para noite estava programada uma atividade mais intensa, teríamos a estrutura de som e nos apresentaríamos em um local aberto, ocorre que a chuva não cessou, o que nos obrigou a rever o roteiro. Fizemos um cortejo no corredor que dava para os pontos de ônibus (mesmo local da noite anterior), a universidade estava vazia, (sexta-feira à noite com chuva e frio!!!) mesmo assim algumas pessoas nos acompanharam e para elas abrimos uma roda, inclusive perto das enfermeiras que estavam na campanha da vacinação de rubéola, nos apresentamos e contamos a piada do coelho que foi acompanhada também por alguns alunos que foram parando. Fechamos a roda e saímos em cortejo até o DCE e lá abrimos uma roda e cantamos mais com outros alunos que ali estavam.
Acredito que a estada na Unisinos fez com que recuperássemos o fôlego para seguirmos nossa jornada. Obrigada São Leopoldo. Campo Grande aí vamos nós...
Ana Cândida

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá feia...


3/09/2008
Chegamos pela manhã na UFSC para fazer um cortejo como de praxe, não imaginávamos o que nos aguardava...
Fomos inicialmente para o prédio de saúde, entramos bonitos, coloridos, batendo o tambor para anunciar a programação do dia, logo na entrada do prédio um senhor/professor, tentou barrar nossa entrada mas o produtor ficou conversando com ele enquanto ingressamos no edifício.
Abrimos uma roda e os alunos do alto de três andares saíram de suas salas para ver o que estava acontecendo (o local era como um coliseu uma grade área térrea quadrada, circundada por salas de aula, o edifício possuía três andares, sendo que todas as salas davam para um corredor gradeado do qual se observava a área térrea, as salas eram como se fossem grandes camarotes), então, um membro da Une explicou sobre a Caravana e depois o Aldo foi ao centro da roda e disse que éramos do Tá na Rua, e saímos aplaudidos.
Ficamos com uma sensação de mal estar por não termos falado mais do Tá na Rua, pareceu que abrimos uma roda para a Une falar, isso gerou muita conversa depois sobre a nossa função. No entanto seguíamos a nossa programação da manhã, que agora era cortejar no prédio de Engenharia – CTC.
Até então na maioria das atividades da manhã realizávamos cortejos para anunciar a chegada da Caravana e do Tá na Rua, e dizer que nos apresentaríamos mais tarde. Quase sempre durante o cortejo abríamos uma roda e fazíamos alguma narrativa, dizendo que era uma pequena parte do que iríamos apresentar mais tarde.
Ocorre que quando entramos batendo o tambor e cantando no prédio do CTC, que era igual ao de Saúde, aconteceu algo que eu imaginava que aconteceria a qualquer momento nesta Caravana, mas não da forma e como foi, professores de engenharia, 4 especificamente, incitavam seus alunos a nos xingarem e a atirar objetos, a arena/o circo estava montado, todos os alunos saíram da sala, um dos professores, Sérgio Kohler, vociferava do segundo andar chamando-nos de vagabundos, comunistas, palhaços, ele tinha tanta raiva e tanto ódio, era uma cena horrível, chocante, o tempo que permanecemos no local ele não cessou um minuto de nos agredir, dizendo os maiores absurdos. Outro professor do alto do 2º andar nos atirava giz, outro na parte térrea chegou a agredir fisicamente o Herculano, e o quarto nos tomou a bandeira do Brasil e me disse que nós não podíamos usá-la para realizar uma zona, consegui recuperá-la com um aluno.
O mais absurdo de tudo isso, foi que eles não nos deixaram falar, explicar o motivo da nossa entrada no edifício nem por um minuto, não saia da onde saía tanto ódio. Não foi possível diálogo em momento algum. Os alunos, a maioria, comandados pelo professor Sérgio Kohler, nos agrediram verbal e fisicamente sem saber do que se tratava. No edifício anterior fizemos a intervenção em 5 minutos, certamente seríamos breves, certo ainda que se fossemos tratados com respeito rapidamente deixaríamos o prédio.
