terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salve Salvador!!!






7/11/2008
Salvador, chagamos à Bahia no dia 6/11 depois de uma viagem noturna vindo de Aracajú, semana puxada, 3 estados em uma semana, UFA!!!
No mesmo dia, pela manhã, fomos (praticamente sem dormir) para a UFBA (Universidade Federal da Bahia) fazer a pré-produção, achávamos fundamental fechar uma oficina com o pessoal de artes cênicas. O diretor da escola de teatro é o Daniel Vaz, carioca que conhece bem o trabalho do Amir, isso facilitou nossa entrada, ele nos recebeu muito bem, disse que os cursos estão em fase final (apresentação de espetáculos e seminário de conclusão) que seria difícil conseguir a despensa dos alunos mas que iríamos tentar. No período da manhã existem 3 turmas de 20 alunos de Interpretação (conseguimos falar com uma turma) e à tarde têm 3 turmas de Licenciatura de 25 alunos, por este motivo retornamos a Universidade a tarde para falar com os alunos e negociar com os professores. Fizemos o convite, em uma das salas quando entramos estavam passando um slide que entre outros grupos falava do Tá na Rua, muita coincidência!!!, mas ficamos sem saber se seriam dispensados pois os professores do dia seguinte não estavam lá. Vamos fazer de qualquer jeito alguém há de aparecer!!
Outra negociação foi o espaço, o Daniel nos ofereceu uma sala, mas que achamos pequena e escura, o ideal seria o jardim, mas ele disse que os alunos teriam aula de teoria e o barulho poderia atrapalhar. Para entrar num acordo sugerimos o estacionamento que ficava mais afastado das salas de aula, não era tão belo como o jardim mas era um bom espaço.
Neste dia reencontramos nossos queridos Disnael e Fernanda Machado que trouxeram uma energia nova e maravilhosa para todos!!!
Dia 7, dia de atividade, acordamos cedo (7:30h) e fomos para a universidade no Campus do PAC (não é o programa do governo!!) onde estava montada a tenda da Une e teria parte da programação da Caravana. Lá faríamos uma apresentação às 9:00 horas. Ocorre que o local estava vazio, e seria um desgaste desnecessário realizar a atividade ali. A Universidade estava mobilizada em um dos prédios onde ocorria a apuração das eleições do DCE, três chapas concorreram, a que estava ganhando era à favor da Une mas da oposição à gestão atual. Como alternativa tínhamos fazer um cortejo pelos corredores e prédios onde havia uma grande concentração de gente em virtude do horário de intervalo e a apuração.
E o Cortejo feito foi ótimo, passamos por dois prédios abrimos duas grandes rodas, falamos a programação. A recepção dos alunos foi a melhor possível, eles dançaram e cantaram conosco. Estávamos meio ressabiados de ir até o local da apuração por estarmos na Caravana da Une, mas foi super tranquilo, afinal somos o teatro e não a Une ou qualquer ente político, os alunos entendem isso, em todas as universidades que houveram manifestações contra a Une nosso trabalho foi respeitado, eles até falavam mal às vezes antes de ver (por que a Une estava levando palhaço para Universidade?), mas depois que nos apresentávamos ficava tudo artisticamente explicado e eles compreendiam ou tinham que engolir.
A Fernanda Machado fez conosco, foi muito bom ter a alegria dela. E mais, a Liana, que havia encontrado o Disna no aeroporto e sabendo que faríamos atividades na Universidade não resistiu e deu uma escapada do evento que estava para brincar conosco.
Cumprida a primeira etapa fomos almoçar e em seguida nos dirigimos para o Campus de artes cênicas. Lá não teve jeito, invadimos o jardim e montamos o equipamento, ali seria o local da oficina. Quando o Daniel chegou nosso circo já estava armado e ele não se opôs, sabia que seria importante para os alunos entrarem em contato com o teatro de rua.
