domingo, 26 de outubro de 2008

Oficina, Cortejos e Espetáculos em João Pessoa...





21/10/2008
Saímos de Natal renovados rumo a Paraíba, João Pessoa, a viagem foi rápida e logo estávamos no hotel, no dia seguinte um domingo de sol curtimos a praia e descansamos para começar a semana com força total.
Segunda-feira, dia de pré-produção, cedo fui levar as roupas para lavar (estavam em péssimo estado!!!), às 10:00 horas fomos para a Universidade, olhamos os espaços, nos informamos que havia curso de artes cênicas, e conseguimos falar com o coordenador, o adorável professor Everaldo, que nos recebeu com muita alegria, nos mostrou as salas e teatro (uma semi arena) que usavam para trabalhar, estávamos dentro do teatro e, quando abrimos a porta, vimos que havia uma pequena praça, este seria o lugar para a oficina. O professor marcou conosco de fazermos o convite pessoalmente aos alunos (o curso era no período da tarde), assim, eu e o Pimpolho (os outros ficaram no hotel adereçando as roupas que foram lavadas) fomos no fim da tarde na Universidade, e na sala Lampião (de teatro de bonecos) convidamos os alunos para o Cortejo que faríamos pela manhã e para a oficina que seria no horário das 15 às 17:30 horas.
O Professor Everaldo falou que eles possuem uma cópia do vídeo em que o Amir fala sobre a história do teatro (aquele que ele está chupando um picolé!!!), que é maravilhoso!!
Na terça-feira cedo estávamos na Universidade, dois alunos apareceram para fazer o cortejo conosco, um deles de perna de pau. Quando chegamos na Praça da Alegria, o pessoal do PSTU ia ligar o som para começar a perturbar, mas quando abrimos nossa roda eles pararam, e pudemos fazer nossa apresentação, narramos As aparências enganam, e o aluno que estava de perna de pau fez a girafa, foi ótimo. Encerramos e seguimos em cortejo para outra praça da Universidade, soubemos que haviam crianças de um projeto cultural escolar nos aguardando, chegando lá abrimos uma roda e elas se apresentaram, timidamente contaram a história do teatro, foi bonitinho, depois um rapaz com o rosto pintado de branco foi ao centro da roda e falou um texto de Chaplin. Todos seguiram conosco num cortejo novamente até a praça da Alegria onde encerramos a atividade da manhã.
À tarde conforme o combinado fomos para a Oficina, muitos universitários (50) nos esperavam e mais umas 10 crianças que fizeram a intervenção conosco pela manhã, os professores também estavam lá. Conversamos rapidamente, a música começou, todos distribuíram o material, e em poucos instantes todos dançavam, no começo foi bem difícil, eles ficavam dançando em pequenas rodinhas (cada um com seu grupo de amigos), mas aos poucos fomos organizando o mundo e as coisas começaram a acontecer coletivamente, muitos cortejos foram feitos, saímos da praça e percorremos as ruas, os professores caíram dentro, os homens fizeram uma grande performance em Macho Man, uma das alunas puxou um cortejo de Xuxa, fizemos grandes rodas, dançamos quadrilha, Cada um no Seu Quadrado, falamos sobre as narrativas musicais, fizemos Eu sonhei que tu estavas tão linda, Abre essas pernas (todos juntos), as mulheres pediram revanche e fizemos a 2ª Portuguesa. Encerramos com Emoções e após beber muita água, abrimos nossa roda de avaliação.
A conversa foi maravilhosa, muitas foram as observações: disseram que não imaginavam uma oficina assim, que normalmente tem técnicas e tudo é determinado, que ali estavam livres, que aos poucos foram percebendo e entendendo a proposta, a importância do jogo coletivo, que lembrávamos os brincantes, manifestações populares, falaram sobre como foi boa a participação das crianças de fora da universidade e estar junto com as outras turmas de artes cênicas.
Nos contaram a tradição popular da Laursa, no período do carnaval algumas pessoas se vestem de urso e fazem cortejos na rua, quem não dá dinheiro eles cantam uma música que chama as pessoas de pão duras (não me lembo os termos), que as crianças geralmente tem medo da Laursa. Atualmente a manifestação tem diminuído, com o aumento de pedintes a figura vêm perdendo força, e as crianças de rua se vestem de urso para pedir dinheiro.
À noite já caia, podíamos continuar o papo que iria longe, mas o local ficava escuro e ainda tínhamos uma apresentação para fazer. Grande parte dos alunos foram conosco para a praça da Alegria (local onde nos apresentaríamos), e lá o Pimpolho narrou o Inferno Nacional, depois passamos a bola para o Circo Piollin, que já estava com toda a sua estrutura montada, os alunos se apresentaram em números de malabares, acrobacia aérea e de solo, além é claro do palhaço.
Entregamos o Kit do Tá na Rua para a Coordenação do Curso de Artes Cênicas e para o Circo Piollin, certamente será muito bem aproveitado!!!
Foi um dia e tanto, muito trabalho, e muitas recompensas, cada vez que fazemos a oficina e vemos o que ela pode gerar, despertar e transformar é muita alegria, quando as pessoas comentam suas sensações acredito que estamos no caminho certo. A troca é sempre engrandecedora.
Neste dia as duas apresentações que fizemos estavam cheias de público e foi muito legal como sempre, às vezes tem poucas pessoas e parece que vai dar um desanimo só, mas a verdade é que para mim, quando uma pessoa sorri, faz um aceno, sinto que a passagem do Tá na Rua por aquele lugar já não foi em vão...
Tomara que tenhamos ainda muitos dias como este nesta Caravana.
Obrigada UFPB e João Pessoa!!!
Ana Cândida