No momento que o Herculano foi atingido eu e o Santini chegamos a deitar no chão numa atitude de protesto, mas fomos erguidos pois a situação estava brava e o melhor naquele momento era sair de lá. O Aldo ficou descontrolado e tive que segurá-lo para não acontecer nada mais grave. Imaginem na Idade Média quando na arena soltavam as feras para devorar os homens e o público a toda volta gritado, era essa a sensação. Me senti muito mal vendo tudo aquilo, uma sensação de impotência em relação a uma agressão fascista, unilateral e sem possibilidade de diálogo.
Alguns alunos no decorrer e depois da confusão vieram nos pedir desculpas pela atitude excessiva dos seus professores e companheiros, dizendo sempre que acontece algo que foge da normalidade eles reagem assim. O reitor da Universidade também nos pediu desculpas, disse que teria conversado antes com os professores, que nós nos adiantamos. Certamente houve falha de comunicação e produção, mas isso não diminui o excesso e o horror que foi a reação do CTC.
O episódio foi muito triste, mas nos revelou muita coisa, nos perguntamos teatralmente como poderíamos ter agido, muitas coisas foram ditas, mas o fato é que na hora ficamos todos acoados com algumas atitudes isoladas, ninguém esperava aquilo principalmente dos professores da Universidade. Acho que foi muito importante revelar para os alunos que tipo de mestres eles têm, como um ser humano num país democrático reage desta maneira a uma manifestação artística. Creio que como muitos alunos nos falaram talvez a abordagem pudesse ter sido outra, mas a reação dos professores e alunos é injustificável, agressão verbal e física, sem ouvir uma palavra do que tínhamos a dizer.
Eu não sou de nenhum partido político e nem pertenço a qualquer entidade estudantil, sou artista, eu e o Tá na Rua acompanhamos a Une nesta Caravana por acreditarmos neste projeto, de levar temas da saúde (lei seca, aborto, drogas, SUS), educação (reforma universitária) e cultura (CUCA – circuito universitário de cultura) para serem discutidos pelos estudantes, sejam as posições favoráveis ou contra, sou muito feliz de viver num país democrático, poder expor a minha opinião e ouvir a dos outros, acho que somente debatendo questões importantes para o nosso país e principalmente que dizem respeito ao coletivo é que podemos encontrar caminhos para construir um mundo melhor.
Perdemos a capacidade de debater as coisas, a ditadura acabou com as possibilidades de organizações coletivas e desde então as aspirações da minha geração são: ter o meu dinheiro, alcançar o meu sucesso, ter a minha estabilidade, ter o meu emprego, ter a minha salvação individual... e isso meus queridos na minha opinião não leva a nada se, no meu entorno a situação de vida dos meus companheiros estiver uma merda. Ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém!
Para o Tá na Rua a possibilidade de percorrer o Brasil fazendo teatro, não um teatro de mensagem, mas sim, aquele que levante questões, que coloca as coisas em movimento, é muito interessante, acreditamos que a transformação do homem, a aquisição de conhecimentos se dá pela prática e pelo afeto e não pela cabeça, e por isso através da linguagem teatral e de contatos horizontais com as pessoas acreditamos que podemos colocar as coisas em movimento nos corações das pessoas e nos nossos também.
Tudo o que aconteceu nesse dia foi na prática, tocou o meu afeto, e tenho certeza que o de todos que estavam presente, creio que aqueles professores em suas aulas apresentam todas as suas teorias, mas ali, naquele “circo”que eles mesmos criaram, colocaram para fora numa situação real todos os seus pensamentos, do qual discordo em absoluto mas não tiro o direito deles de manifestarem suas opiniões “Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las” - Voltaire.
Considero a cultura fundamental para o crescimento de um povo, inclusive acho que se aprende muito mais sobre a vida fazendo arte do que tomando aulas através no nosso sistema educacional, que no caso universitário em grande parte educa para o mercado, para a competitividade, para o lema: “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Você passa anos estudando coisas para a sua formação pessoal e individual, poucas são as disciplinas e professores que nos fazem querer pensar, que querem que sejamos seres humanos críticos, coletivos, que tenhamos opinião sobre as questões da humanidade.