Os alunos foram chegando, uma turma foi dispensada, abrimos a roda falando o mínimo possível: Tem música, roupas e pessoas, dancem, brinquem e se divirtam!! E assim foi, é sempre difícil desmontar os grupinhos e tirar algumas pessoas do “espaço psicótico”, encarnam um personagem e ficam presas sem entrar em contato com o mundo ao seu redor. Aos poucos fomos abrindo os espaços, as rodas apareceram, os trenzinhos, os coletivos, os cortejos, em alguns momentos fizemos algumas revoadas pelos jardins e estacionamento
Os funcionários pareciam não acreditar no que estava acontecendo, estavam maravilhados, um deles disse que nunca tinha visto aquilo na Universidade, muitos transeuntes entraram na Universidade para ver o que estava acontecendo, alunos (uns 20) de um colégio que ficava do outro lado da rua entraram, ficaram observando, a mulherada foi pra cima deles que ficaram meio acoados mas logo estraram na roda e dançaram conosco.
Um dos momentos mais lindos da oficina foi quando após o Herculano retirar a máscara e soltar o cabelo de uma das alunas, ela foi suspensa por dois garotos e atrás formou-se um enorme cortejo, ela gritava liberdade, revolução!!! Depois na avaliação fomos saber o quanto isso era significante para aquele coletivo.
Fizemos 1 hora e meia de oficina e ao encerrar formamos nossa roda de avaliação, os alunos olhavam desconfiados querendo racionalizar e entender para o que servia a oficina, quando começava o teatro, qual era a técnica a metodologia, alguns falaram que dava para se soltar, entrar em contato com o outro, fazer cenas, alguns atores foram fazer a oficina de personagem (vestidos e maquiados) isso os prendeu e na avaliação comentaram sobre isso.
Falamos que aquele era nosso treinamento que com o passar do tempo as regras iam surgindo naturalmente, o jogo ia ficando mais afinado, a troca aumentava, que nem sempre nossa idéia prevalece, que temos que abrir mão do que estamos fazendo para entrar em contato com o outro. Na rua estamos sujeitos a todo tipo de interferência daí estarmos preparados para reagir ao estímulo externo, abandonar o nosso para fazer o do outro. Falamos sobre a dramaturgia aberta na qual a intervenção é bem vinda.
Eles queriam saber o que era teatro de rua, a isso recebemos a generosa resposta da Tainá, do grupo Filhos da Rua aqui de Salvador, ela ficou sabendo que o Tá na Rua estaria na Universidade e foi até lá, disse que tinha anos que não pisava na academia e que o Tá na Rua a conduziu novamente àquele espaço, disse aos alunos que era um privilégio para eles ter uma oficina com o Tá na Rua, falou sobre o Amir e outros grupos referências do teatro de rua, sobre o que é entrar em contato com o público na rua, contou histórias de interferências de populares, problemas com a polícia, mas sobre tudo da paixão que é fazer este teatro.
Os alunos falaram que não tinham aulas sobre o teatro de rua, e que nunca tinham tido uma oficina como essa, uma aluna disse que não tinha liberdade dentro da universidade que era tudo muito careta, que estava perdendo a alegria de fazer teatro e que pensava em trancar a faculdade, outras duas se manifestaram no mesmo sentido. Foi muito importante promover o encontro da academia com um grupo como o Filhos da Rua, deixamos uma orientação/alternativa para os universitários que disseram que iam procurar a Taina. Deixamos o livro e o DVD do Tá na Rua com o Daniel à disposição dos alunos.
A Taina falou sobre a importância que era tocar uma pessoa que fosse da universidade para o teatro de rua, que achava que iria encontrar menos pessoas fazendo oficina. Tenho certeza que mexemos com a cabeça de algumas pessoas e certamente com as nossas também, foi um aprendizado escutar a Taina e os alunos falando, tudo reafirma a importância deste contato próximo que a oficina proporciona.
Entendemos que este é um dos papéis do Tá na Rua nesta Caravana da Une, fazer desaparecer ainda que momentaneamente os muros da Universidade que separam a academia do popular. Separam o brasileiro do brasileiro!!!
Foi tão forte para mim a passagem pelo Pelourinho, até então apreciamos diversas obras da natureza (rios, florestas, mares, animais, solos), só que agora em Salvador vemos além da natureza a obra do homem, a arquitetura e o povo traduzem grande parte da história do nosso país, que são também nossas raízes, fiquei emocionada, de repente meu corpo se encheu de uma força e me deu orgulho de ser brasileiro!!!
Ana Cândida

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