sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Belém do Pará

Belém do Pará, sexta-feira 03/10/08

Chegamos aqui em Belém na quarta–feira à tarde, um dia de folga.
Começou tudo ótimo, o hotel é muito bom, no quarto duplo: duas camas de casal. Essa é uma das características da vida, né? Uns dias sim, outros não e do artista: um dia pobre, um dia rico. Assim anda sendo a caravana, pobres e ricos a cada quatro dias em um destino, em uma cama. Os dois últimos hotéis eram ruins e o último podemos até chamar de cafofinho, mas a vida dá voltas e é de um 4 estrelas que vos falo.

Na quinta-feira nós fomos reconhecer o espaço da faculdade. A faculdade era a UNAMA, privada. Na faculdade Federal daqui a caravana estava com pouca articulação pelo que soube. A produção externa da Caravana está meio mal das pernas, a nossa e a da UNE, é uma pena que nós não estamos conseguindo mobilizar mais as pessoas de teatro das regiões, as praças, as prefeituras para fazer com que o diálogo da rua com a faculdade e da rua com a caravana se estabeleça melhor e a gente fique mais feliz. Enfim, sempre que podemos damos um pulo em nosso habitat natural: os espaços abertos, públicos.

Hoje de manhã fomos fazer um cortejo de recepção e introdução ao debate da manhã, depois ao meio –dia iríamos percorrer de novo a faculdade, a nossa idéia inicial era contar histórias na porta da Universidade e de repente dar uma fugidinha para as ruas.

O produtor Gui, nos disse que a faculdade estava meio vazia e lá não tinha bandejão, logo Eu, Luciana e Ana quisemos ir para a rua, O Aldo e o Pimpolho resistiram, até agora não sei porque, a gente não conversou muito, simplesmente as mulheres foram com vontade e os homens sem vontade. Essa secção anda sendo constante, essa eu acredito ser uma crise no coletivo: A TENSÃO SEXUAL. Um lado versus o outro, uma coisa meio constante no grupo em geral, na relação com o Amir Haddad e com o mundo.

Na época de Shakespeare as mulheres não faziam teatro, eram proibidas. Os homens interpretavam os papéis femininos e masculinos, se deliciavam, podiam lidar com sua Anima (lado feminino) sem que ninguém os enchesse o saco, inclusive acredito até que fosse uma virtude, pelo menos no teatro. Lidar com a Anima acho que ainda continua a ser virtude no teatro o que mudou é que agora AS MULHERES PODEM FAZER TEATRO.

Quem foi essa primeira mulher? Quem disse que era interessante as mulheres sairem de suas casas, de suas proteções e irem fazer teatro, trabalhar? Só sei que quanto mais um lado se desenvolve o outro se inibe, os homens ficam inseguros, as mulheres ficam nervosas com medo de perder um lugar conquistado e ainda muito perdido.

EU ADORMEÇO ÀS MARGENS DE UMA MULHER: EU ADORMEÇO ÀS MARGENS DE UM ABISMO.
EDUARDO GALEANO

Essa frase acho que é propícia, inclusive nós mulheres temos um orgão proporcionador de prazeres que nada mais é que um buraco e nossos queridos homens têm uma lança, uma pretuberância, que entra nesse desconhecido, como um desbravador.

Enfim, fomos pra Rua e nos deparamos com uma arena linda, pequena, no Centro de Belém ao lado da faculdade, a gente ocupou a arena e os carros começaram a buzinar era mágico, era hora do almoço, ninguém estava pela praça, os raios do circo estavam atingindo outras dimensões.

Saímos logo. Precisamos de mais sintonia.

Depois dessa experiência, nós fomos para o hotel e o Aldo e a Ana voltaram para o Rio depois do almoço, bom agora era um outro coletivo para a noite: Luciana, Ju, Pimpolho e Eu.

Pimpolho estava inseguro em abrir a roda, disse: - po, mas tô eu sozinho contra vocês!

Contra? A gente se assustou. Mas é isso mesmo. Homens X Mulheres.

PARA A SORTE DO MR PIMPOLHO o show de Carimbó já estava começando quando a gente chegou (houve um atraso de 40 min da Van) e nós simplesmente nos fantasiamos e dançamos Carimbó. ÓTIMO, RELAXANTE E NECESSÁRIO.

Fernanda Paixão

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