Não que não seja importante apreendermos o que nos ensinam na universidade, mas seria muito melhor que o foco de ensinamento e a pedagogia fossem mais amplos oque favoreceria sermos cidadão mais compromissados com o mundo.
A cena que sucedeu no CTC, deixou-me muito sentida, ver educadores com aquele comportamento nos dias de hoje, mostra que ainda estamos muito longe de termos um país melhor e mais democrático, as forças reacionárias estão soltas, e no que depender delas, a cultura popular, a discussão, os coletivos, devem sumir, o que deve prosperar são os valores da família, da tradição e da propriedade.
Mas como diz João Bosco e Aldir Blanc na canção “O bêbado e a equilibrista”: A Esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”
E continuamos, para colocar para fora toda a rejeição que sentimos e humilhação que passamos, nós artistas, na hora do almoço saímos pelos Campus da Universidade em um cortejo fúnebre, marcado pelo surdo, o Pimpolho e o Aldo vestidos de Policial e todos os demais amordaçados.
Primeiro ingressamos no prédio de Filosofia e Letras e abrimos uma roda, aos poucos o policial foi levando todos os amordaçados ao centro, eu estava com a Bandeira do Brasil, me coloquei na escadaria (como se fosse um palanque) e o Santini, vestido de policial se colocou ao meu lado e começou a chamar os amordaçados de vagabundos, comunistas, artistas desordeiros, que essa raça tinha invadido a universidade e perturbado a ordem e que deviam ser expulsos dali, neste momento um professor saiu da sala e pediu silêncio, o Santini subiu até o andar que ele estava e disse que o apoiava que precisavam acabar com o barulho, com a bagunça, que ali era um local de respeito, de estudiosos, ali se formava a sociedade do futuro, os grandes mestres, e que vagabundo não podia atrapalhar, aquele local era da elite, não admitia pobre comunista, que foi chamado pelo professor Sérgio Kohler para restabelecer a ordem na Universidade.
Estar dentro daquele prédio com arquitetura igual ao do CTC, ouvir o Santini dizendo aquelas palavras, estar com a boca amordaçada e segurando a bandeira do Brasil, tudo isso mexeu comigo, fiquei muito emocionada de estar ali naquele momento, eu era a artista vagabunda que ele e o Professor Kohler se referiam, passava mil coisas na minha cabeça, eu deixei minha profissão de advogada para ser artista vagabunda, por quê?! E ao mesmo tempo eu olhava ao redor, lembrava de tudo que havia sucedido e em como artisticamente e coletivamente eu podia dar uma resposta a tudo que eu estava sentindo, e assim contribuir para o meu crescimento e o pensamento dos outros e então concluía: Graças a Deus que estou artista no mundo e não advogada burocrática dentro das salas de ar condicionado!
O discurso do Santini seguiu, os alunos observavam e entenderam o que queríamos dizer, seguimos o cortejo e passamos pela fila do bandejão amarrados com o Santini proferindo o discurso do policial, entramos em 2 bandejões informando que naquele dia a universidade tinha sido invadida por artistas vagabundos mas que poderiam ficar tranquilos que já estava tudo sob controle, haviam alunos de engenharia em um dos bandejões, mas o discurso do Santini impediu que nos vaiassem, não sei se as pessoas entenderam, mas o mais importante é que as cabeças entraram em movimento: O que estava acontecendo ali? Alguns sabiam do que havia acontecido no CTC pela manhã, outros não...
Certamente o que sucedeu foi muito importante para refletirmos sobre vários aspectos, quer sejam teatrais, pedagógicos, de forma e de conteúdo, quer sejam educacionais, quer sejam humanos. As coisas entraram em movimento, no fim do dia já havia no youtube um filme do momento em que fomos expulsos do prédio (para acessar www.youtube.com.br pesquisar CTC expulsa UNE), e na comunidade do orkut da UFSC, já haviam mais de 60 comentários sobre o ocorrido.
Cancelamos nossa programação da noite, o dia havia sido muito turbulento, não sabíamos o que mais poderia ser feito na universidade, tal foi a repercussão dos acontecimentos, outra reação adversa seria muito violenta para o nosso frágil coletivo, que certamente apesar de tudo saiu de lá mais fortalecido.
Ana Cândida