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Felipe Camarão colore mais ainda a cidade de Natal...

17/10/2008 Chegamos no Rio Grande do Norte, Natal, na quarta-feira (15/10) no fim da tarde, o hotel era na linda praia de Ponta Negra, não resistimos e fomos quase todos dar um mergulho no mar pra lavar a alma!!! No dia seguinte fomos para a universidade fazer a pré-produção, reconhecer o espaço e ver os possíveis contatos, de primeira fomos conversar com a Tropa Trupe que ocupa uma tenda de circo montada na universidade, foi muito bacana o papo, eles combinaram de fazer oficina no dia seguinte com os circenses da Caravana e participar conosco de um Cortejo. Ficou acertado com o pessoal do Pau e Lata para também acompanharem o cortejo. Telefonamos para a Vera Santana e acertamos de fazer uma vivência pela manhã do dia seguinte no Ponto de Cultura Conexão Felipe Camarão, foi difícil negociar com a Une para irmos para lá, eles ainda não conseguem entender que uma atividade na comunidade tem certamente mais valor para eles do que a própria intervenção na universidade. A imagem da Une está tão desgastada, e, somada ao desinteresse dos alunos em discutir questões coletivas, faz-se necessário realizar o caminho inverso, devem atuar primeiro nas comunidades para depois retornar à Universidade, a sociedade me parece ter maior interesse em discutir as questões do mundo do que os universitários, claro que não se pode generalizar, inclusive muitos estudantes tem idéias maravilhosas, mas a questão e dispor das mesmas em favor da coletividade. Pois bem, acordamos no dia 17, e a Une queria que fossemos fazer uma intervenção na Universidade antes de irmos para o Ponto, pois a imprensa estaria lá. Como a van atrasou acabamos conversando com a Lúcia (presidente da Une) que nos liberou para irmos para Felipe Camarão, chegamos lá e fomos maravilhosamente recebidos pela Vera e as crianças e quando vimos já estávamos vestidos com os trapos coloridos da fantasia dançando com muitos, enquanto outros davam o tom e o ritmo com seus instrumentos. Assistimos a apresentação dos jovens tocando rabecas e ouvimos duas músicas de composição deles mesmos, fiquei muito emocionada, era tão lindo, fiquei imaginando que o futuro que eu quero para o meu país só quem pode dar são essas crianças, não é politicagem e nem nenhum candidato, só a cultura salva! Assistimos a uma apresentação de mamulengos e do reisado, as crianças estavam lindamente vestidas (descobri de onde vem a linda roupa do Amir). E quando a celebração parecia ter chegado ao auge, ainda saímos num grande cortejo pelas ruas do Bairro, dançando ao ritmo dos tambores, entramos por uma estreita rua, que ia se iluminando com o avançar do cortejo, as pessoas iam saindo de suas casas e nos saudando, foi mágico. Terminamos o cortejo em frente ao terreiro onde as crianças ensaiam o reisado. O horário estava apertado, se dependesse de nos passaríamos o dia todo ali...Nos despedimos das crianças...Amanda (“filha da Maria Helena”) mandou um enorme beijo e disse que está com saudades da “mãe”. Vera disse que ficou muito feliz de ver Amir vestido com a roupa que lhe deram, na inauguração do espaço cultural Tom Jobim. Várias homenagens foram feitas ao Tá na Rua e ao Amir, tem até uma foto do Amir pregada na parede. Temos que voltar lá com tempo de sobra!!! Saímos voando para a Universidade, chegando lá fomos para o RU (restaurante universitário) fazer nosso mini cortejo e anunciar a programação noturna. Às 18:00 horas conforme combinado nos concentramos no Centro de Convivência e junto com o Pau e Lata saímos cortejando pela Universidade (o pessoal do circo não apareceu), um casal fez conosco (disseram que já haviam feito oficina com o Amir em Natal), foi muito legal, chegamos no setor 2 e lá abrimos uma roda, o Santini fez a apresentação de alguns atores, para mim foi um dia especial, quando ele apresentou o Herculano, contando uma história de que ele tinha partido de Mossoró para viver no Rio de Janeiro e lá arrumado uma esposa, eu entrei para fazer a esposa, e consegui falar muita coisa, não me prendi só aos dados que o Santini me dava, comecei a colocar a minha opinião e o público feminino me ajudava enquanto que o masculino torcia para que o personagem do Herculano me deixasse e seguisse para a Caravana. O Aldo foi apresentado como galã e uma menina que estava assistindo entrou para beijá-lo, foi divertido. Narramos ainda a Regadeira e o Inferno Nacional, que eu narrei, foi bem melhor do que da primeira vez, eu estava mais calma, consegui jogar com o Santini (que fez o cidadão morto) e com o Herculano (que fez o diabo). O Pimpolho ajudou muito no som, as músicas entraram muito bem, aquele toque que o Amir deu de que quando tem som mecânico temos que usá-lo, é verdade, a narrativa foi enriquecida pelas músicas. Ao final dançamos juntos com o pessoal do Pau e Lata e fomos satisfeitos para o hotel, pelo grande dia de trabalho!!! Não posso deixar de dizer que Natal foi a cidade mais linda que passei até agora, a natureza, as praias, as dunas, o astral das pessoas, a tranquilidade, e Felipe Camarão, serão inesquecíveis!!! Ana Cândida

