quarta-feira, 27 de agosto de 2008

USP






26/08/2008

Às 8:00 horas saímos do hotel e fomos para a USP, no Campus da Pinheiros, onde está a faculdade de Medicina. Lá ocorreria o debate de Saúde Pública e faríamos um cortejo e uma roda. Estávamos receosos com a recepção, afinal, sabíamos que a Medicina Pinheiros é a universidade mais difícil de entrar, ou seja, os alunos são a nata da sociedade burguesa paulista.
Além do mais é um prédio de medicina colado no Hospital das Clínicas (considerado o maior hospital público da América Latina). Logo que chegamos fomos espalhando nossas coisas coloridas na porta da Universidade e fomos nos preparando, as pessoas que estavam chegando olhavam curiosas, logo iríamos para o porão da faculdade (local onde fica o salão de jogos), este foi o espaço que reservaram para nós!!!Ficamos ali aguardando dar o horário do intervalo, e neste meio tempo alguns alunos vinha perguntar o que íamos fazer, outros passavam sorrindo, o gelo foi se quebrando naquele edifício frio...
Não foram muitos os alunos que desceram para o intervalo, a cantina era o local que estava mais cheio, fizemos um cortejo no corredor e ganhamos o vazio pátio da faculdade, as pessoas nos observavam da janela. Entramos novamente para o prédio, os professores e alunos que cruzavam conosco na maior parte sorriam e até cantavam conosco. Chegando na cantina nosso cortejo fez uma pausa e abrimos uma roda. Apresentamos primeiro o Aldo como o Dr. Derrotta, psico proctologista, formado na Alemanha.
Mas e história que rendeu foi a apresentação do Herculano como um cidadão doente que necessitava de cuidados médico e por saber da excelência médica do Hospital das Clínicas tinha viajado de Caxias para lá. Ele estava passando muito mal e necessitava de cuidados médico, precisava que alguém lhe aplicasse uma injeção, fui apresentada como enfermeira mas disse que não sabia fazer isso, então precisava de um médico, prontamente um dos universitários candidatou-se, pedimos uma música para vesti-lo e ele entrou na brincadeira e disse que iria colocar seu jaleco, abriu a mochila e vestiu-se, e começou a ordenar para a enfermeira (eu) os procedimentos para que pudesse dar a injeção: Primeiro posicione o doente! Abaixe suas calças! (deixei o Herculano de cueca) Agora enfermeira faça a acepção no local que será dada a injeção! (Com um pano branco servindo de algodão desinfetei a bunda do Herculano), aí o Doutor se posicionou e rufados os tambores ele deu uma caprichada injeção no paciente, que curado declarou amor ao Doutor. Agradecemos a participação do aluno, convocamos para o debate e saímos em cortejo para o auditório. Lá o Santini mediou um debate entre o Doutor Derrotta e o paciente Herculano do Nordeste, no qual o Dr. Derrota escrotizava o paciente por ser pobre e não poder pagar o plano de saúde, dizendo que em seu consultório jamais o atenderia, disse para que ele procurasse um pai de Santo (nesse momento o Pimpolho entrou e fez o pai de Santo), o Herculano só queria saber se para ser atendido pelo pai de Santo também teria que pagar e pegar fila!!! Foi muito divertido...
Do Campus Pinheiros seguimos para o Campus Butantã – Cidade Universitária, lá fizemos uma intervenção no Bandejão, apresentamos o que se denominou “A Trilogia: Inferno, Céu e Terra”...O Pimpolho iniciou narrando o Inferno Nacional, adaptamos o conto dizendo que o sujeito que abotoou o paletó em vida foi do PP – Partido do Picaretas - amigo de Paulo Maluf (a cena feita pelo Aldo Picareta e Herculano Maluf foi muito engraçada), o picareta, visitou os departamentos dos EUA, da China e diversos outros e quando chegou a vez do Brasil, aproveitamos a imensa fila do Bandejão para fazer este departamento, foi muito bacana...Em sequência o Pimpolho narrou a piada que se passava no Céu, na qual Jesus pediu para seus apóstolos descerem para a Terra e trazerem todas as substâncias entorpecentes, assim foi feito, mas Judas trouxe a polícia e acabou com a festa!! Por fim a narrativa teve sequência com o Aldo, que contou uma história que se passou na Terra, antes da existência do homem, no mundo animal, foi a piada do coelho que coloca os bichos para correr sempre que toma ecstasy...
O nosso público foi itinerante, cada um assistia apenas um pedaço do espetáculo, tendo em vista que montamos a roda entre as duas filas do bandejão, era engraçado que as pessoas ficavam olhando e perdiam o andar da fila, mesmo não acompanhando tudo eles se divertiam muito, acho que é aquele negócio de que o todo está contido em cada momento, assim quem vê um pouquinho entende tudo. Algumas pessoas declaradamente abandonaram a fila e assistiram a “Trilogia” toda!!!
Às 18:30 abrimos uma roda na FFLECH, na entrada do prédio de Letras, chegamos em Cortejo, e quando subíamos a escada de acesso ao prédio o Pimpolho foi narrando de brincadeira a dificuldade do Herculano de subir chegar à Universidade, quando abrimos a roda eu fui narrar a trajetória de um aluno até obter o diploma do 2º grau, o Herculano fez o estudante, no ciclo básico ele não conseguia pintar igual a professora (a Fernanda fez todas as professoras) e por isso ficava sempre de castigo, mas ele foi passando de ano e chegou no ensino fundamental onde as notas vermelhas (cambonei com um pano vermelho) o perseguiam, mas ele continuava passando de ano, no 2º grau, ele só tirava zero, o zero o perseguia (Fernanda corria atrás dele com o bambolê), mas mesmo assim, sem estudar nada ele tinha conseguido concluir os estudos e pegar o diploma e por que? Como ele conseguiu essa façanha? Um aluno respondeu que era pelo percentual... E então a narração prosseguiu: Ele conseguiu chegar ao diploma graças a aprovação automática!!! E agora, vocês estão o vendo, e diante de seus olhos ele tenta entrar na universidade de letras da USP há dez anos e não consegue!!! Vocês, futuros educadores do nosso país precisam fazer alguma coisa para que esse homem entre na universidade... e cantamos: “Se essa porra não virar ole ole olá, eu chego lá!” Nos despedimos pois ainda havia mais uma intervenção para fazer, os alunos pediram para fazermos mais uma, mas o tempo estava estourado, nós os convidamos para nos assistir no prédio de história e geografia.
Acabou que não houve a intervenção final, quando chegamos no local, o Jorge Mautner estava passando o som, além do que, tínhamos que jantar pois o restaurante iria fechar...
Ficamos cansados mas felizes, tudo é muito proveitoso, a cada dia as coisas vão fluindo melhor, a cada conversa que temos após as intervenções vemos o que podemos melhorar, o que erramos, o que não está legal, onde estamos forçando a barra, como podemos ajudar o narrador...está sendo um aprendizado incalculável, estamos tentando colocar em prática todos os ensinamentos que aprendemos no Tá na Rua com o mestre Amir Haddad, bem como as experiências pessoais de cada um à favor do coletivo, indivíduos fortes coletivo forte, coletivo forte indivíduos fortes!!! E a Caravana segue...
Ana Cândida

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