Queremos Sol!






Queremos Sol
1º/09/08
Pela manhã fomos para a PUC-PR, não estávamos muito animados devido ao fracasso da apresentação na Casa do Estudante. Mas a Caravana segue e cada dia é um dia...
A tenda da Une desta vez foi montada em um local bem bacana, de grande passagem de pessoas. Fizemos um cortejo pelo Campus da Universidade e abrimos uma roda na qual contamos a piada de Jesus que solicita aos apóstolos que recolham as drogas do mundo e a já tradicional piada do coelho, os alunos formaram uma roda, alguns se sentaram à nossa volta e como na maioria das vezes foi bem divertido.
Resolvemos não fazer a apresentação do meio dia por conta de termos apresentado no sábado na Casa do Estudante, e os afetos não estarem muito sintonizados. Alguns voltaram para o Hotel e eu fiquei no debate sobre a Legalização da Drogas, foi muito interessante, este debate aconteceu no jardim da universidade, fizemos uma roda, alunos e um professor e a conversa fluiu muito, todos falavam e davam suas opiniões, eu não tenho uma opinião formada sobre isso, mas tudo o que escuto faz com que as idéias se ampliem na minha cabeça, a discussão é bem mais complexa do que eu imaginava. Falando sobre drogas, inevitavelmente discutimos o tráfico, as grandes empresas, a saúde, os problemas sociais, econômicos, etc. A legalização é só da maconha ou é de tudo?! Como foram as experiências em outros países?! As opiniões são muito diversas, mas o mais importante é a discussão, o debate, e fato é que não podemos ignorar que esse é um problema de saúde pública, não é possível ignorar o alto consumo de drogas pela população brasileira, e o fato de não ser legalizada impede a intervenção direta do estado, atualmente a intervenção é somente repressiva. O que fazer?!
Às 18:00 nos encontramos para combinar o que seria feito em seguida. Achava importante repetir a dramaturgia de São Paulo (Unip) que tinha sido ótima, até mesmo para conquistá-la, por outro lado tinha medo de repetir e dar tudo errado, inclusive porque pairava no ar que o que repetimos na Casa do Estudante não deu certo (tudo bem que ali as condições eram outras). Conversamos bastante e por fim saímos com o seguinte roteiro: Jogral de Nossa Senhora, Coração Materno, As Portuguesas e o Abre suas Pernas, costurando com o tema do amor materno e do homem e mulher.
Iniciamos fazendo oficina e a roda foi se formando, quando iniciamos a narrativa, no decorrer do Jogral as pessoas foram saindo, seguimos com o Coração materno, e o público que tinha visto o Jogral até o fim permaneceu, haviam poucas pessoas, o Santini quem estava narrado e ao passar a narração para o Aldo, decidiram entrar direto com o Abre suas pernas, essa música entre os jovens é batata, novamente o público se aproximou e conseguimos fechar o trabalho bem. Por fim o Pimpolho soltou o Carinhoso e cantamos todos abraçados com os alunos.
Até que fechou legal, mas sentimos que precisamos replaquear muitas coisas, rever nosso repertório. Diferente da rua, o público é extremamente homogêneo, são na maior parte universitários de classe média e alta, como dialogar com eles?! Como falar com eles de questões que lhes interessam?! Certamente sexo e drogas são temas muito forte, toda vez que se apresentam os jovens ficam bem interessados. E então, só devemos falar sobre isso?! Como falar sobre outras coisas?!
Sentimos a necessidade de nos alimentarmos fora dos portões das universidades e assim que possível queremos abrir nossa roda nas praças das cidades. O calendário está muito apertado aqui no Sul, sem contar no frio que não ajuda em nada. Queremos sol!!!
Ana Cândida