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Fotaleza: Retorno à Caravana!!!





14/10/2008
Do Rio de Janeiro para Fortaleza, cheguei no domingo, dia 12, esta cidade é especial para mim pois foi aqui que minha história de amor começou com o Aldo!!!
No dia 13 fomos fazer a pré na Universidade, estava com um contato que a Lua tinha passado, mas o telefone não atendia, fomos avisados pela produção da Caravana que íamos nos apresentar pela manhã com um grupo de teatro de rua chamado Trupe Cabo de Chegar, justamente o grupo que a Lua tinha dito para entrarmos em contato, que coincidência maravilhosa. Fomos até o CEFET do Ceará (Centro Federal de Educação Tecnológica), pois sabíamos que lá havia curso de teatro, queríamos convidar os alunos para fazerem uma oficina com o Tá na Rua, foi difícil o contato, a coordenadora estava dando aula e não podíamos esperar, pegamos um telefone que depois não conseguimos falar. Uma professora que nos permitiu entrar na sala e falar com seus alunos, disse que admirava o trabalho do grupo mas não poderia liberar a turma para oficina pois estavam nas últimas semanas de montagem e não podiam interromper os ensaios, estavam montando Brecht. Diante das dificuldades não foi possível realizarmos a oficina.
Dia 14 pela manhã estávamos na Universidade para a nossa primeira atividade, nos confraternizamos com o pessoal do Cabo de Chegar, a Ana Marlene foi muito simpática, mandou um beijo para Lua. Tocamos e abrimos uma roda para o grupo que apresentou a história: Nas Garras do Capabode, os atores eram muito bons e o espetáculo divertidíssimo, era a história de uma menina que se apaixonava por uma homem que tinha que convencer seu irmão (Capabode) a dar a mão de sua irmã em casamento, eles usavam a música Terezinha de Jesus para custuras a narrativa, falavam sobre o uso da camisinha, e demonstravam como usá-la com a bainha da espada do Capabode.
À tarde fomos para o bandejão, entramos cantando e dançando, perguntamos se queriam ouvir nossa história e a maioria nos recebeu muito bem, contamos a Regadeira que foi acompanhada por todos que estavam almoçando, a resposta foi muito boa.
À noite fizemos uma apresentação, só estava eu de mulher com o Aldo, Pimpolho, Herculano e Chico (que foi para o som). Fizemos o Campônio, o Pimpolho fez a mãe e o Herculano a Nossa Senhora. Apresentamos a história das duas portuguesas, foi a primeira vez que fiz depois que o Amir conversou conosco em Macapá, me lembrei do papo de não cantar junto com a música, foi meio difícil, acho que as coisas estavam muito na minha cabeça e pouco no corpo, mas acho que dei um passo para redescobrir a maneira de fazer estas narrativas musicadas... Por fim fizemos o Abre essas pernas, eu fiz o homem e o Pimpolho a mulher, foi muito divertido, os universitários apertaram a bunda do Pimpolho quando ele foi até o público, ele estava ótimo. Já para mim foi difícil, no começo estava solta, mas depois que peguei o pirocão ficou complicado, foi tudo para o objeto e eu me senti perdida, também não consegui abandoná-lo, e nem sei se era o caso, mas o fato é que não me relacionei da melhor maneira possível. Aprendizado com certeza...
Depois o Aldo fez a transição para a entrada do número dos circenses que só não fechou melhor porque um representante da Une entrou para dar informações antes de concluirmos nossas atividades. Conversamos seriamente sobre isso, como fazer com que as pessoas entendam o curso natural e a importância das coisas, não é fácil, mas seguimos com nosso trabalho, certos de que o Tá na Rua contribui muito para a transformação das pessoas mas principalmente de nós mesmos...
Ana Cândida

