domingo, 2 de novembro de 2008

De volta a Campina Grande!!!





23 e 24/10/2008
Na Paraíba, além da capital fomos a outra cidade, a querida Campina Grande, que recebeu o Tá na Rua tão maravilhosamente no ano de 2005, quando então apresentamos o espetáculo Dar Não Dói o que Dói é Resistir no Festival de Inverno, foi uma das melhores apresentações que o Tá na Rua desta última geração realizou.
A cidade está em clima de guerra política, Veneziano (PMDB) contra o Gordinho (PSDB), disputam o segundo turno das eleições, as casas, os carros, a cidade toda está tomada pelas cores vermelha e amarela, os candidatos estão tecnicamente empatados e disputam cada voto. Para piorar a situação a cidade é a única do Estado em que acontece 2º turno, assim, todos os cabos eleitorais do Estado estão aqui para ajudar na campanha. Foi solicitada a presença do exército nacional para conter a violência e a compra de votos. Hoje acontece um debate decisivo, que havia sido proibido pelo Ministério Público (acreditam que pode incitar mais ainda o povo), mas a decisão foi revogada. Na cidade se fala até em toque de recolher e presença de helicóptero no fim de semana para rastrear a compra de votos, me parece que as pessoas que querem vender seus votos devem pendurar algo na porta para receber o dinheiro.
Chegamos meio a esta loucura, ficou acertado que toda as atividades da Une seriam no dia 24/10 (sexta-feira) na Praça da Bandeira (local que apresentamos em 2005) pois a Universidade estaria fechada por conta das eleições, de qualquer forma necessitávamos fazer algum tipo de intervenção no interior da Universidade, por isso, no dia 23, fomos fazer um cortejo para divulgar a atividade do dia 24. Cortejamos primeiro para a Universidade Federal e depois fomos para a Estadual, nesta estava acontecendo um encontro do grupo de extensão em enfermagem aí foi irresistível, abrimos uma roda e contamos com a ajuda dos alunos a narrativa do Plano de Saúde, foi muito divertido!!! Saímos de lá melhores, tenho que contar que estávamos quase todos passando mal por conta da comida do dia anterior...Missão cumprida!! À noite fomos na praça fazer o reconhecimento do espaço, que já estava bem limitado por conta de um palco que iriam montar para a realização dos shows noturnos, a praça foi dividida ao meio, ficamos então com um dos lados.
Acordamos cedo e fomos para a praça, combinamos de cortejar a praça toda e depois abrir a roda, só que ao chegarmos já começamos a dançar e ai já não tinha mais como sair, a grande roda formou-se e o espetáculo já havia começado. O Pimpolho entrou narrando e falou que nós estávamos ali hoje para falar de amor que de política era só eles ligarem a televisão, a cidade estava transpirando isso então para refrescar íamos falar deste nobre e importante sentimento do povo que é o amor. Apresentamos o Campônio e o Ébrio, foi muito bonito, apesar de algumas falhas de entrada (em especial no Ébrio); depois anunciamos o circo e o Emerson e o Otávio fizeram um lindo número de bola de contato.
Ao meio dia estávamos novamente na praça para nossa segunda apresentação, enquanto preparávamos o material o Herculano começou a dançar e o Aldo a narrar, ele fez uma drag, depois dançou Greese e eu entrei fazendo o homem. Depois fez um número do Michael Jackson que era preto e depois ficou branco, então veio o número da Madonna feito pela Ju. Quer dizer, a essa altura o espetáculo novamente já havia começado e a roda se formado. A trouxa entrou, o material foi apresentado. Ao som do Carinhoso um senhor entrou para dançar com a Fernanda e ao final pediu para falar no microfone e disse: Eu queria agradecer estas meninas bonitas de dançarem na praça, que eu amo esta praça da Bandeira que tem sempre festa, Festa de São João, Festival de Inverno, Carnaval, sempre tem coisa boa acontecendo, vocês devem sempre voltar!!! Foi o máximo!!
Falamos sobre o momento que a cidade está vivendo com as eleições, a importância do voto consciente e que qualquer um que seja eleito a prioridade deve ser o povo e então entrou a música Bandeira Branca, o Herculano estava com a bandeira branca e a Fernanda com a do Brasil, eu e a Ju entramos com a vermelha (PMDB) e amarela (PSDB) e dançamos todos juntos o público aplaudiu muito.
Agradeci estar novamente naquela cidade e ser tão bem recebida, disse que nossa passagem por aqui foi muito importante que temos ótimas recordações da cidade e praça. Então, contei-lhes a história do Inferno Nacional, comecei muito calma, mas aos poucos fui ficando nervosa e não soube contornar os imprevistos, logo nas primeiras entradas dos personagens, diabo e departamento dos EUA, o som entrou tarde e baixo, a música dos EUA entrou errada, o microfone estava falhando e tudo ficou meio atravessado, deveria ter parado e repetido ou brincado (na avaliação falamos sobre isso), mas creio que a minha inexperiência pesou. Da metade para o fim as coisas engrenaram e a narrativa fechou muito bem.
O Pimpolho falou que queríamos contar a história de um repentista descrita por João do Vale na música Minha Históra, foi maravilhoso, o público se emocionou muito, esta música fala que os amigos do repentista que estudaram viraram doutores, que ele que não pode estudar mais tinha talento para o repente era admirado por seus amigos e pode seguir uma vida digna, mas os que não puderam estudar e não tinham seu talento que fim levaram...ao fim da música entramos com os instrumentos tocando e cantando Asa Branca, o público cantou conosco e acompanhou com palmas, a bolha estava totalmente formada. Muitas pessoas ainda hoje morrem no sertão: “Por falta d'água perdi meu gado morreu de sede meu alasão...”
Muitas pessoas ainda sofrem com a exclusão e a pobreza, mas nós artistas acreditamos na possibilidade de um outro mundo, nos quais nossas utopias são possíveis, e em nossos encontros de celebração com o povo nosso ofício é tentar organizar este mundo desajustado, no teatro tudo é possível e então entra a Esperança para fechar com chave de ouro. Fomos muito aplaudidos e muitas pessoas vieram falar conosco depois da apresentação. Queriam saber se íamos fazer mais, quando voltaríamos...
A rua é sempre a rua, as experiências no interior da universidade são sempre muito válidas, principalmente quando conseguimos realizar as oficinas, mas quando saímos para as ruas, tudo se renova, o público heterogêneo nos coloca em movimento e contribui das maneiras mais inesperadas, além do afeto que emitem e nos afaga.
Depois da nossa apresentação, um senhor conhecido na cidade, Baixinho do Pandeiro, com um belo chapéu, tocou seu pandeiro e cantou lindamente, levamos o microfone até ele e uma roda se formou para escutá-lo, ele cantou umas 4 músicas, uma delas do Jackson do Pandeiro. A cultura popular se manifesta nas ruas aonde o espaço ainda é público!!!
Campina Grande e a Praça da Bandeira são maravilhosos, é só bater um tambor que a roda já se forma, o público é muito generoso, desejo voltar a esta praça por muitas outras vezes...até breve!!!
Ana Cândida

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