Casa do Estudante de Curitiba



30/08/2008

A recepção em Curitiba foi bem bacana, a Binha, do movimento estudantil local, nos levou para conhecer 2 Casas do Estudante, uma onde moram e outra que é a futura sede administrativa e cultural, esta Casa é linda mas não está em condições de uso, inclusive não tem luz pois estão sem dinheiro para pagamento de dívidas pretéritas, mas acreditam que em pouco tempo o espaço estará ativo.
Foi combinado que iríamos fazer uma intervenção em uma Festa que aconteceria em um salão na Casa do Estudante, a festa não era da Une, já estava agendada pelos estudantes de algum curso da PUC-PR. Coletivamente decidimos trabalhar com o roteiro que apresentamos na Conferência de Juventude em Brasília, qual seja, narrativas sobre personalidades que na juventude apareceram para o mundo, dentre elas: Castro Alves, Che Guevara e Fidel Castro, Nara Leão e Bethânia, Beatles, Madonna, Xuxa, etc.
O Chico inclusive baixou algumas imagens para projetarmos, conforme idéia original. Fato é que quando chegamos no local já deu para sentir que não seria fácil: ambiente escuro, muita bebida, alguns jovens sentados no chão brincando de verdade ou consequência.
Começamos fazendo oficina e esta parte até que foi bacana, as pessoas participaram, dançamos New York juntos...Mas quando entramos na narrativa tudo desmoronou, começamos muito embaixo, a narrativa não estava boa, o texto não encaixava, nós nos colocávamos mal, a música (que foram baixadas um dia antes) não entravam legais, e os jovens não estavam interessados no que estávamos fazendo, demoramos para entender tudo aquilo. Os temas mais “cabeças” não rolaram, e quando apertou, pulamos o roteiro e fomos para os Beatles, Madonna e Xuxa, os quais apesar do caos instalado os jovens responderam. Depois disso não deu mais para continuar, encerramos.
Foi muito duro a rejeição, mas ainda mais depois de uma apresentação bacana como fizemos em Sampa. Conversamos bastante depois e avaliamos que a parte da oficina é que estava fluindo, que deveríamos ter abandonado o roteiro e continuado na oficina, outros disseram que com gente bêbada em festa universitária qualquer coisa que fizéssemos seria animação de festa, foi muito difícil, o que fazer para atrair a atenção da galera, cabe de fato fazer alguma intervenção em uma festa? Se cabe, como? Não fechamos as possibilidades de intervenções futuras neste sentido, mas certamente precisamos refletir muito sobre o que e o como.
Ana Cândida

Notas sobre um escândalo...

Companheiros de jornada,

a Caravana passa, mas os cães de vez em quando mostram os dentes...pela primeira vez nesta jornada da caravana, assistimos a um espetáculo de estupidez, barbárie e reacionarismo contra nós do Tá Na Rua, protagonizado por estudantes e professores dos cursos de engenharia da Universidade Fedreal de Santa Catarina.

Ontem, 03/09, pela manhã, realizavamos um cortejo que percorria os diferentes centros do Campus Central da UFSC em Florianópolis. Fazíamos a nossa chegança com tambores, bandeiras e nossos trapos coloridos, quando de repente o professor Sérgio Kohler, conhecido pelos alunos pela sugestiva alcunha de "hitler", subiu numa bancada e começou dirigir impropérios contra nós, gritando : "vagabundos!", "comunistas", "palhaços"...etc. Alguns professores - pasmem! - começaram a jogar pedaços de giz das sacadas, incitando seus alunos a fazerem o mesmo. Um episódio de brutalidade e intolerância que m,e remeteu a algumas cenas do "Dar Não Dói", memórias de um período histórico que não vivemos, mas que ressurgiu neste momento, em uma "vivência histórica" espetacular e assustadora.