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Teatro: O melhor amigo do homem!!!





10/10/08
Retornei ao Sudeste no dia 03/10, depois de mais de 1 mês de caravana. Primeiro para São Paulo para comemorar os 50 anos da mãe da Ana, foi uma festa linda diga-se de passagem e é sempre muito bom reencontrar a família e principalmente num dia de celebração. Depois de tantas tensões é
muito reconfortante o seio familiar. Passada a festa veio o dia das eleições onde eu fui justificar o meu voto pois estava ainda longe da minha Niterói querida, onde o ex prefeito Jorge Roberto Silveira ganhou de lambuja logo no primeiro turno. No dia seguinte à noite, fomos de ônibus para o RJ, (depois de tantas horas enclausurados dentro do busão da UNE, 6 horas de viagem é mole), desembarcamos as 6 da manhã no RJ e enfim chegamos na nossa cidade maravilhosa. Em casa foi muito bom rever meus irmãos, contar as novidades, distribuir lembranças, enfim, a mesma alegria esfuziante que tomou conta da Ana em SP tomou conta de mim também ao chegar no meu lar. Mas mesmo assim pairava no ar a sensação e o sentimento de que alguma coisa faltava naquela casa, foi nesse instante que a ficha caiu, foi a primeira vez que eu voltava de uma viagem e não era recebido pelo abraço, beijo , sorriso , carinho e saudades de minha mãe. Era estranho aquele vazio no sofá, o cheiro dela que não estava mais lá. Ainda não parei em casa para realmente sentir a falta que ela faz e no meio dessa caravana com mudanças constantes de lugar e humor, fica difícil por a mente no lugar e pensar: “Ela não vai estar mais lá quando eu voltar”. Me apego ao Teatro, aos meus fiéis amigos do grupo e novos da caravana, e principalmente ao amor da Ana que me conforta e me sustenta para que eu não caia na tristeza dessa perda irreparável na minha vida. Bom, vida que segue, no meio da semana participei da inauguração do Espaço Tom Jobim com o TNR e foi maravilhoso rever as pessoas e trabalhar naquele espaço lindo que é o Jardim Botânico. Voltei revigorado para a caravana mas precisamente para o estado do Piauí.
Cheguei no meio da madrugada ao hotel e fui para o quarto onde estava o Pimpolho e Herculano e conversamos um pouco sobre o que estava acontecendo na caravana e principalmente sobre a Luciana que estava internada num hospital, nessa mesma hora senti que o dia seguinte seria complicado pois o clima estava pesado e alguma coisa estava por vir.
Logo pela manhã cancelamos nossa participação na atividade da UFPI, o problema da Luciana tinha que ser resolvido então cancelamos também a atividade do meio dia. (não tínhamos condições psicológicas para fazer qualquer coisa).Combinamos então de fazer uma apresentação no fim de tarde nem que fosse só 3 atores, e chegando lá, o que eu estava sentindo se concretizou.
Havia um grupo de estudantes do DCE da faculdade pertencentes ao PSTU, totalmente contra a presença da UNE. Eles usavam camisetas com os seguintes dizeres: ESTUDANTE NÃO É PALHAÇO, FORA UNE. E também estenderam faixas de protesto e usavam uma caixa amplificada e megafones para vociferar seu ódio, e mais uma vez quem paga o pato dessa politicagem toda são os artistas da caravana. Apesar dos circenses terem feito uma apresentação linda, eles nos chamavam de palhaços e oportunistas era triste e lamentável. O resultado de tudo isso foi que o TNR não conseguiu se apresentar pois a noite caiu e ficamos sem luz. Mas, mo meio desse caos todo, surgiu um cão que começou a brincar comigo dando saltos junto a apresentação do circo e consequentemente brincou com o Pimpolho também, ele ficava nos rodeando o tempo todo e o curioso era que ele atravessava o espaço e ia em direção aos estudantes enfurecidos, dava uma cheirada e voltava rapidamente pra perto da gente e da cena colorida que estava diante de seus olhos famintos. Nesse exato momento me lembrei do Amir que sempre diz: quando tem cachorro na roda a coisa tá boa. Comecei a chamar o cachorro de Teatro e ele atendia e nessa hora um dos estudantes começou a distribuir pão para as pessoas e eu sinceramente ainda não sei o que significava aquela atitude de entregar os pães para as pessoas, alguns aceitavam e outros não, ele ofereceu ao Pimpolho que disse: Obrigado mas prefiro o circo. Entendi que aquele gesto era uma forma de protesto ao que estava acontecendo lá. Foi ai que o momento mais maravilhoso aconteceu, o estudante deu um pão ao cachorro e ele cheirou, abocanhou e enterrou no meio da praça onde estávamos. Nesse instante eu vi que o cão estava do nosso lado e afirmei: “É.... O Teatro é o Melhor Amigo do Homem.”
Aldo Perrotta

Encontro com Amir em Macapá!!!





30/09/08
Finalmente neste estado nos encontramos com o Amir, Amapá, capital Macapá, a ansiedade de todos era grande, nada podia dar errado, queríamos que ele ficasse bem acomodado e que a apresentação fosse a altura do que ele esperasse.
Muitos problemas como sempre, mas fomos superando, primeiro não seria viável hospedar o Amir no hotel que estávamos, chegamos no dia 28 de madrugada e o Amir chegaria à tarde. Conseguimos com a produção trocá-lo de hotel (Macapá Hotel) para que ficasse mais confortável, o quarto de frente para o Rio Amazonas era aconchegante e a varanda seria nosso local de conversas e avaliações.
O Santini foi buscá-lo no aeroporto e todos nós fomos o aguardar na porta do hotel, já fazia quase dois meses que não nos víamos e os abraços e beijos aqueceram o reencontro. Conversamos bastante e na hora de irmos verificamos que o almoço havia se encerrado no hotel do Amir, então fui a procura de comida, levei uma lasanha ao pirarucu, e ele disse que estava ótima!!!Combinamos de buscá-lo mais tarde para um jantar no Trapiche com o ex governador Capiberibe (grande amigo do Amir).
Fomos para o Trapiche para reservar as mesas, quando chegamos lá o restaurante estava fechado, por sorte o filho da proprietária estava de carro em frente e conseguimos falar com ele, a Dona Lady (cozinheira e neta do dono) que fez o auto de Natal com o Amir também estava no carro, quando falamos que o Amir queria jantar lá com o Capiberibe na hora Dona Lady se prontificou a exclusivamente abrir o restaurante naquele dia e cozinhar o prato favorito do Amir. Tudo certo, à noite foi uma delícia, o peixe filhote recheado com queijo e camarão foi saboreado e elogiado por todos (o meu era só com queijo pois sou alérgica a camarão!!!). A conversa com o Capiberibe foi muito esclarecedora, ele falou muito sobre Macapá, as questões indígenas, das matas...
Dia 29, pré-produção e reconhecimento dos espaços, fomos cedo para a Universidade, e combinamos algumas coisas para a apresentação que faríamos na noite seguinte no Lugar Bonito, ao lado da Fortaleza. Eu e a Ju fomos acompanhar o Amir no almoço para colocá-lo à par das atividades enquanto as outras pessoas foram produzir (fogos, figurino, textos...). Combinei o roteiro com o Amir e disse que ele entraria para narrar o fim do espetáculo falando sobre a Esperança e então faríamos a música O Bêbado e a Equilibrista. No fim da tarde nos encontramos todos no hotel do Amir, mostramos fotos e filmes da nossa atuação na Caravana, e o pessoal do documentário gravou o depoimento dele. Enquanto conversávamos algumas pessoas, que já trabalharam com o Amir em Macapá vieram falar com ele, e se comprometeram a irem na apresentação e contactar os artistas da cidade.
À noite o Amir foi conosco reconhecer o espaço no Lugar Bonito no qual faríamos o espetáculo, haviam diversas possibilidades mas dependíamos muito de que houvesse iluminação para ocupação principalmente do espaço que escolhemos (um grande circulo baixo e gramado na praça). O visual do lugar era maravilhoso com a Fortaleza ao fundo, não é à toa que a população denominou o local de Bonito!!!
No dia seguinte fomos fazer a atividade na universidade, fizemos um grande cortejo pelos corredores, a foi a primeira vez que a convite dos alunos e de um simpático professor de literatura entramos em uma sala de aula, cantamos e dançamos acompanhados dos alunos, foi uma delícia. Na hora do almoço fizemos uma pequena intervenção na lanchonete convidando as pessoas para as atividades noturnas no Lugar Bonito e na praça do Artesão (depois da nossa apresentação haveria show do grupo Senzala na outra praça).
A hora do espetáculo aproximava-se, as coisas iam se acertando, a iluminação foi conseguida, o som demorou a chegar (o som da Caravana tinha sido despachado pois o pessoal da cidade disse que tinha o equipamento, mas na hora não foi bem assim, e tivemos que fazer o espetáculo com um som não muito bom) mas deu tudo certo, a música começou e o estado de teatro foi se instalando, dançamos e as pessoas começaram a entrar na roda, alguns já conheciam o trabalho do Amir, caíram dentro e ajudaram muito na oficina. A praça toda colorida era linda, e o Amir que conforme combinado só pegaria a narração ao fim do espetáculo não se segurou é claro, nos pediu o microfone e quando vimos ela já estava no centro da roda narrando e dançando com todos. Acho que fizemos uns 40 minutos de oficina, depois o Amir passou a narração para o Pimpolho.
Acreditem, quem ficou no som foi o Chico, que foi muito corajoso, acho que era a segunda ou terceira vez que ele ia para o som para poder liberar o Pimpolho para narrar. E apesar das dificuldades e da pressão, ele fez muito bem!!!
Narramos o Campônio, a piada do Coelho, as Portuguesas, o Inferno Nacional (na qual o Amir fez o diabo!!!) e por fim o Amir entrou narrando a Esperança e fizemos O Bêbado e a Equilibrista. Durante todo a celebração o Pimpolho além de narrar realizou vários efeitos especiais (muitos fogos!!!). O Amir convidou os artistas de Macapá para serem homenageados, falou sobre a maravilha e o bem estar que era chegar naquela cidade à alguns anos atrás, entregou o Kit do Tá na Rua para cada um deles, que fazem parte da história, foi uma grande festa.
Ficamos muito felizes com tudo, as coisas fluíram maravilhosamente bem, voltamos para o hotel, jantamos, tomamos banho e fomos para o hotel do Amir avaliar.
Conversamos muito e ele foi cirúrgico no aponte de algumas questões para nos fazerem avançar, coisas que certamente levaríamos algum tempo para perceber. Ele falou sobre o fato de cantarmos as músicas junto com o som mecânico, neste caso as coisas vão todas para a cabeça e somem do corpo. Disse que quando temos o som mecânico temos que usá-lo, que uma coisa é o espetáculo da roda pequena (sem som mecânico) e o outro é o da rodona (com som mecânico), nós estávamos confundindo as coisas, estamos fazendo muito a roda pequena, só com o surdo e com a caixa, e quando fomos para o espaço grande com som, em alguns momentos deixamos de usar o recurso mecânico e isso nos prejudicou, a narrativa pode e deve ser auxiliada pelo equipamento de som, no caso da rodona. Falou ainda dos nossos figurinos que em algumas vezes não ajudavam, por exemplo, a Nossa Senhora com um vestido curto à mostra, isso confundia a imagem, também uma das portugueses vestida com uma ceroula e sem saia. Por fim, disse que não devemos apresentar a narrativa como piada, por exeplo a piada do coelhinho pode ser denominada uma narrativa que fala sobre como as aparências enganam.
Certamente esta avaliação nos fará evoluir muito, mas creio que principalmente o contato pessoal e físico com o Amir foi que nos trouxe mais força, era como se ele dissesse continuem que estão no caminho certo, foi uma benção para seguirmos nossos trabalhos e renovarmos nossos afetos!!!
Na madrugada fui com o Aldo levar nosso mestre para o aeroporto, ele retorna ao Rio, onde esta nossa outra parte do grupo Tá na Rua!!! Vá em paz amado Amir!!!
Obrigada por tudo!!! Saudades suas e de todos!!!
Ana Cândida

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Espaço Cultural Tom Jobim - Jd. Botânico - Rio

09/10/2008
Cheguei no Rio na manhã de segunda-feira (6/10),passei o fim de semana com minha família comemorando o aniversário de 50 anos da minha mãe, foi maravilhoso, fiz a pizza da letícia para os convidados e foi um sucesso.
Na segunda passei o dia todo desarrumando a mala e resolvendo aqueles problemas que podiam não existir (contas a pagar!!). À noite recebi um telefonema do Aldo falando sobre a inauguração do Espaço Cultural Tom Jobim no Jardim Botânico, a qual o Amir havia comentado em Macapá, primeiro deveríamos saber do que se tratava para depois aventar eventual participação.
Na terça-feira, no escritório li o roteiro mais detalhado e com o Disnael fiquei sabendo que se tratava de grandes cortejos e momentos de confraternização coletiva entre os grupos participantes do evento. Não posso deixar de falar que a primeira pessoa que encontrei foi a Sarah, fiel escudeira que vem nos auxiliando no escritório, depois minha querida e amada amiga Letícia que me deu um grande abraço confortando minha ansiedade e medo de como seria a recepção aqui no Rio depois de alguns incidentes. Encontrei também a Karina e nosso querido Disna (que está cabeludíssímo, um charme!!!). Fiquei sabendo que haveria ensaio à noite no Jardim Botânico e combinei com o Aldo de irmos lá ver como estavam as coisas, fiquei sabendo que a Lua e a Letícia chegaram de viagem também naquele dia.
Naquela noite chuvosa nos encaminhamos para o Jardim, eu, Aldo e Maria Helena (nos encontramos no meu prédio e mais um abraço afetuoso me aqueceu na noite fria do Rio!!!), quando chegamos foi uma delícia rever todos em ação, haviam vários grupos reunidos, o Miguel de forma primorosa passava o roteiro e nos conduzia pelos caminhos onde o circo etério passaria, num anúncio do que seria a linda festa do dia seguinte. O Amir arrematou lendo para todos o roteiro.
Era possível participar da festa, então no dia seguinte nos encontramos na casa do Tá na Rua (estava com muita saudades da nossa casa!!! só uma coisa não foi boa, minha alergia que fazia tempo não aparecia, me atacou!!!) tinha muita gente bonita e que eu não conhecia, pessoas da oficina do Amir, do Miguel e do Licko, todos escolhendo as melhores roupas para os três prováveis cortejos que faríamos (praia – anos 50 – carnaval). Na casa encontrei a Ingrid, está linda como sempre, muito bom abraça-lá. Às 13:00 horas fomos para o Jardim Botânico, e lá fomos nos concentrando com os demais coletivos que fariam a abertura do teatro Tom Jobim e também uma homenagem a esta fantástico artista. O teatro é realmente lindo, muito amplo, podemos dizer que é um espaço aberto com teto, na frente do palco tem um grande espaço antes da disposição das cadeiras da platéia, o que possibilita duas grandes áreas de atuação, o palco e este espaço entre palco e platéia.
A chuva não cessava, e o Amir verificou a necessidade de um plano B, afinal quase todas as apresentações e cortejos seriam do lado de fora do teatro. E assim foi feito, o novo roteiro, trazia as apresentações para o interior do teatro e hall de entrada, mas de qualquer forma o Amir disse que o cortejo tinha que sair, faça chuva ou faça sol. Colocamos nossas roupas e fomos para a porta do Jardim, o cortejo estava lindo de morrer!!! Muita gente!! A furiosa tocava as músicas do Tom, e nós cantávamos (e enrolávamos tb!!! o repertório Tom estava difícil!!!) e o cortejo seguiu por dentro e por fora, na Rua Jardim Botânico onde paramos o trânsito com nossa música, cores e alegria.
E então após retornar para o jardim e tomar a frente do teatro (todos dançando na chuva!!!), adentramos, a Mangueira nos recepcionou tocando o samba-enredo de 1992, uma homenagem ao Tom, fizemos um grande oficinão, e depois os outros grupos foram se apresentando, o Amir brilhantemente narrou aquela celebração, tivemos apresentação dos Orixás, Ademir do Sax, Cia. De Mistérios e Novidades, Irmãos Brother, Chorinho, Grupo de Pagode dos trabalhadores que construíram o teatro, Batucada, Orquestra Villa Lobos, palhaça Margarida, Maracatu de Pernambuco, todas estas atrações regadas de muita música e dança e certamente com a presença do Tom abençoando esta celebração.
Por fim fomos todos à mesa realizar a grande comunhão...
Eu fiquei muito feliz, sem responsabilidade de liderar cortejo ou qualquer compromisso maior, meu compromisso era comigo mesma de celebrar e festejar com todos este novo maravilhoso espaço que se abre na zona sul do Rio de Janeiro, que esperamos seja um espaço popular, não sei se isso de fato acontecerá, mas o importante é que pelo menos a inauguração foi o mais popular possível, no sentido mais amplo da palavra, festejamos juntos, horizontalmente, com as portas abertas para quem quisesse entrar e participar...
Essa passagem meteórica no Rio foi importante não só para resolver problemas pessoais, mas principalmente para retomar o contato físico com a base. Estou com muitas saudades do pessoal da Caravana, tenho certeza que meu maior desejo agora é seguir com o trabalho que iniciei dia 14 do agosto com este coletivo que aí está, o trabalho não é fácil mas sei que podemos conquistar ainda muitas coisas!!! Domingo estou de volta cheia de vontade!!!!
Ana Cândida

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Belém do Pará

Belém do Pará, sexta-feira 03/10/08

Chegamos aqui em Belém na quarta–feira à tarde, um dia de folga.
Começou tudo ótimo, o hotel é muito bom, no quarto duplo: duas camas de casal. Essa é uma das características da vida, né? Uns dias sim, outros não e do artista: um dia pobre, um dia rico. Assim anda sendo a caravana, pobres e ricos a cada quatro dias em um destino, em uma cama. Os dois últimos hotéis eram ruins e o último podemos até chamar de cafofinho, mas a vida dá voltas e é de um 4 estrelas que vos falo.

Na quinta-feira nós fomos reconhecer o espaço da faculdade. A faculdade era a UNAMA, privada. Na faculdade Federal daqui a caravana estava com pouca articulação pelo que soube. A produção externa da Caravana está meio mal das pernas, a nossa e a da UNE, é uma pena que nós não estamos conseguindo mobilizar mais as pessoas de teatro das regiões, as praças, as prefeituras para fazer com que o diálogo da rua com a faculdade e da rua com a caravana se estabeleça melhor e a gente fique mais feliz. Enfim, sempre que podemos damos um pulo em nosso habitat natural: os espaços abertos, públicos.

Hoje de manhã fomos fazer um cortejo de recepção e introdução ao debate da manhã, depois ao meio –dia iríamos percorrer de novo a faculdade, a nossa idéia inicial era contar histórias na porta da Universidade e de repente dar uma fugidinha para as ruas.

O produtor Gui, nos disse que a faculdade estava meio vazia e lá não tinha bandejão, logo Eu, Luciana e Ana quisemos ir para a rua, O Aldo e o Pimpolho resistiram, até agora não sei porque, a gente não conversou muito, simplesmente as mulheres foram com vontade e os homens sem vontade. Essa secção anda sendo constante, essa eu acredito ser uma crise no coletivo: A TENSÃO SEXUAL. Um lado versus o outro, uma coisa meio constante no grupo em geral, na relação com o Amir Haddad e com o mundo.

Na época de Shakespeare as mulheres não faziam teatro, eram proibidas. Os homens interpretavam os papéis femininos e masculinos, se deliciavam, podiam lidar com sua Anima (lado feminino) sem que ninguém os enchesse o saco, inclusive acredito até que fosse uma virtude, pelo menos no teatro. Lidar com a Anima acho que ainda continua a ser virtude no teatro o que mudou é que agora AS MULHERES PODEM FAZER TEATRO.

Quem foi essa primeira mulher? Quem disse que era interessante as mulheres sairem de suas casas, de suas proteções e irem fazer teatro, trabalhar? Só sei que quanto mais um lado se desenvolve o outro se inibe, os homens ficam inseguros, as mulheres ficam nervosas com medo de perder um lugar conquistado e ainda muito perdido.

EU ADORMEÇO ÀS MARGENS DE UMA MULHER: EU ADORMEÇO ÀS MARGENS DE UM ABISMO.
EDUARDO GALEANO

Essa frase acho que é propícia, inclusive nós mulheres temos um orgão proporcionador de prazeres que nada mais é que um buraco e nossos queridos homens têm uma lança, uma pretuberância, que entra nesse desconhecido, como um desbravador.

Enfim, fomos pra Rua e nos deparamos com uma arena linda, pequena, no Centro de Belém ao lado da faculdade, a gente ocupou a arena e os carros começaram a buzinar era mágico, era hora do almoço, ninguém estava pela praça, os raios do circo estavam atingindo outras dimensões.

Saímos logo. Precisamos de mais sintonia.

Depois dessa experiência, nós fomos para o hotel e o Aldo e a Ana voltaram para o Rio depois do almoço, bom agora era um outro coletivo para a noite: Luciana, Ju, Pimpolho e Eu.

Pimpolho estava inseguro em abrir a roda, disse: - po, mas tô eu sozinho contra vocês!

Contra? A gente se assustou. Mas é isso mesmo. Homens X Mulheres.

PARA A SORTE DO MR PIMPOLHO o show de Carimbó já estava começando quando a gente chegou (houve um atraso de 40 min da Van) e nós simplesmente nos fantasiamos e dançamos Carimbó. ÓTIMO, RELAXANTE E NECESSÁRIO.

Fernanda Paixão