Fomos embora literalmente escorraçados, sem sequer poder abrir a nossa roda, nossa trouxa, e manifestaremos o nosso teatro. Ficamos com aquilo travados no peito e conversamos muito sobre como poderíamos responder aquilo de maneira teatral, com a nossa linguagem....e as idéias foram surgindo: começamos a nos enrolar em panos pretos, amordaçamos nossas bocas e saímos num cortejo silencioso marcado pelo surdo, "escoltados" por um general (que porimeiro foi o Aldo, depois eu), em direção ao centro de Artes e ao Restaurante Universitário. Na hora em que "encarnei" o general, veio na minha boca todo o discurso ideológico do professor Kohler, e comecei a dizer aos passantres que estava ali para "limpar a universidade destes artistas, vagabundos, comunistas, que querem corromper o espaço sagrado da universidade", e que "em nome dos altos valores da pátria, da família e do conhecimento, estes artistas devem ser banidos da universidade". Esta manifestação foi amplamente filmada e fotografada, e foi uma resposta crítica, cruel e bem-humorada, que despertou reações e conversas na universidade sobre o que ocorreu, e alivou nossos corações depois das cenas de violência e a brutalidade que sofremos. Terminamos este cortejo pra cima, cantando pra subir e exorcizando os fantasmas do reacionarismos que nos rondaram neste dia...

Segue abaixo a nota oficial da UNE sobre o incidente. Abraços,

Alexandre Santini

Não à volta da repressão nas universidades brasileiras



A União Nacional dos Estudantes está realizando em parceria com o Ministério da Saúde a Caravana da UNE: Saúde, Educação e Cultura, percorrendo 41 universidades dos 27 estados do país, promovendo debates, oficinas, atividades culturais, campanhas de prevenção e vacinação, discutindo temas de saúde sob a perspectiva da juventude, educação e cultura no marco da construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil.



Em todos os estados e universidades que a Caravana vem passando as atividades tem se caracterizado pela ampla adesão dos estudantes universitários, pelo ambiente aberto, democrático e lúdico das atividades e pela mobilização e reflexão sobre as questões levantadas nas discussões e debates. Neste sentido, a UNE lamenta profundamente um incidente isolado ocorrido no dia 03/09, no Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante a realização de uma intervenção teatral do Grupo Tá Na Rua (RJ), como parte da programação cultural da Caravana, alguns professores incitaram os alunos à violência contra os artistas, proferindo insultos, lançando objetos das sacadas e chegando mesmo a agredir fisicamente alguns atores e atrizes, que foram retirados do prédio com violência por um grupo de estudantes, com o apoio explícito e a força física de alguns professores.



A UNE , com uma trajetória de 71 anos em defesa da democracia e das liberdades de expressão e manifestação, vem a público denunciar este incidente, que adquire uma extrema gravidade por ter ocorrido em um ambiente universitário, espaço que deve se caracterizar pelo livre debate de idéias, expressões e manifestação. Um país que enfrentou 21 anos de ditadura militar não pode permitir em suas universidades manifestações de intolerância e brutalidade como estas, especialmente se partindo de servidores federais no exercício de sua função pública como estes professores.



A Caravana da UNE segue seu rumo e continuará percorrendo as universidades em todo o país, em uma jornada de mobilização, reflexão, criação artística e diálogo com a juventude e os estudantes brasileiros sobre saúde, educação e cultura, contribuindo com o debate de idéias na universidade e garantindo a democracia como conquista fundamental e irrevogável da sociedade brasileira. Compreendemos que tais manifestações de violência e brutalidade são sinais anacrônicos de um pensamento reacionário que já não tem mais lugar na sociedade brasileira.



Saudações estudantis,



União Nacional dos Estudantes (UNE)



Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA)